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Ao longo dessa eleição, têm aparecido sinais do nascimento de uma coalizão de pessoas infelizes com os rumos radicais que os Estados Unidos tomaram. Independentemente de como a apuração termine, esse potencial realinhamento político é inegável.
Hispânicos e trabalhadores menos qualificados estão se distanciando da retórica da esquerda e da turma do “cortem recursos da polícia”. Não sei quem imaginou que violência e depredação nas ruas de tantas cidades não teriam consequências políticas. Mas tiveram, e uniram americanos comuns de uma forma bastante positiva.
Nosso ano eleitoral foi dominado por revoltas do Antifa de um lado e teorias da conspiração do QAnon de outro. Entre marxistas incendiando prédios e multidões acreditando que nosso país é comandado por um grupo secreto de pedófilos, é difícil não temer pelo nosso futuro.
Não sei quem imaginou que violência e depredação nas ruas de tantas cidades não teriam consequências políticas. Mas tiveram, e uniram americanos comuns de uma forma bastante positiva
A esquerda radical, com a ajuda da grande imprensa e de parte do mundo dos negócios, trabalhou duro para intensificar as rivalidades raciais nos Estados Unidos. Desde a mancha da escravidão, séculos atrás, a questão racial tem se colocado no caminho de tudo o que a América deveria representar.
Líderes dos direitos civis, como Martin Luther King Jr., lutaram para superar essas questões e nos pediram para ver o caráter de cada um, e não a cor da pele. Essa premissa básica – um fundamento do pensamento liberal americano – esteve sob ataque neste ano. E a melhor parte dessa eleição tem sido a derrota avassaladora desse ataque. Em vez de reforçar divisões raciais, a esquerda radical parece ter fomentado, no mínimo, algum grau de reconciliação racial. No mínimo, nossa política agora está ligeiramente – e, em alguns casos, mais que ligeiramente – menos dividida em termos puramente raciais. É a maior das vitórias que poderíamos ter esperado, ainda mais levando em conta o ponto em que nos encontramos hoje.
A mudança mais considerável ocorreu na Flórida, onde a população hispânica inclui muitos cubanos e venezuelanos. Apesar de o socialismo estar se tornando mais popular entre os jovens, aqueles que tiveram uma experiência mais pessoal do que é ter um governo de esquerda se levantaram contra ele. Em 2016, Hillary Clinton venceu o voto hispânico na Flórida por uma diferença de 27 pontos. Desta vez, o presidente Trump quase conseguiu um empate. Os resultados de outros estados foram menos incríveis, mas, mesmo na Geórgia e em Ohio, o desempenho de Trump contra Biden foi pelo menos 15 pontos melhor que quando enfrentou Clinton.
E, de acordo com as pesquisas de boca de urna da CNN, Trump também aumentou seu apoio entre os negros em 4 pontos porcentuais na comparação com 2016. São ganhos importantes, ainda mais considerando esses últimos meses de polarização racial. O que está causando essa mudança?
As duas respostas mais óbvias são as preocupações com a economia e a segurança. Eleitores em todas as categorias confiam mais em Trump quando o assunto é economia e criminalidade. Apesar dos esforços da esquerda em fazer tudo virar uma discussão sobre raça, no fim das contas as questões mais básicas continuam a ser importantes para as minorias.
Por muito tempo, os americanos votaram divididos em termos raciais. Se essa tendência continuasse, a própria dinâmica demográfica transformaria o Partido Republicano em uma legenda de minorias. Essa era a esperança dos democratas para conquistar estados como a Flórida e o Texas. Mas parece que estamos começando a votar guiados mais por interesses econômicos. Os que ganham menos vinham se sentido estagnados (ou na marcha a ré), enquanto os mais ricos se beneficiavam com o comércio exterior, a automação e os ganhos da revolução nas tecnologias da informação. Mas, nos anos de Trump, pela primeira vez em muito tempo, os trabalhadores com menores salários tiveram ganhos maiores que os de classe média e alta. Os eleitores perceberam isso – é o que os resultados mostram.
Apesar dos esforços da esquerda em fazer tudo virar uma discussão sobre raça, no fim das contas as questões mais básicas continuam a ser importantes para as minorias
Isso oferece uma grande oportunidade aos republicanos. Se eles conseguirem convencer mais trabalhadores americanos, de todas as raças, nossa política estará mudada para sempre. Mas, se eles falharem nesse realinhamento, estão condenados a fracassar em um país cuja população está mudando. Um Partido Republicano focado em deixar para trás as divisões raciais e melhorar a vida dos trabalhadores é possível, baseado nos números que estamos vendo.
Encontrar uma forma de dividir melhor a prosperidade sem afetar a geração de riqueza é um desafio real. Muitos americanos se sentem deixados para trás em uma economia cada vez mais global e automatizada. Não é fácil consertar isso, mas, até agora, nossos líderes nem mesmo tentaram. Eles têm estado mais preocupados com as necessidades dos grandes grupos econômicos que dominam Washington e que prosperaram nas últimas décadas. E, nesse processo, vimos que o que é bom para as grandes empresas – especialmente as gigantes multinacionais que crescem mais fora daqui – nem sempre é bom para a América.
Muitos políticos não são nem capazes de reconhecer o problema. Eles denunciam o populismo e a baixaria que vem com ele, mas não enxergam a sua causa. Outros, que veem o que está acontecendo com o país, escolheram o caminho fácil da demagogia, oferecendo respostas superficiais e politicamente populares, em vez de soluções reais. Precisamos da terceira via: políticos inteligentes e comprometidos em buscar saídas verdadeiras para recuperar o sonho americano para todos aqueles que sentem estar distantes dele.
Vale a pena consertar nosso país, e resolver essas questões deveria ser a prioridade daqui em diante. Se os republicanos fizerem isso, poderão ser um refúgio para uma maioria mais ampla, duradoura, de trabalhadores comuns americanos de todas as raças. A esquerda teme isso mais que tudo.
Mas, se continuarmos a ignorar essa dinâmica, o resultado será provavelmente o aumento da popularidade do socialismo entre os jovens americanos, como temos visto nos últimos anos. E basta perguntar a um cubano como isso acaba.
Neil Patel é cofundador do The Daily Caller e da Fundação The Daily Caller, que treina jornalistas, faz checagem de dados e reportagens investigativas.
©2020 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.