Uma trégua de dez dias negociada por Washington e Moscou deve permitir, a partir da tarde desta segunda-feira (12), o cessar dos combates em parte da Síria, mas a poucas horas de sua entrada em vigor, a oposição ainda não havia dado seu apoio à decisão.
O presidente sírio Bashar al Assad também reduziu as esperanças de um rápido cessar dos combates ao declarar nesta segunda que quer recuperar todo o território que ainda não está sob controle de seu regime.
“O Estado sírio está determinado a recuperar todas as regiões que estão nas mãos dos terroristas e a restabelecer a segurança”, declarou Assad à imprensa estatal durante uma visita ao ex-reduto rebelde de Daraya, perto de Damasco. O regime utiliza a palavra “terrorista” para fazer referência a rebeldes e jihadistas.
“As Forças Armadas vão continuar seu trabalho sem hesitação (...) e independente dos fatores externos e internos”, completou Assad, a poucas horas do início do cessar-fogo, incluindo os ataques aéreos. O acordo está previsto para começar a vigorar a partir das 19h locais (13h de Brasília).
“Existem aqueles que têm ilusões e há cinco anos não se livraram das ilusões”, afirmou o presidente sírio, a respeito da oposição, de acordo com declarações divulgadas pela agência oficial Sana. “Alguns apostavam em promessas do exterior”, disse, em referência aos apoiadores da oposição, como Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Arábia Saudita ou Turquia. “Estas promessas não se concretizarão”, concluiu.
A oposição síria, por sua vez, pediu garantias sobre a aplicação da trégua.
“Queremos saber quais são as garantias. Esperamos que existam garantias e pedimos garantias especialmente dos Estados Unidos, que é parte envolvida no acordo de trégua”, afirmou à AFP Salem al-Muslet, porta-voz do Alto Comitê de Negociações (ACN) da oposição síria.
Bandeira branca
O anúncio da trégua na sexta-feira aconteceu após semanas de negociações entre Estados Unidos e Rússia, que apoiam respectivamente a rebelião e o regime, e no momento em que os insurgentes passam por dificuldades militares, depois de uma derrota na última batalha de Aleppo.
“Estamos revisando completamente (o acordo). É realmente importante conhecer os níveis de compromisso de todas as partes no acordo, especialmente os Estados”, disse Muslet. “Qual é a definição escolhida para “terrorismo” e qual será a resposta em caso de violação?”, questiona.
Segundo o acordo, Rússia e Estados Unidos concordaram em atacar em conjunto os extremistas, caso a trégua seja respeitada.
O influente grupo rebelde islamita sírio Ahrar al-Sham, por sua vez, rejeitou o acordo de trégua entre Estados Unidos e Rússia, alegando que servirá apenas para “reforçar” o governo de Damasco e “aumentar o sofrimento” do povo.
Corda bamba
Ahrar al-Sham foi o primeiro grupo rebelde a reagir oficialmente ao acordo firmado esta semana entre russos e americanos, em Genebra. Os demais grupos rebeldes - islamitas e não islamitas - e a oposição política ainda não deram uma resposta oficial.
“O povo (sírio) não pode aceitar soluções pela metade”, afirmou Ali el Omar, subcomandante-geral do grupo, em discurso divulgado no YouTube por ocasião da Aid al-Adha, a Festa do Sacrifício, que se celebra amanhã. “O acordo russo-americano (...) faz evaporar todos os sacrifícios e avanços do nosso povo em revolta. Apenas contribui para reforçar o governo e encurralar militarmente a revolução”, denunciou.
Ele rejeitou ainda o segundo ponto do acordo, em virtude do qual Washington deveria convencer os rebeldes a se dissociar de um importante aliado extremista - a Frente Fateh al-Sham (ex-Frente Al-Nusra). Este último, afetado pelo acordo apenas de forma indireta, também reagiu no Twitter.
“É simples. O acordo russo-americano trata da eliminação daqueles que protegem os sírios”, indicou Mostafa Mahamed, um de seus porta-vozes, referindo-se ao grupo.
A resposta da oposição pode ter sido influenciada pela série de bombardeios aéreos de sábado, poucas horas depois do anúncio do acordo.
Os ataques mataram pelo menos 62 pessoas, incluindo 13 crianças, na cidade rebelde de Idleb (noroeste), no momento em que os moradores faziam as compras para celebrar o Aid El-Adha, de acordo com um balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que não teve condições de identificar os aviões envolvidos nos bombardeios.
Também foram registrados bombardeios contra os bairros rebeldes de Aleppo (norte), onde 12 pessoas morreram, e contra outras localidades da província de mesmo nome, que deixaram 18 mortos.