Pressionada e investigada por conta da gripe suína, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anuncia que irá rever suas regras para a declaração de futuras pandemias. Nesta segunda-feira (18), a diretora da entidade, Margaret Chan, admitiu que começará a rever quais são os critérios para a declaração de uma pandemia. Nesta terça-feira (19), o Parlamento do Conselho da Europa inicia uma investigação para apurar o comportamento da OMS e o fato de que alguns de seus cientistas estiveram na folha de pagamento de empresas que hoje são vendedoras de remédios contra a gripe.
A acusação na Europa contra a OMS veio depois que a imprensa dinamarquesa obteve oficialmente informações de que membros do grupo criado para sugerir medidas à entidade era formada, entre outras pessoas, por cientistas financiados por empresas do setor. Há oito meses, a OMS decretou que o vírus H1N1 havia saído do controle e que o mundo vivia a primeira pandemia do século XXI. Para chegar a essa declaração, a OMS tinha como critério apenas a difusão em mais de dois continentes do vírus, o que de fato ocorreu com o H1N1.
Países passaram a gastar milhões para se preparar e a indústria farmacêutica focou toda sua atenção na nova doença. Menos de um ano depois, o saldo do vírus é outro. As mortes foram bem mais reduzidas que se esperava, enquanto milhões de vacinas passaram a ficar encalhadas nos depósitos dos governos. Só a França gastou mais de 2 bilhões de euros em sua preparação.
Agora, parlamentares europeus querem saber como é que a OMS chegou a declarar a pandemia, elevando ao nível 6 em sua escala de alerta global. A investigação focará principalmente no papel do Grupo Estratégico de Especialistas em Imunização (SAGE, na sigla em inglês). Pelas regras, todos os especialistas são obrigados a informar de onde recebem recursos para seus trabalhos e centros de pesquisas.
Mas o jornal escandinavo "Information" se utilizou de uma lei de liberdade de informação do para obter dados sobre as doações recebidas por um dos institutos médicos. Os dados comprovaram que o membro da SAGE, o finlandês Juhani Eskola, recebeu em seu instituto mais de US$ 9 milhões em financiamento da GlaxoSmithKline, uma das empresas que fabrica a vacina contra a gripe suína. O governo finlandês também iniciou investigações. Mas Eskola insistiu que não havia um conflito de interesse.
Mesmo assim, os parlamentares europeus querem agora mais detalhes sobre o dinheiro recebido pelos cientistas que aconselham a OMS e se esses recursos tiveram alguma influência. Na entidade em Genebra, as acusações são consideradas uma ofensa Chan deixou claro que "não há qualquer inclinação a tomar decisões a favor de uma indústria".
"Sr. Gripe"
Outro cientista na mira dos parlamentares é o holandês Albert Osterhaus, considerado como o "Sr. Gripe" por seus comentários alarmistas. Ele também faz parte do comitê de aconselhamento da OMS. Os deputados holandeses já começaram a investigar sua relação com a indústria e o fato de ter recebido bolsas, financiamento e contribuições da GSK, Sanofi, Novartis e outras empresas.
No Reino Unido, o cientista responsável por elaborar sugestões ao Ministério da Saúde, Roy Anderson, também passou a ser avaliado por ser um ex-diretor da GSK.
Diante das revelações, o presidente da Comissão de Saúde do Conselho da Europa, deputado alemão Wolfgang Wodarg, conseguiu convencer seus colegas a iniciar a investigação. "A declaração da pandemia aparenta ser o maior escândalo médico até agora do século", alarmou o deputado e médico.
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