O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) celebrou nesta segunda-feira (18) em seu reduto da cidade iraquiana de Mossul a vitória conseguida em Ramadi, enquanto a população civil vê com desalento as derrotas do Exército em outras frentes afastarem a possibilidade de libertação.
Desde que Al Ramadi caiu nas mãos do EI, no domingo, milhares de extremistas marcharam pelas ruas de Mossul, alguns acompanhados por sua famílias, disparando ao ar e lançando fogos de artifício.
Esta é a forma de anunciar à população local “a grande vitória”, como denominam a ocupação da província ocidental de Al-Anbar e de sua capital, Ramadi.
Os radicais percorreram em comboios militares as avenidas de Mossul e içaram bandeiras negras de sua organização, enquanto desde as mesquitas ressoa a frase “Alahu akbar” (Deus é grande).
O comandante da União Patriótica do Curdistão (UPK) iraquiano, Gayaz al Suryi, disse em declarações à Agência Efe por telefone que os jihadistas obrigaram a população local a se unir às celebrações.
Apesar do desdobramento dos extremistas pela cidade, a coalizão internacional não efetuou bombardeios devido à grande quantidade de civis que estão nas ruas.
O responsável curdo assegurou que o EI “usa a população como escudo humano para suas criminosas ações” e denunciou que “sua influência aumenta com o atraso do início da libertação liberação de Mossul por parte as Forças de Segurança iraquianas”.
Após a vitória das tropas governamentais na província de Saladino no final de março, o governo iraquiano anunciou que a libertação da província setentrional de Ninawa e de sua capital Mossul era iminente.
Estes sonhos parecem cada vez mais distantes devido ao fracasso em expulsar os extremistas de Al-Anbar.
O jovem Ahmed Ali Jassim, de 29 anos, disse à Agência Efe que foi surpreendido com o barulho dos disparos e os fogos de artifício que iluminaram ontem à noite o céu.
“Nós achávamos que eram as Brigadas de Mossul (opostas ao EI) ou que a grande ofensiva para libertar a cidade, que tanto esperamos, já tinha começado”, indicou sem ocultar seu desalento ao não ver cumpridas suas expectativas.
Uma frustração similar expressou o professor universitário Hamid Saleh, de 42 anos, ao indicar que “depois das vitórias (do governo) vêm as derrotas, porque libertam uma cidade ou zona e depois caem outras áreas”.
Saleh também criticou que as autoridades anunciam amplas ofensivas para derrotar os jihadistas e “nada acontece”.
“Quais foram os resultados das operações para libertar Al-Anbar? Por que há tanto atraso em armar e preparar as forças para libertar a província de Ninawa?”, se perguntou Saleh.
Perante as dificuldades das autoridades iraquianas para recuperar o controle do território, alguns moradores pensam que no final haverá uma intervenção terrestre da coalizão liderada por Washington.
O EI conquistou amplas zonas do território iraquiano em junho de 2014, onde proclamou um califado, cujos domínios mantém praticamente intactos apesar da citada aliança bombardeia suas posições desde setembro do mesmo ano.
Com a queda ontem de Ramadi, a pouco mais de 100 quilômetros ao oeste de Bagdá, as Forças Armadas iraquianas e os milicianos xiitas e tribais se mobilizaram para recuperar esta urbe deixando em segundo plano Mossul.
O próprio governador de Ninawa, Ezil al Nuyeifi, explicou ontem à noite que o atraso na operação militar em sua área se deve ao fato das forças que estavam preparadas para isso serem enviadas a Al-Anbar. Os moradores de Mossul terão ainda que esperar.