A calma retornou de maneira parcial à Colômbia nesta sexta-feira (22), após a realização de várias passeatas e panelaços na quinta-feira que juntaram mais de 250 mil estudantes, trabalhadores e sindicalistas, em uma greve geral que abalou o governo do conservador Iván Duque. Nesta sexta, o ministro da Defesa confirmou a morte de três pessoas.
Durante a tarde desta sexta-feira, centenas de pessoas foram à principal praça da capital, Bogotá, com panelas para continuar a manifestação. Os protestos, registrados também em outros pontos da cidade, foram convocados por redes sociais.
Embora as autoridades tenham apresentado um relatório de tranquilidade em todo o país, na região sul da capital Bogotá foram registrados confrontos entre manifestantes e policiais perto de estações de transporte público, afetadas por depredações e bloqueios.
Na mesma área ocorreram saques a supermercados e ataques contra ônibus públicos.
O prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, decretou a lei seca até sábado por causa "dos vândalos que querem gerar caos". "Hoje o país está calmo", disse o ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo.
Momentos de caos e violência
Embora a quinta-feira tenha sido quase pacífica, assim que anoiteceu, Bogotá e Cali foram palco de momentos de violência.
No departamento de Valle del Cauca, cuja capital é Cali, três pessoas morreram durante os distúrbios. Dois em Buenaventura, o principal porto do país, em um "confronto" com as forças públicas quando tentaram saquear um shopping center. A terceira vítima fatal foi registrada na Candelária.
Uma comissão oficial foi enviada para a área para "analisar em primeira mão os procedimentos" dos militares nos confrontos, disse Trujillo.
Duque, cuja popularidade atingiu o menor índice desde que assumiu o poder há 15 meses, estará à frente de uma reunião extraordinária com seu ministério nesta sexta.
O chefe de Estado, que reconhece a legitimidade de algumas reivindicações, disse na quinta-feira que vai acelerar a agenda social de seu governo e que ouviu a queixa nas ruas, embora não tenha respondido ao pedido de diálogo direto dos promotores da greve.
Policiais investigados
Os confrontos em várias cidades do país deixaram 273 feridos: 122 civis e 151 membros da força pública. Além disso, 98 pessoas foram detidas, de acordo com dados oficiais.
Após as manifestações, 11 investigações foram iniciadas diante das denúncias de "possíveis ações irregulares" por policiais em Bogotá, Cali, Manizales e Cartagena.
"Se uma falha for verificada, é claro que as sanções correspondentes serão aplicadas", acrescentou o ministro.
A ONG Anistia Internacional divulgou no Twitter que recebeu "testemunhos, fotos e vídeos extremamente alarmantes" de "uso excessivo da força" pela polícia.
Cali, uma das cidades mais violentas da Colômbia, foi o principal foco de violência, com saques e "vandalismo", o que levou o prefeito a decretar toque de recolher.
"Não há notícias de ordem pública, absolutamente tudo calmo e controlado", disse nesta sexta-feira o secretário de Segurança, Andrés Villamizar.
Grupos de cidadãos armados vigiavam prédios e complexos residenciais por conta das tentativas de assalto à noite, que, segundo Villamizar, não se concretizaram.
Um grupo de pessoas tentou entrar no condomínio em que Blanca Zapata vive no sul. A mulher se refugiou em casa com seus dois filhos. Seus vizinhos foram até a portaria e controlaram os atacantes. "Eu estava com muito medo de que eles roubassem e quem sabe mais o quê", disse.
As autoridades de Cali coletaram detritos nos trilhos e reativaram o serviço de transporte público, que, assim como em Bogotá, sofreu vários danos.
Com uma gama diversificada de reivindicações e demandas, centenas de milhares de pessoas protestaram no dia anterior nas ruas e com panelaços contra o presidente.
Liderados pelas centrais sindicais, que rejeitam supostas reformas para tornar o mercado de trabalho e o sistema de aposentadorias mais flexíveis, indígenas, camponeses, artistas, estudantes e partidos da oposição aderiram ao movimento.
Todos questionam a política de segurança focada na luta contra o narcotráfico, no assassinato de dezenas de líderes sociais e na tentativa de modificar o pacto de paz de 2016 que desarmou o antigo grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que participou da greve.
A Colômbia, nação de 48 milhões de habitantes, tem crescimento econômico acima da média regional, mas altas taxas de desigualdade e desemprego.