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Coletes amarelos: uma revolta fiscal na França

Estudantes se juntam aos protestos dos coletes amarelos na França | JEAN-PHILIPPE KSIAZEK/
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Estudantes se juntam aos protestos dos coletes amarelos na França (Foto: JEAN-PHILIPPE KSIAZEK/ AFP)

Finalmente, a França tem um motim de boa-fé da classe trabalhadora, em vez do habitual – uma multidão de estudantes burgueses em nome de uma classe trabalhadora imaginária.

Eles estão vestindo os coletes amarelos que todos os motoristas são obrigados a vestir no caso de seu carro quebrar. O protesto começou com indignação contra a imposição de novas taxas de combustível, que atingiram fortemente os cidadãos que moram longe das metrópoles. O governo já voltou atrás em relação aos impostos , mas as pessoas ainda estão nas ruas e suas queixas estão se multiplicando.

Caminhoneiros e fazendeiros franceses estão convocando uma greve em apoio aos coletes amarelos. O governo Macron está procurando “líderes” que possam falar por esse movimento e com quem possa negociar. Esta é a política francesa como a conhecemos, amamos e tememos; onde a fé na eficácia das instituições democráticas é baixa e a fé na raiva demótica um pouco mais elevada. 

Finalmente, uma Revolução das Cores chega a um governo ocidental, que definitivamente não é apoiada ou coordenada pelo Departamento de Estado dos EUA. 

Ah, eu sei que isso é uma coisa e tanto a se dizer. Mas do que mais chamar o protesto dos Coletes Amarelos? Como as Revoluções de Cores da Europa Oriental, agora ela se torna uma marca global para uma variedade de causas que estão sendo apresentadas contra um estado centralizado que parece não ser responsivo. Você pode ter uma noção do pânico em um editorial do jornal The Guardian que começa: "Pelo bem da Europa, Emmanuel Macron precisa de ajuda".

Macron provou ser um governante francês fantasticamente impopular, embora muitos acreditem que sua impopularidade é um sinal de sua coragem política. Muito antes dos protestos dos coletes amarelos começarem, Macron prometeu que, ao contrário de outros líderes franceses, ele não permitiria que sua agenda de reformas na economia francesa fosse paralisada por protestos populares. Os coletes amarelos estão colocando-o à prova.  

O medo no ar é que, como a Itália, a França fique vulnerável a um populismo que combina as queixas nas periferias de esquerda e direita e as joga contra o centro liberal. As questões de fundo são as mesmas que costumam pairar sobre a França: aumento dos custos de vida comparado ao crescimento lento ou inexistentes aumentos salariais. Mudança demográfica, medo de perder a identidade nacional francesa, ressentimento pela intrusão de corporações poderosas na vida comercial ou mesmo social. 

É também precisamente por não ter um único líder ou visão que os coletes amarelos se tornaram tão perigosos para o governo de Macron. Eles são uma expressão de insatisfação com o governo, e assim pessoas de muitas disposições políticas contrárias podem projetar suas esperanças e ideias nos coletes amarelos. 

Vivemos em tempos estranhos, quando muitos conservadores vêem pessoas da classe operária lançando uma revolta na França e instintivamente simpatizando com elas. E, ao mesmo tempo, muitos liberais são tentados a defender o líder político que começou o alvoroço com a imposição de um imposto regressivo, e que encontra seu principal apoio entre os trabalhadores financeiros em Londres e o establishment francês. Os liberais admitirão que alguns dos manifestantes têm preocupações legítimas, mas depois correm para garantir que a maioria sofre de uma falsa consciência induzida neles pelo Facebook, ou por alguma outra força nefasta no mundo.

Emmanuel Macron deveria ser a figura da "ordem mundial liberal". Ele era o populismo do establishment. Ele foi o homem que denunciou o liberalismo, tentou demonstrar sua esperança em uma União Europeia grandiosa, corajosa, regenerada e federal. Ele condenou o nacionalismo na frente de Donald Trump. Ele era o membro do Partido Socialista que era amado pelo mercado financeiro. 

Mas há meses ele tem sido um homem morto politicamente. Não há proteção na França. Talvez seja um estado de espírito, ou o prenúncio de algum colapso terrível. Talvez seja apenas uma geração rejeitando as certezas de uma anterior. Os povos democráticos do Ocidente se cansaram da política centrista e estão exigindo mudanças. E na França, essa mudança geralmente começa nas ruas.

*Michael Brendan Dougherty é um escritor sênior da National Review Online.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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