Único sul-americano entre os 14 países que mantêm relações diplomáticas com Taiwan, o Paraguai vai às urnas em 30 de abril com essa questão e, consequentemente, sua relação com a China entre os temas centrais da eleição que vai definir seu novo presidente.
Os dois candidatos que estão à frente nas pesquisas, Santiago Peña, do conservador Partido Colorado, e Efraín Alegre, do centro-esquerdista Partido Liberal Radical Autêntico, pregam estreitar laços comerciais com a China, mas discordam sobre a que preço isso deve ser feito.
Alegre promete romper relações com Taipei e estabelecê-las com Pequim. “O Paraguai deve ter relações com a China”, afirmou, numa entrevista recente. “Nossos interesses nos setores de pecuária e grãos estão sofrendo uma grande perda. Mantemos essa posição crítica sobre as relações com Taiwan porque não achamos que temos retorno suficiente nessa relação.”
Já Peña, em entrevista à agência Reuters, disse que não haverá “nenhuma mudança nesse sentido” se for eleito. “Vou defender a relação histórica com Taiwan”, garantiu.
Em reunião com empresários, o candidato do Partido Colorado explicou que, apesar dessa posição, vai tentar aumentar as exportações para a China caso saia vitorioso nas urnas.
“Acredito que o Paraguai deve manter uma relação diplomática com Taiwan, mas também acredito firmemente que temos que ter uma estratégia política e econômica por parte dos setores público e privado de como nos aproximarmos do gigante asiático [China], para que o Paraguai tenha maiores relações comerciais e equilibre uma balança comercial que hoje está claramente deficitária, na qual a China é o nosso principal fornecedor, mas não é o nosso principal mercado, para onde levamos os nossos produtos”, justificou.
Resta saber como Peña, que tem liderado a maioria das pesquisas, pretende fazer isso, já que Pequim costuma acelerar negócios e fazer investimentos em troca de posições políticas. Nos últimos anos, Panamá, El Salvador, República Dominicana e Nicarágua cortaram laços diplomáticos com Taipei após pressão chinesa.
O Paraguai reconhece Taiwan diplomaticamente desde 1957. A China considera a ilha, administrada separadamente desde o final da Guerra Civil Chinesa, em 1949, como parte do seu território e planeja incorporá-la.
Alegre, de 60 anos, é advogado e está na sua terceira candidatura presidencial. Ele foi ministro das Obras Públicas e Comunicações do Paraguai entre 2008 e 2011, na gestão do esquerdista Fernando Lugo.
Já Peña, de 44 anos, é economista. Ele integrou o Conselho de Administração do Banco Central do Paraguai e foi ministro da Fazenda entre 2015 e 2017, no governo de Horácio Cartes, que é padrinho político do jovem candidato e que foi alvo de sanções dos Estados Unidos por corrupção.
Alegre terá a difícil missão de tirar do governo o Partido Colorado, legenda do atual presidente, Mario Abdo Benítez, e que desde 1948 só deixou de ocupar a presidência paraguaia durante os governos de Lugo (2008-2012) e Federico Franco (2012-2013).
O mandato de Lugo foi marcado por escândalos, ao reconhecer que havia tido filhos com mulheres diferentes quando ainda era bispo, e terminou em impeachment, pela acusação de responsabilidade em um confronto entre policiais e camponeses durante reintegração de posse em uma fazenda no distrito de Curuguaty, que deixou dezenas de mortos e feridos.
Em Taiwan, Benítez alfinetou Alegre
Em 2021, o ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, acusou a China de fazer uma “diplomacia da vacina” com o Paraguai.
“O governo chinês foi muito insistente ao dizer que, se o governo do Paraguai estiver disposto a romper relações diplomáticas com Taiwan, eles poderão obter alguns milhões de doses de vacinas [contra a Covid-19] da China”, denunciou. Pequim negou as acusações.
No mês passado, em visita oficial a Taiwan, Benítez afirmou que as relações com Taipei estão mantidas.
“Diante das contínuas ameaças e da situação tensa, o povo de Taiwan não abandonou sua determinação pela paz e continua desempenhando o papel de farol da democracia na região”, afirmou o presidente paraguaio, que aproveitou a visita para alfinetar Alegre.
“Será um erro histórico se o próximo presidente não fizer uma avaliação séria e responsável da aliança histórica que já faz parte da nossa cultura comum hoje”, afirmou Benítez. “Penso que é melhor para o meu país continuar a aprofundar estes laços de amizade. Qualquer líder que proponha uma mudança [nessa relação] seria um político incompetente, seria algo que definitivamente prejudicaria a possibilidade de prosperidade dos nossos países.”
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura