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Custo de vida

Com cesta básica subindo acima da inflação, pobreza aumenta na Argentina

Morador de rua em Buenos Aires: economistas projetam números piores até o final de 2022 (Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni)

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A inflação é um problema crônico na Argentina, e os preços da cesta básica mostram que é um drama que atinge de forma muito mais dura a população de menor renda.

O levantamento mensal feito pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) mostrou que em abril o valor da cesta básica alimentar subiu 59,4% na Grande Buenos Aires na comparação com o mesmo mês no ano passado.

Trata-se de uma alta superior à inflação geral acumulada em 12 meses na Argentina, que foi de 58% no mês passado, o maior avanço interanual desde janeiro de 1992.

O valor da cesta básica total na Grande Buenos Aires, que considera também preços de bens e serviços não relacionados à alimentação, como vestuário, transporte, educação e saúde, subiu 51,3% em um ano.

O Indec traça a linha da indigência e da pobreza na Argentina conforme o valor da cesta básica na capital e arredores: quem tem renda abaixo da cesta básica alimentar está na indigência, e quem ganha abaixo da cesta básica total está na pobreza.

Para um adulto, o limiar da indigência em abril ficou em 13.763 pesos (cerca de R$ 570) e o da pobreza, em 30.829 pesos (pouco menos de R$ 1,3 mil). Para uma família de quatro pessoas, os patamares ficaram respectivamente em 42.527 (pouco menos de R$ 1,8 mil) e 95.260 pesos (quase R$ 4 mil).

No final de 2021, os valores de ambas as cestas desaceleraram e a proporção de argentinos vivendo na pobreza era de 37,7% e na indigência, de 8,2%, resultados ruins, mas melhores que o esperado. Entretanto, é consenso entre economistas que esses números vão piorar até o final de 2022.

Agustín Salvia, diretor do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA), destacou em entrevista ao jornal La Nación que já há menor influência de fatores que melhoraram os dados no segundo semestre do ano passado, como aumentos de salários do funcionalismo público e no setor privado formal e atualização de aposentadorias e pensões.

“Embora haja obras públicas, com geração de empregos na construção e em alguns serviços ligados ao consumo, a dinâmica inflacionária anula a capacidade de geração de novos empregos. Para que a pobreza não aumente, os salários devem ser aumentados acima de 60%, mas isso só acontece em alguns setores formais. Os trabalhadores informais e os autônomos são os mais afetados”, argumentou o especialista.

O economista Leo Tornarolli salientou que no primeiro quadrimestre a inflação na Argentina foi de 23,1%, mas os aumentos da cesta básica total (25,1%) e da alimentar (29%) na Grande Buenos Aires foram maiores. “[Dessa forma], o primeiro semestre de 2022 quase certamente mostrará um aumento significativo da pobreza e da indigência”, escreveu no Twitter.

Em estudo publicado no site da Universidade Torcuato Di Tella, o economista Martín González-Rozada estimou que a taxa de pobreza para o semestre entre novembro de 2021 e abril de 2022 seria de 39,1%. “Isso significa que cerca de 40% das pessoas vivem em domicílios pobres”, lamentou.

Este mês, deputados kirchneristas apresentaram um projeto de lei para criar um salário básico universal na Argentina. “O salário básico universal visa eliminar a indigência na Argentina, reduzir a pobreza, valorizar tarefas que o mercado de trabalho não valoriza ou desvaloriza e redistribuir a renda”, disse o deputado Itaí Hagman, em declaração reproduzida pela agência Efe.

Organizações sociais de esquerda realizaram recentemente uma “marcha federal” na qual, além de criticar o acordo argentino com o Fundo Monetário Internacional (FMI), reivindicaram a adoção de um salário-base equivalente ao valor da cesta básica.

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