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A visita do Papa a Cuba atende a interesses, óbvio, de ambas as parte. Os Castro querem usar o peso da Igreja Católica a favor da imagem desgastada do regime que controlam em Cuba há 50 anos. Bento XVI, claro, vai atrás de ovelhas para um de seus mais tímidos rebanhos na América Latina. A análise é de Juan Bosco Amores Carredano, professor titular da História da América da Universidade do País Basco, que visita anualmente Cuba. Nesta entrevista à Agência O Globo, por telefone, o pesquisador diz que o regime da ilha busca com a visita dar uma demonstração de abertura e que os dissidentes políticos não podem esperar que o Papa fale com eles ou deles em concreto.

Qual é o significado desta visita do Papa a Cuba?

Creio que o regime cubano precisa dar uma imagem de abertura e por isso escolheu a Igreja Católica como um interlocutor, sobretudo pela capacidade do Papa de influenciar os governos das potências mundiais. A opinião interna importa menos.

E do ponto de vista da Igreja?

É lógico que, para a Igreja, qualquer oportunidade é importante para melhorar e ampliar a sua capacidade de trabalho em países onde até agora sua presença é limitada, como em Cuba. Para a Igreja, não importa que o objetivo do governo que convida o Papa seja distinto do fim buscado pela Igreja. Embora não seja exatamente comparável, algo parecido ocorreu com a visita à Turquia (em 2006). O interesse da Turquia, islâmica, é entrar na União Europeia, então precisa fazer gestos importantes de que é um país realmente liberal e tolerante. E, claro, uma demonstração importante é convidar o Papa.

E o que interessa para o Papa?

Creio que os interesses e os objetivos do Papa são muito de ordem eclesiástica e espiritual. Ele, acredito eu, gosta de dialogar com gente que pensa muito diferente dele. Como um bom teólogo alemão, Joseph Ratzinger teve de se acostumar a dialogar com os protestantes.

Qual o impacto esperado da visita para o catolicismo em Cuba?

Os praticantes do catolicismo em Cuba são minoria. Sem dúvida, é um apoio tremendo. É um reforço de sua fé e de suas práticas. A maioria dessas pessoas, ainda que o regime diga o contrário, sente-se psicologicamente perseguida ou ao menos incomodada pelo fato de ser católica.

O senhor acredita que o Papa vai falar de direitos humanos em Cuba?

Sem dúvida, mas o regime cubano tem uma só preocupação, que é não perder o controle interno. Então, é típico do regime fazer gestos visíveis que demonstrem à população que eles mantêm o controle e que vão continuar mantendo. Por isso ocorreram esses últimos atos contra as Damas de Branco (grupo de ativistas na véspera da visita do Papa). São feitos previsíveis.

Mas acredita que haverá impacto positivo da visita na questão dos direitos humanos?

O Papa só tratará de temas muito gerais, não pode falar politicamente de situações concretas. Então, ele falará de direitos humanos, terá um impacto positivo, mas os dissidentes políticos não podem esperar que o Papa fale com eles ou deles em concreto.

Cuba vai chegar um dia a ser majoritariamente católica?

Não. Cuba nunca foi, nem no século 19, quando era espanhola. Cuba sempre teve influência muito forte dos EUA, que são protestantes. Além disso, a Igreja foi uma aliada do governo espanhol na política colonialista e o nacionalismo cubano acabou por ter uma atitude crítica diante da Igreja Católica. O catolicismo cubano nunca teve os níveis de prática de México, Colômbia ou Brasil. Sempre foi muito mais baixo.

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