Na última sexta-feira (21), o presidente da Argentina, Alberto Fernández, informou que não tentará a reeleição este ano. Em dezembro de 2022, após o anúncio da sua condenação a seis anos de prisão e inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos por corrupção, a vice-presidente Cristina Kirchner já havia dito que não concorreria a nenhum cargo nas eleições de 2023 (devido aos recursos na Justiça, ela poderia participar da disputa).
A desistência dos dois últimos presidentes argentinos peronistas deixa uma grande interrogação sobre quem será o candidato em outubro da corrente esquerdista que venceu quatro das últimas cinco eleições para a Casa Rosada.
Enquanto a oposição já tem pré-candidatos como Horacio Rodríguez Larreta, prefeito de Buenos Aires, e Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança (ambos do grupo político do ex-presidente Mauricio Macri), além do outsider Javier Milei, o peronismo tem vários nomes cogitados, mas nenhum despontando como favorito.
Entre aqueles apontados como possíveis pré-candidatos, estão o atual embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, que foi o candidato presidencial peronista em 2015 (perdeu para Macri); o ministro da Economia, Sergio Massa; o ministro do Interior, Eduardo “Wado” de Pedro; o atual chefe do Gabinete de Ministros, Agustín Rossi; e o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof.
Este, porém, já sinalizou que planeja tentar a reeleição e não concorrer à presidência. Massa vinha sendo, ao lado de Kirchner e Fernández (antes deste anunciar que não concorreria), o nome mais recorrente entre as opções do peronismo em pesquisas de intenção de voto, mas pesa contra ele o péssimo momento da economia argentina.
O dólar segue em disparada, a inflação atingiu em março 104,3% no período de 12 meses (a mais alta em mais de 30 anos) e o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina apresentou no quarto trimestre de 2022 uma retração de 1,5% em relação ao terceiro trimestre.
O candidato peronista à Casa Rosada pode ser escolhido de duas formas: por um consenso interno ou que vários candidatos concorram nas eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO) que serão realizadas em agosto.
No vídeo em que anunciou que não tentará a reeleição, Fernández defendeu a segunda alternativa. “As PASO são o veículo para que a sociedade selecione os melhores homens e mulheres da nossa Frente [de Todos] que melhor nos representem nas próximas eleições gerais”, apontou.
Um consenso, a essa altura, também seria difícil, porque o peronismo está rachado: Fernández teve que conviver durante todo o seu mandato com as críticas da ala kirchnerista, especialmente a respeito do acordo de renegociação da dívida argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e também com interferências nas nomeações de ministros. No meio político argentino, cogita-se que a própria Cristina pode voltar atrás e concorrer novamente à Casa Rosada.
Quem sair vencedor terá que lidar com o desgaste de ser o candidato oficial de um governo que termina de forma melancólica em razão do desastre econômico argentino.
“É um governo que tem menos de 20 pontos de aprovação, sua imagem negativa é a mais alta de todas as lideranças políticas que medimos e tem um nível de aprovação da gestão que nem Cristina nem Mauricio Macri tinham [ao fim de seus mandatos]”, afirmou Mariel Fornoni, diretora da consultoria Management and Fit, em entrevista à agência EFE.
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