O populista Rodolfo Hernández passou para o segundo turno com 12 pontos porcentuais a menos que seu rival Gustavo Petro, mas agora lidera pesquisas por margem muito apertada.| Foto: EFE/Marco Valencia
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A disputa no segundo turno das eleições presidenciais da Colômbia, neste domingo, se apresenta como a mais acirrada dos últimos tempos e em um clima de alta tensão que, dependendo do tamanho da vantagem obtida pelo vencedor, pode levar à agitação popular em um país marcado pela violência política.

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Às vésperas do pleito, o resultado é absolutamente imprevisível, uma vez que as pesquisas mostram um empate técnico entre o populista Rodolfo Hernández e o esquerdista Gustavo Petro, que mantinha uma tranquila liderança até o primeiro turno. Uma das últimas pesquisas, elaborada pela empresa Invamer e divulgada na sexta-feira da semana passada, mostrava Hernández com 48,2% das intenções de voto, contra 47,2% de Petro, dentro da margem de erro. Resta saber o impacto nas urnas do escândalo causado pela divulgação de alguns vídeos nos quais a campanha de Petro discute como desacreditar seus rivais, entre outras questões espinhosas.

“Neste século, é o mais próximo que candidatos já estiveram em um segundo turno, o que abre um panorama de grande tensão”, afirmou à reportagem o consultor em assuntos públicos, comunicação política e opinião pública Andrés Segura, sócio da empresa Ennoia. Carlos Ariel Sánchez, ex-titular do Registro Nacional, instituição responsável por organizar as eleições, seguiu a mesma linha e disse que “a última disputa presidencial acirrada foi a de 1998”, quando o liberal Horacio Serpa venceu o primeiro turno por uma margem estreita, mas perdeu no segundo contra o conservador Andrés Pastrana, que governou entre 1998 e 2002. “Esta [eleição] será muito difícil, porque como os resultados do primeiro turno foram um pouco imprevistos, tudo o que é opinião está desequilibrado. Antes se calculavam as alianças e aqueles que iam de um lado para o outro, mas agora essas contas são muito difíceis de conciliar”, comentou Sánchez, professor de Direito Eleitoral da Universidad del Rosario.

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Hernández foi rival inesperado

Hernández foi a grande surpresa por chegar ao segundo turno à frente do direitista Federico “Fico” Gutiérrez. Com esse ímpeto, tornou-se o rival mais difícil que Petro poderia enfrentar, uma vez que, como ele, é um candidato crítico do poder estabelecido que promete empreender a mudança reivindicada pelo país. Com um discurso voltado exclusivamente para o combate à corrupção e aos políticos ladrões, e sem estrutura partidária por trás, o engenheiro Hernández, 77 anos, obteve 5,9 milhões de votos (28,15%) no primeiro turno, o que lhe qualificou para enfrentar Petro, que recebeu 8,5 milhões de votos (40,32%).

O efeito dessa surpreendente votação o colocou em primeiro lugar no grid de largada do segundo turno, posição na qual não conseguiu se consolidar, devido aos seus tropeços ao falar, por exemplo, sobre o papel da mulher na sociedade ou a função da imprensa. “Isso acontece com os candidatos novos (...) e essas ondas normalmente tendem a cair logo. Na política você não só tem de gerar essa paixão, mas também ter a capacidade de sustentá-la, e para isso você precisa de um certo tipo de organização logística”, opinou Andrés Segura, da Ennoia. Para ele, após o choque inicial do resultado do primeiro turno, “Petro aproveitou as fraquezas e o desconhecimento em torno de Rodolfo” para mostrar quem realmente é seu rival, e assim freou sua tendência de crescimento nas pesquisas.

Petro pode ter atingido teto, com brancos e indecisos sendo decisivos

Analistas apontam que desta vez, diferentemente de outras eleições, os indecisos e o voto em branco podem ser decisivos pela proximidade entre os candidatos e porque são basicamente apoios que escaparão de Hernández, já que Petro tem voto fiel. Com seus 8,5 milhões de votos, resultado semelhante ao que teve no segundo turno, quatro anos atrás, quando perdeu para o atual presidente Iván Duque, Petro tem pouco espaço para crescer e por isso apostou tudo na vitória definitiva no primeiro turno, enquanto Hernández certamente atrairá a maior parte dos mais de 5 milhões de votos que “Fico” Gutiérrez recebeu e que se definem em sua maioria como “antipetristas”.

“Estamos falando de cerca de 80% (dos votos da direita) que vão para Rodolfo e os que não vão com ele estão ficando indecisos ou decidindo não votar, é algo que a campanha do Petro subestimou. O destino natural, o destino espontâneo do eleitor do ‘Fico’ é Rodolfo”, acrescentou Segura.

Há também a possibilidade de que parte dos que dizem votar em branco sejam na verdade “votos da vergonha” ou “votos ocultos” que podem preferir Hernández, com todos os seus defeitos, a Petro, por suas polêmicas propostas econômicas e por suas alianças com políticos apontados como corruptos. “Pode haver muita votação oculta, embora na realidade em um país como este, polarizado como este, mais do que uma votação oculta, o que há é uma série de votos que não foram totalmente acomodados”, afirmou Sánchez.

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O problema é que, se o resultado for muito apertado, provavelmente será questionado pelo perdedor, “principalmente se o vencedor for Rodolfo”, ressaltou Segura, pois há grupos que ameaçaram não aceitar uma derrota de Petro que parecia impossível um mês atrás. Por essa razão, seria importante que o vencedor obtivesse uma vantagem próxima a 1 milhão de votos, o que equivale a 5% dos votos nas urnas, para não gerar dúvidas. “1 milhão de votos é uma diferença respeitável e verificável, mas, se for meio milhão, na situação atual as coisas ficam mais cabeludas”, comentou Sánchez.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]