A poucos dias de completar 67 anos, Juan Manuel Santos deixa o cargo de presidente da Colômbia, nesta terça-feira (7), tendo sacrificado sua popularidade - que termina em 14% - pela paz com a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), colocando fim a uma guerra de mais de 50 anos, que deixou cerca de 220 mil mortos e mais de 7,7 milhões deslocados de suas casas pela violência.
Este poderia ser um resumo breve de seus oito anos de governo, iniciados em 2010, quando venceu as eleições com o apoio de quem hoje é seu rival político: o ex-presidente Álvaro Uribe.
Porém, quando se fala com os colombianos de distintas regiões, outros itens vêm à tona. No campo, a persistência da violência de outros grupos armados (guerrilhas, dissidências e facções criminosas) é o principal problema apontado nas pesquisas. Nas cidades, menciona-se que a economia que teve muitos altos e baixos, embora agora comece a repontar.
Colocando na balança os aspectos positivos e negativos, fica claro que o retrato que Santos deixará na galeria dos ex-presidentes da Colômbia será positivo.
Do ponto de vista internacional, esse reconhecimento já veio, por meio de um prêmio Nobel da Paz e da chuva de convites para palestras internacionais e aulas em Harvard após deixar a presidência.
Eleito pela primeira vez pela direita e, na segunda, pela esquerda, Santos fez um governo para muitos considerado de centro-esquerda, onde houve avanços em direitos civis, uma política econômica liberal, uma busca de negociação com grupos armados em detrimento da repressão e políticas de proteção para a população mais humilde, reduzindo uma desigualdade que era histórica na Colômbia.
"O acordo de paz é um fato histórico, ainda que existam problemas em sua implementação, e com ele estão vindo o crescimento econômico e o investimento externo", diz o analista José Miguel Alzate.
Legado positivo
Pertencente a uma das famílias mais tradicionais de Bogotá, proprietária do principal jornal do país, o El Tiempo, Santos vem dizendo em suas últimas entrevistas que não irá "incomodar seu sucessor" e que espera que Deus lhe dê forças "para conter a libido pelo poder".
Teve algumas reuniões com o novo presidente, Iván Duque, outro delfim político de Uribe, marcadas pela cordialidade. O único pedido que diz ter feito ao sucessor foi que defendesse a paz. Também recomendou que mantivesse a Colômbia no centro do espectro político.
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Do lado positivo de seu legado, além da paz com as Farc, é preciso ressaltar que também a taxa de homicídios deste que já foi um dos países mais violentos da região foi, em 2017, a mais baixa em 40 anos. Segundo cálculos do governo, o processo de paz já teria salvo cerca de 3 mil vidas.
Do ponto de vista econômico, o país cresceu, em média, nestes oito anos, entre 3% e 4% ao ano. Mais de 5,4 milhões de pessoas saíram da pobreza e se criaram 3,5 milhões de novos empregos.
O investimento estrangeiro duplicou com relação aos anos da gestão Uribe (2002-2010), indo de US$ 6,4 bilhões (R$ 23,7 bilhões) a US$ 14,509 bilhões (R$ 53,7 bilhões).
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Sociedade polarizada
Do ponto de vista negativo, o próprio Santos disse, em entrevista à agência Reuters, que "politicamente se sentia frustrado porque gostaria de ter deixado o país mais unido e menos polarizado".
De fato, em 2016, durante a campanha pelo plebiscito da paz, que Santos acabou perdendo - embora tenha podido reverter o resultado por meio de uma manobra parlamentar- foi quando essa divisão da sociedade se tornou mais latente.
Um ponto incômodo é a demora na implementação do acordo com as Farc. Foi possível desmobilizar e desarmar guerrilheiros, mas faltam informações sobre seus bens e integrar todos os ex-combatentes ao mercado de trabalho.
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No campo, a reforma agrária prometida no acordo anda a passos lentos e há o problema das dissidências se incorporando às Bacrim (bandos criminosos) e a outras guerrilhas. Calcula-se que 600 ex-combatentes das Farc não tenham aderido à paz.
Também não foi possível chegar a um acordo com o ELN (Exército de Libertação Nacional), ainda que várias reuniões nos últimos dois anos tenham iniciado esse trabalho. Santos gostaria, porém, de ter alcançado, na semana passada, um cessar-fogo bilateral, para que Duque tivesse um respiro para reiniciar as conversas. Não foi possível.
Propinas e drogas
Santos também terá de responder à Justiça sobre as acusações de que suas campanhas de 2010 e 2014 teriam recebido caixa 2 da Odebrecht.
Por fim, um problema que complica as relações com os EUA é que o tamanho das plantações de coca duplicou nos últimos anos. Isso ocorreu por conta do término das fumigações aéreas com produtos químicos, pois seu uso estava causando dano à saúde dos camponeses.
Com isso, porém, a Colômbia segue sendo, há mais de 30 anos, o primeiro produtor de cocaína no mundo.
Em uma entrevista em Bogotá, Santos finalizou o balanço dizendo: "Em 2010, éramos considerados um país problema. Hoje, somos olhados com respeito, atraímos investidores e revitalizamos o turismo".
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