Se suspeitas ligações de países com o Estado Islâmico é ainda assunto nebuloso, sem palavra definitiva, a lista de inimigos declarados do grupo jihadista não para de crescer e se articular. Na terça-feira (15), a Arábia Saudita havia anunciado uma “aliança militar islâmica” entre 34 nações com o objetivo de combater o terrorismo. Nesta quarta-feira, foi a vez de Estados Unidos e Rússia darem um passo fundamental no combate aos terroristas islâmicos: vão se reunir em Nova York, na sexta-feira (18), para discutir arestas que os colocam em lados opostos na questão síria.
Coalizão islâmica
A Arábia Saudita comandará 34 países islâmicos em uma “aliança militar islâmica” contra o terrorismo. O centro de operações combinadas terá como base a capital do país, Riad. A nova coalizão inclui nações com grandes exércitos, como o Egito, bem como países em guerra com militares em apuros, como a Líbia e o Iêmen. Nações africanas que sofrem com ataques de militantes como o Mali, Chade, Somália e Nigéria também fazem parte.
Em uma rara entrevista coletiva, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita e ministro da Defesa, Mohammed bin Salman, disse que a nova coalizão militar islâmica irá desenvolver mecanismos para trabalhar com outros países e organizações internacionais para apoiar os esforços contra o terrorismo. Mas ele apontou que seus esforços não seriam limitados apenas a combater o grupo Estado Islâmico.
“Atualmente, cada país muçulmano combate o terrorismo individualmente. Então, uma coordenação dos esforços é muito importante”, disse.
Moscou e Washington comandam coalizões próprias que atuam na Síria, um dos territórios ocupados pelos militantes do EI. Mas com objetivos diferentes: enquanto norte-americanos querem a derrubada de Bashar al-Assad, que comanda um regime autoritário no país, russos defendem a sua permanência – e são acusados, inclusive, de bombardear insurgentes ao governo além de jihadistas.
Um perspectiva de acordo foi encarada com otimismo após o anúncio do Ministro das Relações exteriores russo, Sergei Lavrov, “O Estado islâmico, a Frente al-Nusra e outras organizações terroristas são uma ameaça para todos nós. Hoje [quarta-feira] confirmamos nosso compromisso em acabar com este mal”, disse Lavrov, em uma decisão tomada após reunião de John Kerry, secretário de Estado dos EUA, com Vladimir Putin, presidente da Rússia, em Moscou.
Revolução no terror
A série de ataques articulados em Paris, que mataram 130 pessoas, e ameaça constante da ação de “lobos solitários” inspirados na ideologia distorcida dos islamitas sunitas do EI parecem ter sido a gota d’água para os serviços de inteligência mudarem o grupo de patamar. Estes jihadistas Estado Islâmico (EI) “se parece com um Estado” e classificá-lo como organização “terrorista” minimiza a amplitude do problema, afirmou o diretor do serviço de inteligência interno da Alemanha, Hans-Georg Maassen.
Para ele, o EI não é comparável a organizações como a Fração do Exército Vermelho, que com sua violência de extrema-esquerda abalou a Alemanha nos anos 1970 e 1980 do século passado. “O EI é uma formação que se parece com um Estado e que deseja executar uma guerra contra nós”, afirmou.
Para outro especialista, James Comey, diretor do FBI, o Estado Islâmico ‘revolucionou’ o terrorismo ao procurar inspirar ataques de pequena escala cometidos por indivíduos em todo o mundo através de redes sociais, de comunicações criptografadas e de uma propaganda sofisticada.
“A Al Qaeda de nossos pais era um modelo muito diferente da ameaça que enfrentamos hoje”, disse Comey em uma conferência de contra-terrorismo na cidade de Nova York. Ele afirmou que, atualmente, o FBI tem “centenas” de investigações em curso em todos os 50 Estados do país envolvendo tramas em potencial inspiradas pelo Estado Islâmico.
Comey disse que o Estado Islâmico aperfeiçoou o uso das mídias sociais, e o Twitter em particular, para fazer contato com possíveis seguidores nos EUA e em outros locais. “O Twitter funciona para vender livros, divulgar filmes, e funciona para terceirizar o terrorismo -- para vender a morte”, declarou Comey.
A facção sunita também emprega criptografia “de usuário a usuário” quando se comunica com indivíduos que acredita estarem dispostos a cometer massacres em seu nome, segundo o diretor. Isso tem representado um desafio significativo para os investigadores, que muitas vezes se deparam com limitações mesmo de posse de mandados judiciais que lhes dão acesso a equipamentos.
Comey afirmou estar convencido de que as forças da lei e as empresas de tecnologia podem trabalhar juntas para resolver o problema sem comprometer a privacidade pessoal.“Não vamos invadir a Internet. Não vamos ameaçar a segurança das pessoas”.