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Projeto político

Com apoio dos democratas, muçulmanos querem vencer eleições nos EUA

Fayaz Nawabi, candidato muçulmano concorrendo ao Conselho Municipal de San Diego, lidera as orações matinais no Centro da Comunidade Muçulmana. | Sandy Huffaker/Washington Post
Fayaz Nawabi, candidato muçulmano concorrendo ao Conselho Municipal de San Diego, lidera as orações matinais no Centro da Comunidade Muçulmana. (Foto: Sandy Huffaker/Washington Post)

Fayaz Nawabi nunca chegou a conhecer o presidente Donald Trump pessoalmente. Mas credita a ele a vontade de concorrer nas próximas eleições. 

Nawabi, 31 anos, candidato ao conselho da Prefeitura de San Diego, apoia quase tudo o que Trump rejeita: ele é a favor de moradias subsidiadas, é pró-ambiente, pró-imigrante e pró-refugiados. Isso faz dele parte da onda azul de novos candidatos de esquerda estimulados pela eleição e políticas de Trump. 

Mas Nawabi também faz parte de um subconjunto que está chamando atenção: a onda azul muçulmana.

Mais de 90 muçulmanos americanos, quase todos democratas, estão concorrendo a cargos públicos em todo o país neste ano. Muitos são jovens e politicamente inexperientes, e a maioria não tem muitas chances. Mas eles representam uma aposta coletiva: a de que os eleitores estariam tão enojados com o presidente menos popular dos EUA a ponto de eleger membros do grupo minoritário religioso menos popular da América. 

Embora seu número pareça pequeno, as candidaturas marcam uma ascensão sem precedentes para a diversificada comunidade muçulmana do país, que normalmente tem sido sub-representada na política americana. 

Há mais de 3,3 milhões de muçulmanos vivendo nos Estados Unidos, mas os muçulmanos americanos ocupam apenas dois dos 535 assentos no Congresso. E a participação dos eleitores da comunidade muçulmana empalidece em comparação com a do público em geral.

De George Bush a Donald Trump

A ascensão dos candidatos muçulmanos coincide com o crescimento da população predominantemente imigrante e com uma mudança partidária que se desenrolou ao longo de uma geração. Em uma pesquisa de 2001 da Zogby sobre os muçulmanos americanos, 42% disseram ter votado no republicano George W. Bush na eleição presidencial do ano anterior, enquanto 31% declararam voto em Al Gore, democrata. No ano passado, apenas 8% dos eleitores muçulmanos americanos disseram que votaram em Trump, enquanto 78% disseram que votaram na democrata Hillary Clinton, de acordo com uma pesquisa da Pew Research. 

Embora a campanha de Clinton nunca tenha atraído grande entusiasmo das comunidades muçulmanas, a campanha de Trump — que pedia o monitoramento de mesquitas e a proibição da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos — provocou um abalo na noite da eleição que alguns muçulmanos americanos compararam aos ataques de 11 de setembro de 2001. 

"Fez todo mundo acordar", disse Nawabi.

Identidade muçulmana 

Agora, os candidatos muçulmanos estão concorrendo a uma ampla gama de cargos em todo o país, desde conselhos escolares locais até o Senado dos EUA. Alguns estão fazendo de sua identidade muçulmana algo central para suas campanhas. 

"Quando você encurrala alguém e essa pessoa entra em modo de sobrevivência, ela tende a sair e falar mais abertamente sobre suas crenças", diz Nawabi, que se considera um "muçulmano praticante" que pode citar o Alcorão de memória. 

Em Michigan, onde 13 candidatos muçulmanos estão concorrendo, o médico Abdul El-Sayed espera que os eleitores o elejam o primeiro governador muçulmano nos Estados Unidos e usa sua religião em anúncios de campanha contra o candidato republicano Bill Schuette, a quem Trump endossou. 

"Donald Trump e Steve Bannon adorariam ver um radical de direita como Bill Schuette eleito em Michigan", diz um anúncio no Facebook para Sayed, que enfrenta uma primária democrata em agosto. "Você sabe o que seria uma doce vingança? Se elegêssemos um muçulmano de 33 anos em vez de Bill Schuette. Envie uma mensagem e ajude a eleger o primeiro governador muçulmano na América." 

Nova geração

Há meio século, uma pequena população de negros americanos adotou o Islã como um caminho para o empoderamento político e os direitos civis, e hoje seus descendentes são militares, policiais, membros de câmaras municipais e funcionários públicos de carreira dos EUA. 

Mas, na comunidade de imigrantes, a experiência é mais recente. Cerca de dois terços dos muçulmanos americanos são imigrantes ou filhos de imigrantes, e ativistas dizem que um medo cultural ou a desconfiança do governo podem acompanhar aqueles que fugiram de regimes autoritários, dificultando a participação no processo político. 

"Muita gente se sente 'só vou ganhar dinheiro, abaixar a cabeça'", diz Nawabi, cuja família chegou a San Diego, na Califórnia, refugiada do Afeganistão quando ele era criança. 

Eles sentem que o envolvimento político "coloca um alvo em suas costas, porque é isso que significava onde eles viviam", afirma. 

Efeito Trump

Um pequeno número de grupos de defesa muçulmanos e árabes, como o Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR), Emgage (anteriormente chamado Emerge USA) e o Instituto Árabe Americano passaram anos treinando jovens ativistas políticos, acompanhando políticos em ascensão e administrando campanhas de engajamento de votos, particularmente em comunidades de imigrantes, após os ataques terroristas de 11 de setembro desencadearem uma reação antimuçulmana e anti-árabe. 

Mas as políticas de Trump aumentaram a vontade da comunidade de se engajar politicamente. Houve a proibição de viajar, a proibição da entrada de pessoas de vários países de maioria muçulmana, bem como refugiados. Trump pediu o monitoramento de mesquitas e nomeou membros do gabinete e conselheiros políticos que desprezaram e zombaram dos muçulmanos. Houve comentários e tweets que tratavam o Islã como inerentemente perigoso. 

A Emgage, uma organização sem fins lucrativos voltada para promover o engajamento político muçulmano, entrevistou os eleitores muçulmanos depois da eleição presidencial de 2016 e descobriu que 53% se sentiam "menos seguros"

"Mas a resposta foi o aumento da participação cívica", disse Wa'el Alzayat, diretor executivo da organização. "Sou uma das pessoas que, olhando para o impacto a longo prazo disso, é otimista." 

Uma geração considerável de muçulmanos e árabes nascidos nos EUA tem entre 20 e 30 anos, seus anos escolares moldados pelo 11 de setembro, e seu conforto e familiaridade com o sistema político americano superam em muito o de seus pais imigrantes. 

"Eles estão prontos", diz James Zogby, veterano agente democrata e presidente do Instituto Americano Árabe, que forneceu financiamento e orientação a vários candidatos. "Ambas as comunidades separadamente atingiram um nível de maturidade". 

Nawabi, que se define como um "típico membro da geração millenial" e ávido surfista, nunca se interessou por política até que o senador Bernie Sanders, de Vermont, chamou sua atenção durante a disputa presidencial de 2016. Mas foi no dia seguinte à vitória de Trump que Nawabi decidiu que ele precisava agir. 

Naquela manhã, ele entrou na escola islâmica local onde estava ensinando, imaginando como os pais de seus alunos poderiam estar "tentando explicar aos filhos que há um fanático racista na Casa Branca". 

Mas quando ele chegou à sala de aula, ele percebeu que seus alunos da segunda série já estavam pensando a mesma coisa. 

"Eles estavam falando sobre para onde iriam se mudar agora que Trump era presidente", diz Nawabi. "Isso realmente me afetou." 

Em pouco tempo, ele havia se tornado um delegado distrital do Partido Democrata da Califórnia, uma vitória que ele atribuiu à sua capacidade de mobilizar 200 eleitores muçulmanos. Ele fez sermões em mesquitas frequentadas principalmente por imigrantes sobre a importância de se ver como parte do sistema político americano, e lançou um Clube Democrático Muçulmano Americano em San Diego. 

"O Partido Republicano jogou completamente a nossa comunidade sob o ônibus", afirma. 

Ele acrescentou seu nome à votação para o conselho da cidade.

Pioneiros 

A chamada à ação entre os muçulmanos americanos rendeu uma gama diversificada de candidatos. Eles incluem ex-funcionários do governo Obama e ativistas políticos de longa data, mas também médicos e advogados, defensores dos direitos das mulheres, um biólogo molecular e um ex-gerente da Planned Parenthood. 

A enxurrada de candidaturas gera muitos "primeiros" em potencial. 

Asif Mahmood, um pneumologista de 56 anos, seria o primeiro comissário de seguros muçulmano na Califórnia. Deedra Abboud, de 45 anos, no Arizona, ou Jesse Sbaih, de 42 anos, em Nevada, pode ser o primeiro senador muçulmano do país. 

E qualquer uma de quatro mulheres muçulmanas — Nadia Hashimi, 40 anos, em Maryland; Sameena Mustafa, 47, em Illinois; ou Fayrouz Saad, 34, e Rashida Tlaib, 41, em Michigan — podem ser as primeiras no Congresso. 

Ativistas políticos muçulmanos e líderes comunitários dizem que notaram mais jovens muçulmanos comparecendo a eventos políticos que vão desde audiências legislativas e reuniões do conselho escolar a passeatas feministas e pelos direitos civis. 

"Acho que você vê esse fortalecimento da geração mais jovem que é como: 'Precisamos nos levantar e compartilhar nossas narrativas e nossas histórias. Não podemos ficar de fora'", diz Abdullah Hammoud, de 27 anos, que venceu as eleições para a assembleia estadual de Michigan em 2016. "Há esse fogo aceso. Eles veem seus direitos sendo retirados, dia após dia." 

Reação

Vários também tiveram de lidar com reações adversas. "Não há espaço para os muçulmanos em nosso governo", escreveu um homem no ano passado na página de campanha de Abboud, no Facebook. Kia Hamadanchy, 32 anos, filho de imigrantes iranianos que está concorrendo ao Congresso no sul da Califórnia, disse que ocasionalmente tem que excluir comentários online, incluindo um que disse: "Ele quer decapitar todos vocês". 

Nawabi diz que algumas pessoas perguntaram por que ele tem barba, se ele fala inglês e até mesmo se é um terrorista. 

Ainda assim, muitos candidatos muçulmanos estão usando sua religião como um distintivo de honra. 

"Como um imigrante muçulmano do grande estado azul da Califórnia, eu sou uma ameaça tripla a Donald Trump!" Mahmood postou em seu site de campanha. 

"Filho de imigrantes palestinos ... a primeira mulher muçulmana eleita para o Legislativo de Michigan", escreveu Rashida Tlaib, candidata ao Congresso. 

Alguns candidatos e ativistas políticos dizem que, mesmo que nenhum candidato muçulmano ganhe este ano, a onda muçulmana azul ainda terá conseguido alguma coisa. O público americano se acostumará a ver cada vez mais candidatos muçulmanos, dizem eles, e a juventude muçulmana verá candidatos que se parecem com eles ou compartilham seus valores. 

Muitos, eles esperam, serão inspirados. 

Sob Trump, Zogby disse: "Ser candidato é uma forma de marcar posição". 

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Jorge Ribas, em San Diego, contribuiu para esta reportagem.

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