Segundo dados de 2022 do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês), 65% da população da Faixa de Gaza vive em situação de insegurança alimentar e abaixo da linha da pobreza.
Entretanto, para os líderes do grupo terrorista Hamas, que controla o enclave desde 2007, fome e pobreza não passam de uma realidade muito distante.
Uma reportagem de junho de 2021 do Canal 13, de Israel, descreveu uma rotina de festas, casas e carros luxuosos das lideranças do Hamas e suas famílias e apontou que o grupo tem ao menos três bilionários: Mousa Abu Marzook (que tem um patrimônio estimado em US$ 3 bilhões), Ismail Haniyeh (entre US$ 3 e 4 bilhões) e Khaled Mashal (US$ 5 bilhões).
Marzook é um membro sênior da direção do Hamas e foi vice-presidente do diretório político do grupo terrorista entre 1997 e 2014; Haniyeh é o presidente do diretório desde 2017; e Mashal foi seu antecessor, entre 1996 e 2017.
Em 2014, Moshe Elad, especialista em Oriente Médio da Faculdade da Galileia Ocidental, disse em entrevista ao jornal israelense Globes que as fortunas dos líderes de Hamas têm várias origens.
Uma primeira fonte são as doações, de familiares de pessoas mortas, de caridade e de outros países islâmicos. O analista citou também campanhas para arrecadar dinheiro entre muçulmanos ricos nos Estados Unidos, que ajudaram na criação de vários fundos de valores estratosféricos.
Em grande parte, essas doações são desviadas para o ralo da corrupção e um dos caminhos são funcionários fantasmas: apoiadores no estrangeiro recebem listas com nomes fictícios de servidores da administração de Gaza, cujos salários acabam embolsados por membros sêniores do Hamas.
“O que chama a atenção nos líderes palestinos ao longo dos anos é o lema ‘Fique rico rapidamente’. Esses líderes não têm vergonha. Eles assumem o controle de indústrias cruciais, como comunicações e gasolina, assim que assumem as rédeas”, disse Elad, que destacou a cultura de corrupção escancarada entre as lideranças do Hamas.
O contrabando pelos túneis de Gaza é outra fonte de renda para as lideranças do Hamas, que cobram taxas de 25% do valor das mercadorias que chegam ilegalmente à faixa. O Hamas também impõe taxas a todos os comerciantes em Gaza e fatura com a especulação imobiliária após assumir o controle de terras no enclave.
Marzook (que chegou a ficar preso durante dois anos nos Estados Unidos na década de 1990 por apoio ao terrorismo e foi extraditado para a Jordânia), Haniyeh e Mashal vivem no Catar, longe da rotina de privações dos moradores de Gaza.
Em 2021, uma reportagem do jornal The Arab Weekly destacou que vídeos nas redes sociais mostraram Haniyeh jogando futebol ao lado dos arranha-céus com imponentes fachadas de vidro do Catar e sendo recebido com tapete vermelho por altos funcionários do país, sede da Copa do Mundo do ano passado.
Akram Atallah, colunista do jornal Al-Ayyam, com sede na Cisjordânia, disse ao Arab Weekly que os líderes do Hamas contiveram a revolta da população de Gaza por meio da “dualidade” de serem ao mesmo tempo um governo e um “grupo militante”.
“Quando criticado por não fornecer serviços básicos, [o Hamas] afirma ser um grupo de resistência. Quando criticado por impor impostos, diz que é um governo legítimo”, argumentou.
Entretanto, Atallah afirmou que o desgaste dos líderes terroristas junto ao povo de Gaza, por essa diferença entre a riqueza deles e a pobreza do enclave, já vinha crescendo antes da guerra deflagrada após os ataques do Hamas a Israel.
“O Hamas, como autoridade, foi exposto. O povo descobriu que seus líderes vivem muito melhor do que eles”, afirmou.