Polêmica sobre a "camisinha" esquenta debate nas Filipinas

A posição do Papa Bento XVI, que admitiu o uso do preservativo em certos casos, provocou um vivo debate nas Filipinas, o maior país católico da Ásia, onde a Igreja e o governo divergem sobre a questão dos métodos anticoncepcionais.

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OMS elogia citação de Bento XVI

Berlim - A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mar­­garet Chan, elogiou ontem o fato de o Papa Bento XVI admitir a utilização de preservativos em certos casos para reduzir o risco de transmissão do vírus da aids. "Saú­­do essa posição. Pela primeira vez, a utilização de preservativos em certas circunstâncias é ad­­mitida pelo Vaticano. É uma boa notícia e um bom começo", afirmou Chan, em Berlim, onde apresentou o relatório anual de sua organização.

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São Paulo - A Conferência Nacional dos Bis­­pos do Brasil (CNBB) , porta-voz da Igreja Católica no país, evitou ontem a polêmica criada em torno da declaração do Papa Bento XVI, que admitiu a utilização de preservativos em certos casos pa­­ra reduzir o risco de transmissão do vírus da aids.

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Em um livro que será lançado hoje na Alemanha e na Itália, Ben­­to XVI afirma que o uso de preservativos é aceitável "em certos casos", especialmente pa­­ra reduzir o risco de infecção do HIV, mas insiste que não é a "verdadeira" maneira para combater a aids – já que para ele é necessária uma "humanização da se­­xualidade".

Uma porta-voz disse que a CNBB esperará até ter o livro original em mãos para comentar as declarações. Já o governo brasileiro elogiou as declarações do papa, que classificou como "mui­­to positivas". "[Elas] nos permitem abrir uma discussão entre grupos católicos que atuam na prevenção da aids", disse Edu­­ardo Barbosa, diretor-adjunto do Departamento de Doenças Se­­xual­­mente Transmissíveis e Aids, do Ministério da Saúde.

Inclusão

Segundo Barbosa, ao admitir o uso de preservativos em casos co­­mo a prostituição, o Papa permitiu que "tenhamos a possibilidade de incluir os preservativos mas­­culinos e femininos nas ações que desenvolvemos com grupos co­­mo a Pastoral da DST/Aids, que depende da CNBB".

"Assim, poderemos incluir estes importantes agentes católicos em discussões sobre o sexo fora do casamento, por exemplo, e as possíveis ações sociais de pre­­venção de doenças. A credibilidade do Papa abriu este espaço", continuou.

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Livro

As declarações de Bento XVI sobre o uso de "camisinha" foram dadas ao jornalista alemão Peter Seewald e estão no livro Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos. Leia trecho:

"Peter Seewald – Na África, Vossa Santidade afirmou que a doutrina tradicional da Igreja tinha revelado ser o caminho mais seguro para conter a propagação da aids. Os críticos, provenientes também da Igreja, dizem, pelo contrário, que é uma loucura proibir a utilização de preservativos a uma população ameaçada pela aids.

Papa – Em termos jornalísticos, a viagem à África foi totalmente ofuscada por uma única frase. Perguntaram-me porque é que, no domínio da aids, a Igreja Católica assume uma posição irrealista e sem efeito – uma pergunta que considerei realmente provocatória, porque ela [a Igreja] faz mais do que todos os outros. E mantenho o que disse. Faz mais porque é a única instituição que está muito próxima e muito concretamente junto das pessoas, agindo preventivamente, educando, ajudando, aconselhando, acompanhando. Faz mais porque trata como mais ninguém tantos doentes com aids e, em especial, crianças doentes com aids. Pude visitar uma dessas unidades hospitalares e falar com os doentes.

Essa foi a verdadeira resposta: a Igreja faz mais do que os outros porque não se limita a falar da tribuna que é o jornal, mas ajuda as irmãs e os irmãos no terreno. Não tinha, nesse contexto, dado a minha opinião em geral quanto à questão dos preservativos, mas apenas dito – e foi isso que provocou um grande escândalo – que não se pode resolver o problema com a distribuição de preservativos. É preciso fazer muito mais. Temos de estar próximos das pessoas, orientá-las, ajudá-las; e isso quer antes, quer depois de uma doença.

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Efetivamente, acontece que, onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. Tem de se fazer mais. Desenvolveu-se entretanto, precisamente no domínio secular, a chamada teoria ABC, que defende "Abstinence – Be faithful – Condom" ("Abstinência – Fidelidade – Preservativo"), sendo que o preservativo só deve ser entendido como uma alternativa quando os outros dois não resultam. Ou seja, a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa.

Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade."

Peter Seewald – Quer isso dizer que, em princípio, a Igreja Católica não é contra a utilização de preservativos?

Papa – É evidente que ela não a considera uma solução verdadeira e moral. Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana."