A polícia do Irã voltou a perseguir neste sábado (15) as mulheres que não se cobrem com o obrigatório véu islâmico, com o auxílio de câmeras para identificá-las, em um novo passo para reimpor o uso desta vestimenta no país. Muitas iranianas pararam de usar o véu islâmico como forma de protesto e desobediência civil desde a morte sob custódia policial, em setembro do ano passado, de Mahsa Amini, após ser presa justamente por usar o hijab de forma inadequada.
Durante meses, a República Islâmica concentrou-se em reprimir os protestos desencadeados pela morte de Amini e agora, controlada a revolta, voltou-se para a reimposição do véu, obrigatório no país desde 1983. "O plano policial para lidar com o mau uso do hijab nas ruas, veículos e centros comerciais começa a ser aplicado a partir de hoje", informou hoje a agência de notícias Fars, vinculada à Guarda Revolucionária iraniana.
A polícia iraniana anunciou no sábado passado que usaria câmeras e ferramentas inteligentes para identificar mulheres que não usam o hijab em locais públicos e deu prazo de uma semana para começar a aplicar a medida. Mulheres identificadas sem véu receberão uma mensagem de texto informando sobre a violação. Se reincidirem, serão indiciadas e terão de comparecer em um tribunal.
A lei pune com multas e até dois meses de prisão as mulheres que não se cobrem com o véu, mas as autoridades também estudam outras opções como a privação de serviços bancários. Já as mulheres flagradas sem os véus em seus carros correm o risco de ter o veículo apreendido. As autoridades também alertaram lojas e restaurantes para não atender mulheres descobertas e, de fato, já fecharam muitos estabelecimentos por esse motivo.
Iranianas desafiam a polícia
Apesar do anúncio do plano, muitas mulheres andavam sem o hijab pelas ruas da capital neste sábado, assim como nos dias anteriores. Jovens ou idosas, mulheres sem véu faziam compras ou simplesmente passeavam pela rua Valiasr, no norte da capital, alheias às advertências das autoridades. "Não me importa, deixem que façam o que quiserem, vou seguir meu caminho sem usar véu", disse à EFE uma moradora de Teerã.
A Justiça iraniana também anunciou neste sábado que não só as mulheres sem véu serão perseguidas, uma vez que aquelas pessoas que encorajam as mulheres a remover a peça obrigatória em público serão julgadas sem possibilidade de apelação. "O crime de encorajar a retirada do véu será processado em um tribunal criminal, cuja decisão será final e sem possibilidade de recurso", explicou hoje o vice-procurador-geral do país, Ali Jamadi, segundo a agência Mehr.
O procurador afirmou que estimular as mulheres para que deixem de cobrir a cabeça com o véu é um "exemplo claro de promoção da corrupção" e será severamente punido, embora não tenha detalhado as penas. "A penalidade por encorajar e persuadir a não usar o lenço na cabeça é muito maior do que não usar o hijab", acrescentou Jamadi.
Essas medidas se somam a outras ditadas anteriormente para reimpor o uso do véu, símbolo da República Islâmica fundada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini. Nesse sentido, os Ministérios da Educação e da Saúde anunciaram no início do mês que não vão permitir que estudantes que não usem o véu quando frequentarem universidades e escolas. No metrô da capital começaram a ser dadas advertências verbais às mulheres para que se cubram se quiserem usar esse serviço de transporte público.