A socialista Michelle Bachelet deverá enfrentar uma enorme pressão para fazer mudanças estruturais no sistema eleitoral, educação e impostos em seu retorno à Presidênca do Chile. A candidata, vitoriosa no segundo turno das eleições neste domingo, terá uma oportunidade histórica para mudar a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet. E o desafio de superar diferenças ideológicas dentro de sua heterogênea coalizão.
Uma das imagens mais marcantes da propaganda televisiva de Bachelet no segundo turno foi a do senador democrata Andrés Zaldivar abraçando Guillermo Teillier, deputado e presidente do Partido Comunista. A cena era impensável há alguns anos e refletiu a vitória política mais importante da socialista desde o anúncio de sua candidatura em março. Em nove meses de campanha, o médico foi capaz de reunir toda a oposição - do centro à esquerda - como nunca havia acontecido desde as primeiras eleições democráticas em 1990.
Durante a campanha eleitoral, os novos aliados tentaram se concentrar em objetivos comuns: a reforma tributária, a reforma da Constituição e da educação pública, os três pilares de Bachelet. As diferenças ideológicas que existem nesta nova coalizão, no entanto, são profundas. Não existe, por exemplo, um consenso sobre questões polêmicas como o aborto, que é penalizado no Chile.
Uma das principais questões é se a socialista, como líder do grupo, será capaz de manter a aliança unida ou se, como aconteceu em seu primeiro mandato, sustentará uma relação distante e conflitiva com o seu próprio bloco.
Não está claro como ficará configurado o mapa do poder da centro-esquerda chilena, que ganhou 68 das 120 cadeiras na Câmara dos Deputados. Alguns afirmam que os democratas-cristãos continuam sendo o elo do centro. Mas há líderes que acreditam que chegou o momento de se formar um grande partido de esquerda, como a Frente Ampla do Uruguai, o que acabaria colocando a identidade democrata em risco.
Os comunistas programaram para o sábado um Comitê Central, onde debaterão questões sobre seu futuro e sua participação no governo.
Segundo resultados divulgados pelo Conselho Diretor do Serviço Eleitoral do Chile (Servel), com 99,96% das urnas apuradas Bachelet tinha quase 3,5 milhões, ou 62,16%, dos votos, contra pouco mais de 2,1 milhões, ou 37,83%, para a candidata governista e adversária Evelyn Matthei.