Com a abstenção do Brasil e de outros quatro países, o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou ontem uma resolução que autoriza a adoção de "todas as medidas necessárias" - código para a intervenção militar -, incluindo a criação de uma zona de exclusão aérea na Líbia, para proteger os civis das forças de Muamar Kadafi.
Dez dos 15 países-membros votaram a favor. Eram necessários ao menos nove votos favoráveis, sem nenhum veto. Índia, China, Rússia - que, com o Brasil, fazem parte do chamado Bric -, e a Alemanha se abstiveram de votar. A aprovação ocorreu em meio às ameaças de Kadafi de lançar uma ampla ofensiva contra Benghazi - o principal reduto rebelde - e atacar sem misericórdia os que não se renderem.
A resolução permitirá não apenas a aplicação de uma zona de exclusão aérea de forma imediata, mas efetivamente qualquer medida - menos uma incursão terrestre - para impedir ataques que possam resultar na morte de civis.
Fontes diplomáticas francesas disseram que a ação militar poderia ser iniciada em poucas horas e incluiria a participação da França, Grã-Bretanha, e possivelmente os Estados Unidos e uma ou mais nações árabes. No entanto, um militar americano disse que nenhuma ação imediata estava programada. O Canadá ofereceu seis caças para ajudar na área de exclusão aérea - em um raio de cem quilômetros ao redor de Benghazi -, e a Itália colocou suas bases à disposição.
Aliviada, a população de Benghazi saudou o anúncio com tiros para o ar. Kadafi, por sua vez, disse à Rádio e Televisão Portuguesa (RTP) que a aprovação foi "um ato flagrante de colonização, uma insanidade, uma arrogância". "Se o mundo enlouquecer, enlouqueceremos juntos. Vamos responder. Faremos de suas vidas um inferno, porque estão fazendo isso da nossa. Eles nunca terão paz", declarou o ditador.
Justificativa
A embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti, atribuiu a abstenção do Brasil ao texto da resolução. "As medidas adotadas podem causar mais danos do que benefícios. Mas não significa uma aceitação do comportamento do governo líbio", afirmou. Além disso, segundo a representante brasileira, os movimentos no mundo árabe têm crescido internamente, e uma intervenção externa alteraria esta narrativa, tendo repercussões na Líbia e em outros países.
A abstenção brasileira ocorre às vésperas da programada visita do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, neste fim de semana. O governo brasileiro há anos tenta conseguir apoio para a inclusão do País entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Na votação de ontem, a posição da administração brasileira foi contrária aos interesses dos americanos.
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