Um anel nebuloso de matéria escura que surgiu depois de uma colossal colisão cósmica eras atrás oferece a melhor prova até agora de que vastas quantidades dessa coisa misteriosa residem no universo, disseram cientistas na terça-feira.
As imagens feitas pelo Telescópio Orbital Hubble, da Nasa, permitiram aos astrônomos detectar esse anel de matéria escura criada pela colisão de dois aglomerados de galáxias a 5 bilhões de anos-luz da Terra.
"Essa é a evidência mais forte já surgida da existência da matéria escura", disse o astrônomo Myungkook James Jee, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, a jornalistas.
Os astrônomos acreditam que a matéria escura - ao contrário da matéria comum que compõe estrelas, planetas e tudo ao nosso redor - compreende cerca de 85 por cento do material do universo, mas é difícil comprovar sua existência.
A matéria escura não pode ser vista. Ela não brilha nem reflete a luz, mas os astrônomos percebem sua existência nos aglomerados de galáxias ao observar como sua gravidade dobra a luz emitida por galáxias ainda mais distantes. Eles não sabem do que ela é feita, mas suspeitam que seja um tipo de partícula.
O astrônomo Richard Massey, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, não envolvido na pesquisa, disse que as conclusões estão enfrentando ceticismo dentro da comunidade astronômica.
"É realmente animador se for correto. Mas para ficar convencidos do anel, os astrônomos vão realmente querer ver observações independentes verificando-o", disse Massey.
Observações anteriores do Hubble mostraram outra colisão entre aglomerados de galáxias em que a matéria escura parecia se comportar diferentemente.
Os cientistas chegaram à nova conclusão ao estudar a distribuição da matéria escura dentro de um aglomerado de galáxias chamado Cl 0024+17.
Questionando a origem do anel, os pesquisadores encontraram um trabalho anterior mostrando que o aglomerado de galáxias havia sido abalroado por outro aglomerado, entre 1 e 2 bilhões de anos antes.
Eles desenvolveram simulações por computador de tais colisões que indicavam que, quando dois aglomerados colidem, a matéria escura "escorre" na direção do centro dos aglomerados recém-combinados, e então voltam para a borda conforme perdem velocidade sob a atração gravitacional.
"A colisão entre dois aglomerados de galáxias criou uma onda de matéria escura que deixou claras pegadas nos formatos das galáxias ao fundo", disse Jee.
"É como olhar para seixos no fundo de um lago com ondas na superfície. A forma dos seixos parece mudar conforme as ondas passam sobre eles", acrescentou.
A matéria escura já havia sido detectada em outros aglomerados, mas nunca de forma tão distintamente separada do gás quente e das galáxias que formam o aglomerado.
"Como a matéria escura é a coisa mais comum no universo, o fato de sabermos quase nada a respeito atualmente é realmente bem constrangedor", disse Massey.
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