O cultivo ilegal de coca na Colômbia está voltando a crescer. Apenas dois anos depois de ter deixado o posto de maior produtora do mundo, ficando atrás do Peru, o país, agora, ultrapassa o vizinho e a Bolívia (terceiro lugar) combinados.
Em 2014, os colombianos plantaram 44% mais coca do que em 2013, e agentes antinarcóticos afirmam que a safra deste ano vai ser ainda maior.
O boom da coca vem num momento delicado para o governo colombiano, que estaria nos últimos passos da negociação de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Um dos maiores pilares do Plano Colômbia de combate ao cultivo, o lançamento aéreo de herbicidas foi suspenso em outubro por causa do potencial cancerígeno das substâncias. O programa recebeu cerca de US$ 9 bilhões em financiamento dos EUA, desde 2000.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, aliado-chave dos americanos, afirma estar pronto para iniciar uma campanha de substituição maciça de plantios se chegar ao acordo com as Farc. Os guerrilheiros se comprometem a colaborar nas negociações com agricultores para que ponham fim às plantações de coca e as substituam por cultivos legalizados. Santos conta com o apoio dos EUA para a gigantesca operação.
“Temos uma oportunidade de ouro”, garantiu Santos. “Mas se não dermos aos agricultores uma alternativa, vão continuar cultivando coca”, disse.
Queda de área cultivada para um terço
As Farc, cujos guerrilheiros inicialmente cobravam taxas aos agricultores pela produção e continuaram dominando o tráfico nas áreas sob seu controle, garantem que vão deixar a rede de drogas se o acordo de paz for fechado. Mas outros grupos armados na Colômbia verão uma oportunidade para entrar nas áreas em que as Farc ficarem de fora.
O financiamento dos EUA no lançamento de herbicidas teve uma grande importância na redução das plantações de coca no país — de 162 mil hectares, em 2000, para 48,5 mil, em 2012. A tática, no entanto, foi amargamente recebida pela comunidade rural e acabou tendo resultados decrescentes com a transferência dos cultivos de drogas para parques nacionais, reservas indígenas, regiões fronteiriças e outros lugares fora dos limites para a operação.
Dois terços dos 170 mil acres de plantação de coca do país agora estão nessas áreas, de acordo com autoridades do governo. Como as plantas maduras contêm mais folhas para o processo de produção do cloridrato de cocaína (a versão mais comum da droga), um aumento de 44% da área de terra plantada resulta no crescimento de 52% na produção de cocaína somente este ano, segundo estimativas da ONU.
Mesmo que o governo de Santos e as Farc fechem o acordo, isso não significa que assistentes sociais com sementes de cacau ou projetos de piscicultura serão capazes de se espalhar pelo país. Para o diretor do Escritório de Drogas e Crimes da ONU na Colômbia, Bo Mathiasen, ainda que pague mais do que cultivos tradicionais, a coca não chega a ser um negócio realmente lucrativo para pequenos agricultores.
“Essa é a boa notícia para nós, porque abre caminho para seguirmos com alternativas”, diz ele, prevendo que haverá pressão da comunidade internacional sobre o governo se os números da coca continuarem crescendo.
Segundo o encarregado pelo programa de substituição de cultura, o economista e ex-ministro da Saúde Eduardo Díaz, cerca de 1 milhão de cidadãos (dos 50 milhões de colombianos) estão ligados direta ou indiretamente ao mercado de coca.
“Temos que estabelecer a presença do Estado nessas zonas de de conflito”, preconiza.
Pagamentos em dinheiro para cada família em troca da erradicação voluntária também não vão funcionar, segundo ele, porque a possibilidade de se ganhar dinheiro simplesmente encoraja todos a plantarem coca. Pelo contrário, o governo quer que comunidades inteiras optem pela substituição, na esperança de que isso vá trazer investimentos oficiais em infraestrutura, saúde e educação. Quem resistir deve enfrentar a erradicação forçada e penalidades criminais.
Como alternativa, um programa de substituição apoiado pela Agência Internacional de Desenvolvimento dos EUA está encorajando ex-cultivadores de coca a tentarem cacau e banana. A primeira parecia ser mais promissora para agricultores de Tierradentro, mas as árvores plantadas levam muitos anos para começarem a dar fruto.
Bananas eram a única opção neste meio tempo, e muitos confessam que estavam perdendo a paciência, ganhando menos de US$ 175 por mês — muito abaixo do salário mínimo e menos de um terço do que arrecadavam com coca. A venda de tijolos de pasta base era muito mais fácil do que a logística dos carregamentos de banana para chegar a mercados a várias horas de distância por estrada de terra.
“Hoje, vivemos em paz”, relata Alexis Fernandez, de 63 anos. “Mas não há coca nem dinheiro”.