Uma nova lei proposta pelo Departamento Central de Propaganda do Partido Comunista Chinês (PCCh) entrou em vigor neste mês com o objetivo de impor aos jovens do país uma educação mais patriótica, seguindo os valores do comunismo e do líder da ditadura chinesa, Xi Jinping, diante de um cenário cada vez mais forte de desinteresse da juventude pela política.
A “Lei da Educação Patriótica”, como foi batizada, é a mais nova estratégia do PCCh para “aumentar a unidade nacional”, unindo-se a outras normas do Estado que limitam a influência da religião e de ideologias que vão de encontro ao que o regime chinês impõe. Para o partido, o amor ao país e ao Estado precisam ser incorporados no trabalho e no estudo para todos os públicos, desde as crianças mais novas até aos trabalhadores de todos os setores.
Em dezembro, um porta-voz da propaganda de Pequim disse durante uma coletiva de imprensa que a finalidade do então projeto era "ajudar a China a unificar pensamentos e reunir a força do povo para a grande causa da construção de um país forte e rejuvenescido”.
Uma das principais áreas alcançadas pela lei de 37 cláusulas é a instrução formal. De acordo com a norma, profissionais de todas as áreas de formação devem ser influenciados a demonstrar “sentimentos e comportamentos patrióticos que tragam glória ao país”. Para isso, o regime comunista introduziu a educação patriótica generalizada em cada fase e em todos os níveis de escolaridade.
As novas regras serão integradas nas disciplinas escolares e nos materiais de ensino em todos os tipos de instituições. E a doutrinação segue em casa, onde as famílias agora são obrigadas a orientar seus filhos e incentivá-los a participar de "atividades patrióticas", seja na escola ou em qualquer outro local que eles frequentem rotineiramente.
Os ambientes culturais, como museus e bibliotecas, também devem estar preparados para a educação patriótica. A ditadura de Xi propõe na legislação "o incentivo à visita de destinos turísticos que inspiram o amor à pátria”.
As escolas estão obrigadas a organizar viagens para os alunos conhecerem lugares que estão ligados à história do regime. Os passeios fora das salas de aula já existiam, no entanto agora são oficialmente uma necessidade imposta pelo regime.
O ambiente religioso, que já sofre constantes assédios do governo de Xi Jinping desde sua chegada ao poder, em 2012, também passa a ter o dever de “fortalecer o sentimento patriótico em seus seguidores”, tornando o amor ao Estado chinês um dos temas que precisam estar presentes nos ensinos das igrejas.
A nova educação patriótica chinesa inclui “ideologia, política, história e cultura, símbolos nacionais, unidade nacional e solidariedade étnica, segurança e defesa nacional, e os feitos de heróis e modelos do país”, de acordo com as informações da proposta divulgadas pela agência de notícias estatal chinesa Xinhua.
Apesar de ser uma lei genérica que alcança todo a população chinesa, quando foi proposto no Parlamento, o conjunto de regras deu destaque para a instrução da juventude. Segundo o texto, “ao mesmo tempo em que estipula que todos os cidadãos devem realizar uma educação patriótica, o projeto destaca a educação de crianças e jovens”.
Algumas questões que contribuíram para a criação da norma legislativa são a queda na taxa de natalidade do país no último ano, que atingiu um dos níveis históricos mais baixos pelo segundo ano consecutivo - uma redução de 0,15 por cento da população em relação ao ano anterior; o rígido controle na época da pandemia que provocou uma efervescência de protestos sem precedentes em todo o país contra o governo de Xi e suas medidas; e a retração econômica da China, ligada ao desemprego juvenil, que também são desafios para a ditadura liderada pelo PCCh.
A taxa de desemprego entre a força de trabalho chinesa com idades entre os 16 e os 24 anos chegou a 21,3% em junho do ano passado, face aos 17,3% em janeiro, de acordo com dados do Gabinete Nacional de Estatísticas de Pequim.