Nas eleições para o parlamento alemão do último domingo, duas possíveis coalizões de governo saíram com mais chances. Ambas envolvem os partidos que ficaram em terceiro e quarto lugar, os ambientalistas do Partido Verde e os liberais do Partido Liberal Democrático (FDP), e que portanto serão o fiel da balança da formação do novo governo.
No entanto, diferenças de posicionamento sobre o clima entre as duas legendas podem ser um obstáculo às negociações, que são previstas para levar semanas ou até meses.
A aliança vista como mais provável nesse momento seria formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), que venceu a eleição, com os Verdes e o FDP, tendo o social-democrata Olaf Scholz como chanceler. Essa coalizão, chamada de "semáforo" pelas cores dos partidos envolvidos, é a favorita entre os eleitores alemães, segundo pesquisas.
Na segunda opção, Verdes e FDP seriam aliados dos conservadores do bloco formado pela União Democrata Crista (CDU) e a União Social Cristã (CSU), e o chanceler seria Armin Laschet, na coalizão apelidada de "Jamaica", também devido às cores dos partidos, as mesmas da bandeira do país caribenho.
Uma repetição do governo dos últimos oito anos, entre CDU/CSU e SPD, a chamada Grande Coalizão, é menos provável, visto que os líderes desses partidos deixaram claro que não pretendem voltar a formar essa aliança. Ainda assim, essa é uma opção possível caso as outras negociações fracassem.
Os dois partidos menores que serão cruciais para a formação do novo governo alemão têm posicionamentos divergentes não apenas em relação às metas climáticas para a Alemanha, mas também sobre o papel do Estado na economia. Nesse sentido, os Verdes são mais alinhados ao SPD, enquanto o FDP tem mais pontos em comum com a CDU.
A líder dos Verdes, a candidata Annalena Baerbock, disse que "o próximo governo precisa ser um governo do clima". O seu partido defende maiores investimentos na economia verde do país e um maior papel do Estado na economia. Além disso, a agenda dos Verdes propõe antecipar o prazo para que a Alemanha abandone as usinas de carvão de 2038 para 2030.
Já o FDP aposta em uma solução diferente. Em entrevista à emissora alemã ARD, Volker Wissing, secretário-geral do partido afirmou que "as pessoas não querem proteção do clima às custas da prosperidade; e as pessoas também não querem a prosperidade às custas da natureza e do meio ambiente."
"É por isso que precisamos unir essas duas coisas e trabalhar para uma solução para reconciliar a proteção do clima e a prosperidade", disse Wissing.
Verdes e FDP ainda discordam sobre o prazo para que a Alemanha atinja a neutralidade de carbono - para os Verdes, a meta deveria ser alcançada em 2040, e para os liberais, em 2050. A meta atual do governo alemão é 2045.
Os Verdes defendem a criação de um Ministério do Clima na Alemanha, com poder de veto sobre qualquer política de outros ministérios para garantir que o governo alemão esteja em linha com o Acordo de Paris para o clima. O FDP concorda com a criação do ministério, mas sem esse poder de veto.
O FDP e a União de Laschet concordam ainda em evitar o aumento de impostos e com uma estratégia climática baseada em melhorias tecnológicas e na redução da burocracia para construção de parques eólicos ou solares.
Ambos os partidos barganharão para ter o Ministério das Finanças em qualquer coalizão.
A questão climática é muito importante para os alemães, de acordo com pesquisas que mostraram que quase a metade dos eleitores do país tinham esse tópico como o mais importante para decidir em quem votariam nessas eleições.
O tema ganhou ainda mais relevância no debate eleitoral quando regiões da Alemanha foram devastadas por fortes tempestades e enchentes em julho.
Os dois partidos determinantes para a formação do próximo governo alemão anunciaram a intenção de conversar sobre suas convergências e incompatibilidades.
A primeira reunião foi feita na terça-feira, com os quatro líderes dos dois partidos: Annalena Baerbock e Robert Habeck, dos Verdes, e Christian Lindner e Volker Wissing, respectivamente líder e secretário-geral do FDP.
Após o encontro, os quatro líderes postaram uma foto em suas redes sociais. Christian Lindner disse na legenda da publicação: "Na procura por um novo governo, estamos buscando um terreno comum e pontes sobre as nossas divisões. E estamos até encontrando algumas dessas coisas. Tempos emocionantes".