Os colombianos insatisfeitos com o presidente Iván Duque esperam canalizar uma onda de descontentamento que percorre a América Latina ao sair às ruas nesta quinta-feira (21) com uma longa lista de queixas, que inclui desde a persistente desigualdade econômica até a violência contra ativistas sociais. A expectativa é que sindicatos, grupos de estudantes e cidadãos comuns se unam na greve geral de hoje, no que poderia ser uma das maiores mobilizações dos últimos anos no país, testando um governo impopular em um momento de instabilidade regional. De manhã, em Bogotá, várias ruas importantes já haviam sido bloqueadas.
Os analistas, contudo, são céticos sobre a possibilidade de que o protesto possa gerar uma agitação prolongada como ocorrido recentemente em Bolívia, Chile e Equador. Eles destacam a ausência de fatores que unifiquem um país dividido e com um dos desempenhos econômicos mais sólidos da região. "Não estamos em um clima de pré-insurreição", disse Yann Basset, professor da Universidade do Rosario, em Bogotá. "Não sei se há realmente um rechaço ao sistema político em geral".
O governo de Duque, apesar disso, está alerta e determinou 170 mil agentes para reforçar a segurança, além de fechar passagens fronteiriças. Ainda deportou 24 venezuelanos acusados de entrar no país para fomentar a agitação.
Duque tem um índice de aprovação modesto, de 26%. Ele está em uma campanha para tentar se aproximar da população e negar informações incorretas das redes sociais, como a de que ele teria proposto elevar a idade da aposentadoria e reduzir os salários dos trabalhadores mais jovens. "Eu não venho falar de um jardim de rosas", disse em entrevista a uma rádio. "Estou falando de um país que está em recuperação, uma economia que está melhorando, que se mostra hoje entre as melhores da América Latina".
Ainda assim, muitos colombianos dizem ter várias razões para estar descontentes.
As queixas
A lista de insatisfações dos manifestantes é grande, tanto quanto a variedade de organizações e setores que estão saindo às ruas para protestar. Inicialmente a paralisação foi convocada pelas centrais de trabalhadores, focada em uma pauta econômica que repudia a desigualdade social e o desemprego, um índice que continua alto na Colômbia apesar da previsão de crescimento do PIB de mais de 3% para 2019 – o país é um dos mais desiguais da América do Sul, com quase 11% da população desempregada, índice que sobe a 17,5% entre os jovens adultos.
Os estudantes também estão participando das manifestações. O grupo pede mais investimentos nas universidades públicas e clama pelo uso comedido da força por parte da polícia de choque durante manifestações estudantis - em um protesto deste ano, por exemplo, as forças de segurança lançaram gás lacrimogêneo na entrada de um hospital em Bogotá, segundo o el Espectador.
Além disso, grande parte do país sofre ainda com a violência, com grupos ilegais armados disputando territórios, apesar do acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2016. Dezenas de indígenas e líderes sociais foram assassinados e os crimes não foram resolvidos.
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