Os ministros das Relações Exteriores dos Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Turquia e Catar, bem como da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), realizaram uma reunião virtual nesta segunda-feira para coordenar os próximos passos em relação ao Afeganistão após a retirada de tropas internacionais.
A reunião foi chefiada pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
Em um comunicado divulgado antes da reunião, o Departamento de Estado destacou que os participantes, a quem descreveu como "aliados-chave", irão discutir "uma abordagem coordenada nos próximos dias e semanas" no Afeganistão.
Os Estados Unidos encerram hoje a fase de retirada de suas tropas de Cabul. Cerca de 5,4 mil americanos foram retirados do Afeganistão, de um total de quase 120 mil pessoas, incluindo colaboradores afegãos e cidadãos de países terceiros, que deixaram o país nas últimas duas semanas.
Os esforços de evacuação nos últimos dias ocorrem em meio a um risco crescente de ataques terroristas, principalmente após o ocorrido no aeroporto de Cabul na última quinta-feira, reivindicado pelo grupo terrorista do Estado Islâmico (EI), que deixou 13 militares americanos mortos e 18 feridos, e no qual dezenas de afegãos também foram mortos e feridos.
A Casa Branca afirmou que nem os EUA nem seus aliados têm pressa em reconhecer um governo do Talibã em um futuro próximo, após a retirada completa prevista para amanhã, o mais tardar.
Na última sexta-feira, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, reconheceu que seu país está "discutindo ativamente" se manterá uma presença diplomática no Afeganistão após essa data, mas que primeiro deve haver condições de "segurança básica" no terreno.
Além disso, citou "uma série de critérios que devem ser cumpridos" pelo futuro governo afegão para que os EUA possam "trabalhar" com ele, entre os quais mencionou o "respeito" pelos direitos de seus cidadãos, especialmente das mulheres, e que "cumpra seus compromissos antiterroristas".
No entanto, observou, isso dependerá "das ações e do comportamento" desse governo e "não de palavras".
Coalizão global
Após a reunião, uma "coalizão global" contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) foi formada, que enfatizou a decisão de continuar combatendo "ombro a ombro" para garantir a vitória "onde quer que atue".
"Continuaremos aplicando uma forte pressão antiterrorista contra o EI onde quer que atue", informou em declaração conjunta a coalizão liderada pelos Estados Unidos e que abrange mais de 70 países na luta contra os jihadistas.
Divulgada em Bruxelas pelo Serviço Europeu de Ação Externa, a declaração da coalizão sublinha que continuará a lutar com os parceiros para tomar as medidas necessárias para "assegurar a derrota duradoura" do EI, como ocorreu no Iraque e na Síria.
Dessa forma, a coalizão se propõe a aproveitar sua experiência e os esforços de seus grupos de trabalho para combater os braços do EI, entre eles o do Afeganistão, e "identificar e levar seus integrantes à justiça".
Contra este inimigo, que representa uma "perigosa ameaça", a coalizão global recorrerá a "todos os elementos do poder nacional", diz a declaração, que enumera as frentes "militar, de inteligência, diplomática, econômica e de aplicação da lei" para "garantir a derrota desta brutal organização terrorista".
No comunicado, a coalizão condena energicamente os ataques em Cabul ocorridos em 26 de agosto, nos quais "morreram civis afegãos e britânicos e membros do serviço americano por parte dos terroristas".
"A trágica perda de vidas foi agravada pelo fato de que os mortos estavam tentando evacuar ou trabalhando para concluir essa missão humanitária", conclui a nota pouco após os EUA considerarem terminada a missão no Afeganistão, após 20 anos de guerra, com a saída dos últimos aviões com suas tropas.
ONU tenta resolução no Conselho de Segurança
Mais cedo, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução sobre o Afeganistão focalizando a saída segura dos afegãos do país, a ajuda humanitária e a condenação ao terrorismo.
A China e a Rússia se abstiveram na votação da medida, criticada pela fraca rejeição das violações dos direitos humanos por parte do Talibã, que tomou o poder há pouco mais de duas semanas.
"Os olhos de todos os afegãos estão voltados para este conselho. Eles esperam um apoio claro da comunidade internacional, e esta falta de unidade é uma decepção para nós e para eles", declarou a representante francesa, Nathalie Estival-Broadhurst.
A França foi um dos países que apadrinhou o texto da resolução, ao lado de Reino Unido, Estados Unidos e Irlanda.
O próprio Secretário-Geral da ONU, António Guterres, esteve envolvido em negociações para conseguir o apoio de todos os 15 membros do conselho. Hoje, ele se reuniu sem sucesso com os cinco países permanentes e com direito de veto - EUA, Rússia, China, França e Reino Unido.
A França e o Reino Unido haviam proposto a criação de uma zona segura no aeroporto civil de Cabul, sob controle da ONU, para permitir a continuação da retirada de pessoas do Afeganistão, disse o presidente francês, Emmanuel Macron, neste domingo.
No entanto, a resolução adotada não aborda essa questão e apenas insiste na necessidade de que o Talibã permita que qualquer pessoa que deseje deixar o país o faça.
"O Conselho de Segurança espera que o Talibã honre seu compromisso de facilitar a passagem segura de afegãos e estrangeiros que desejam deixar o Afeganistão, seja hoje, amanhã ou depois de 31 de agosto (o último dia oficial da presença dos EUA no país), afirmou a representante dos EUA no Conselho de Segurança, Linda Thomas-Greenfield.
Thomas-Greenfield também destacou que o texto adotado hoje implica um "compromisso duradouro" do Conselho de Segurança para ajudar aqueles que permanecem no Afeganistão e destaca que todas as partes devem fornecer assistência humanitária e acesso livre para manter atualmente ativos.
Outro ponto-chave destacado pela diplomata americana é a insistência na "necessidade urgente de enfrentar a grave ameaça do terrorismo no Afeganistão", praticamente o único ponto em que Rússia e China concordam com outros atores internacionais.
Rússia rejeita principais pontos da resolução
A Rússia, por sua vez, justificou sua abstenção alegando que o texto ignorou suas principais preocupações no Afeganistão, incluindo a linguagem usada para identificar ameaças terroristas, bem como os danos à economia causados pela fuga de lideranças intelectuais e o bloqueio de bens econômicos.
"Durante as negociações, enfatizamos que o impacto negativo da retirada de especialistas afegãos qualificados sobre a economia afegã era inaceitável. Com essa fuga de cérebros, o país não será capaz de atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável", analisou o diplomata russo Vassily Nebenzia.
Nebenzia também acusou os EUA e outros países de usarem a resolução para culpar o Talibã pelo "fracasso" no país da Ásia Central.
"Ao mesmo tempo, podemos ver isso como uma tentativa de lançar a culpa do fracasso e colapso de 20 anos de presença dos EUA e aliados na região sobre o Talibã", acusou.
A embaixadora do Reino Unido na ONU, Dame Barbara Woodward, resumiu a resolução dizendo que com ela o Conselho de Segurança estabeleceu suas "expectativas mínimas" em relação aos rebeldes afegãos.
"Deixamos claro que o Talibã deve honrar seus próprios compromissos para garantir uma passagem segura para além de 31 de agosto. O Afeganistão nunca mais poderá se tornar um refúgio seguro para os terroristas", frisou.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”