Iván Duque, que toma posse como presidente da Colômbia nesta terça-feira (7), está prestes a se tornar um forte aliado do governo do americano Donald Trump na América do Sul. Ele tem um projeto para cultivar laços com a Casa Branca e já destacou visões que compartilha com o líder dos EUA sobre controle de drogas, contraterrorismo e o desenrolar da crise política e econômica na vizinha Venezuela.
Duque chegou ao poder em um momento em que a produção de coca no país está em um nível recorde, o que alertou o presidente dos EUA e deu o tom para um possível retorno a uma repressão severa contra o narcotráfico na Colômbia — apoiada pelos EUA. Ele espera transformar as preocupações da administração Trump em uma parceria mais forte com Washington, enquanto promete revisitar elementos de um acordo de paz histórico firmado com as Farc em 2016 — apoiado pelo governo Obama.
"Quando ele for empossado, Duque se tornará, de um dia para o outro, o chefe de Estado mais pró-americano da América Latina", disse um alto funcionário americano que pediu anonimato para falar livremente sobre as prioridades diplomáticas dos EUA.
Trump teve um relacionamento desconfortável com muitos países da América Latina devido a seus comentários depreciativos sobre os imigrantes da região que vão para os Estados Unidos e sua aparente indiferença com questões importantes para o Hemisfério Sul - exemplificada por sua decisão de não ir a Cúpula das Américas, que ocorreu em abril, no Peru.
A Colômbia há muito se posiciona como um dos mais fortes aliados dos EUA e é beneficiária de um apoio bipartidário de longa data, tendo recebido ajuda de US$ 10 bilhões para segurança desde 2000. Mas Trump surpreendeu tanto os republicanos quanto os democratas ao ameaçar, no ano passado, a parceria com a Colômbia na luta contra o narcotráfico.
Agora, a administração americana está abraçando Duque, direitista de 42 anos e educado nos EUA, como um companheiro para manutenção da ordem pública e como uma resposta ao colapso socialista na Venezuela.
A embaixadora dos EUA na ONU (Organização das Nações Unidas), Nikki Haley, próxima a Trump, liderará a delegação americana na posse de Duque nesta terça-feira (7). Ela também visitará a fronteira com a Venezuela, cenário do êxodo em que milhares de pessoas fogem da hiperinflação e repressão do ditador Nicolás Maduro. Em uma reunião separada com Duque, Haley planeja reiterar que a Casa Branca considera os níveis de produção de coca "inaceitáveis".
Acordo de paz
Não está claro por enquanto o nível de entusiasmo da Casa Branca pelo acordo de paz firmado há dois anos entre o governo colombiano e o movimento marxista rebelde das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que acabou com cinco décadas de uma guerra que matou mais de 200 mil pessoas, a maioria civis.
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Embora a Casa Branca oficialmente apoie o acordo, por duas vezes diminuiu o financiamento ao país e se negou a nomear um novo representante americano para supervisioná-lo. A administração Trump não é hostil ao esforço de paz, "mas eles não estão muito envolvidos nisso", diz Bernard Aronson, enviado especial do Departamento de Estado para o esforço de paz na Colômbia.
"Eles disseram que são favoráveis. Não tem sido o foco deles porque foi fechado quando assumiram o cargo, e estão mais preocupados com o aumento da produção de coca que tem ocorrido nos últimos anos", afirma Aronson. "Essa é uma preocupação bipartidária no Congresso também. O presidente eleito está bem ciente de quão importante isso é para o futuro do apoio dos EUA à Colômbia e ao acordo de paz".
Produção de coca preocupa
Haley alertou sobre a ascensão de outros grupos armados e a expansão do cultivo de coca à medida que as FARC abandonam as armas e se retiram do território que ocupam, uma dinâmica que analistas da América Latina dizem ser um sintoma de uma implantação lenta e desigual que compromete o futuro do esforço pela paz.
"O sucesso do acordo de paz é inseparável de nossos esforços compartilhados contra o narcotráfico", diz Haley, citando o compromisso firmado em dezembro entre os Estados Unidos e a Colômbia para reduzir a produção de coca e cocaína em 50% até 2023. "O governo deve acelerar seu esforço antinarcóticos", acrescenta.
Isso é exatamente o que Duque prometeu.
Como candidato, Duque pediu alterações no acordo de paz, fez uma campanha muito mais ampla contra narcotraficantes mexicanos e colombianos, focando em medidas mais fortes de erradicação do tráfico, que possivelmente inclui o retorno da pulverização aérea da produção de coca com herbicidas.
Trump havia pressionado Santos para retomar a pulverização aérea quando os dois se encontraram na Casa Branca em maio de 2017. A prática foi proibida em 2015 por causa dos perigos para a saúde dos camponeses, mas isto também foi visto como um gesto que beneficiaria as FARC e sua base rural de apoio.
"Há basicamente duas políticas em andamento", disse a analista Gimena Sánchez-Garzoli, do escritório de Washington na América Latina. "Uma é a política de Trump e ninguém tem certeza do que é. Não está claro, mas é baseado em ver a Colômbia como parceira enquanto a ameaça sobre as exportações de drogas”, disse. "A outra é a velha política bipartidária, como sempre, em que o Congresso e o Departamento de Estado estão ignorando o presidente e suas ameaças".
O Congresso americano restaurou o financiamento para o processo de paz, e os republicanos estão entre os que pedem a Trump que retire seu ultimato de que iria desclassificar a Colômbia como parceira na guerra contra as drogas se não diminuir a produção de coca.
Em dezembro, autoridades americanas e colombianas se comprometeram em trabalhar por uma redução de 50%, mas esta meta ambiciosa parece ainda mais remota agora, já que as medidas de controle não estão sendo suficientes para conter a expansão da produção.
O Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas calcula que o cultivo de coca na Colômbia aumentou 11% entre 2016 e 2017, passando de 188.000 para 209.000 hectares, e prevê uma expansão adicional neste ano.
A Casa Branca diz que a produção de cocaína também aumentou de 772 toneladas em 2016 para 921 toneladas em 2017 - um salto de 19%. A administração Trump vincula este crescimento a aumentos nas taxas de dependência e overdoses nos Estados Unidos.
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