Atualizado em 07/04/2006 às 19h55
O primeiro-ministro Silvio Berlusconi e seu adversário de centro-esquerda Romano Prodi realizaram na sexta-feira seus últimos comícios na campanha eleitoral mais acirrada de que se tem lembrança recente na Itália.
Após dois meses de muitas acusações, especialmente em torno da política econômica, os dois candidatos trocaram seus últimos insultos e fizeram suas derradeiras promessas antes da votação de domingo e segunda-feira.
Prodi encerrou sua campanha numa praça ensolarada do centro de Roma, enquanto o primeiro-ministro foi em direção ao sul, para Nápoles.
Berlusconi disse que os eleitores têm de escolher entre um governo de centro-esquerda, "que só sabe taxar, proibir, invejar e odiar", ou um de centro-direita, que oferece "amor e direitos".
Prodi disse aos seus embandeirados seguidores que vai governar "pelo bem maior da Itália". "Nosso governo será para todo o país, para todos."
O ex-presidente da Comissão Européia (Poder Executivo da UE) é o favorito. As últimas pesquisas, divulgadas há duas semanas, davam a ele entre 3,5 e 5 pontos percentuais de vantagem. Não se sabe como se comportou o eleitorado desde então.
Em sua ofensiva final pela virada, Berlusconi prometeu acabar com uma taxa sobre o recolhimento do lixo. Nesta semana, já havia anunciado que, se reeleito, vai dar isenção parcial do imposto sobre imóveis.
Os adversários viram nessas propostas uma tentativa desesperada de conquistar eleitores e afirmaram que, após cinco anos de estagnação econômica, o povo não acredita mais nessas promessas.
"Berlusconi propagandeou sonhos para o futuro, mas eles foram frustrados pela realidade. Por isso acho que haverá uma grande vitória da centro-esquerda", disse o comerciante Stefano Pucci, 40, que foi ao comício de Prodi na piazza del Popolo (praça do Povo).
Nos últimos dois dias, Berlusconi vem falando abertamente sobre uma possível derrota -- palavra que antes não constava em seu vocabulário -- e admitiu estar exausto.
"Se por acaso eu perder, mesmo assim estarei no Parlamento. Ainda estaríamos fortes, com 270 deputados", declarou ele ao jornal Italia Oggi, numa entrevista que sai no sábado. "Estou nos limites das minhas forças. Minha voz está estraçalhada. Estou à base de cortisona", disse o primeiro-ministro, de 69 anos.
Um polêmico sistema eleitoral colocado em vigor às pressas em dezembro implica que o vencedor, seja quem for, terá uma maioria inferior à do atual governo. Isso desperta temores de instabilidade política, e analistas alertam que a ampla aliança de Prodi, que inclui de comunistas radicais a católicos de centro, pode ser particularmente vulnerável a disputas internas.
Comentaristas dizem que as recentes explosões de Berlusconi, como na quinta-feira, quando acusou a oposição de tramar uma fraude eleitoral e cobrou a presença de observadores da ONU, polarizaram a Itália e transformaram a eleição em um referendo sobre sua liderança.
Nesta semana, o premiê provocou uma tempestade política ao chamar os eleitores de centro-esquerda de "coglioni" (forma grosseira para "imbecis"). Na sexta-feira, ao iniciar o comício em Nápoles, ele repetiu a expressão: "Vamos vencer no domingo e na segunda-feira porque não somos 'coglioni"'. Foi muito aplaudido.
A campanha termina oficialmente à 0h de sábado (19h de sexta-feira em Brasília). A partir disso, os eleitores serão poupados durante 24 horas dos comentários dos candidatos, obrigados a manterem silêncio nesse período de reflexão.
As urnas serão abertas às 8h de domingo, e na segunda-feira a votação termina às 15h.
A votação já terminou para os italianos no exterior, que pela primeira vez puderam escolher deputados entre a comunidade que vive fora do país.
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