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Além da economia, um grande desafio que a recém-empossada primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, terá pela frente no seu mandato é a segurança pública.
Dois casos recentes de violência chocaram o país. Em agosto, dois homens, um deles condenado por assalto e recentemente libertado em condicional, invadiram a casa de uma moradora de Liverpool, Cheryl Korbel. Um dos criminosos (que estava mascarado) perseguia o outro e efetuou vários disparos, ferindo Cheryl e o condenado recém-libertado e matando a filha da dona da casa, Olivia, de nove anos.
Em fevereiro, um condenado por roubo (tinha um registro de 47 condenações) também recebeu liberdade condicional no País de Gales e menos de uma semana após sua libertação invadiu uma casa em Cardiff e estuprou uma mulher e sua filha de 14 anos. No mês passado, ele foi condenado à prisão perpétua, mas poderá pleitear liberdade condicional daqui a dez anos.
As estatísticas comprovam essa sensação de insegurança em que vive a população britânica. Um relatório do Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês), que compila dados entre abril de um ano e março do ano seguinte, mostrou que os casos de violência contra a pessoa (agressões, homicídios e tentativas) aumentaram 18% na Inglaterra e no País de Gales entre 2021 e 2022, chegando a 2,1 milhões de ocorrências entre o segundo trimestre do ano passado e o primeiro trimestre deste.
É um patamar superior também ao do pré-pandemia, já que entre abril de 2019 e março de 2020 foram registrados 1,8 milhão de casos. Desde o período 2012/2013, quando pouco mais de 600 mil crimes de violência contra a pessoa foram registrados na Inglaterra e no País de Gales, os números têm aumentado ano a ano.
Entre abril de 2021 e março de 2022, também foi verificado um recorde no número anual de registros de estupro na Inglaterra e no País de Gales, com 70.330 casos, mas o ONS apontou que podem ter ocorrido mais notificações desses crimes devido às campanhas para que vítimas relatem a violência que sofreram.
As estatísticas não incluem dados de Escócia e Irlanda do Norte porque os outros dois países do Reino Unido possuem sistemas legais separados.
Em setembro, o jornal The Guardian, com base em dados do Ministério do Interior, informou que, embora tenha sido registrada queda em Londres, os crimes com armas de fogo aumentaram na maioria das regiões da Inglaterra e do País de Gales: 29 das 43 forças policiais dos dois países viram um aumento nos registros nos últimos dez anos. Em oito delas, o índice anual mais que dobrou.
O maior aumento foi registrado na região de Cleveland, no nordeste da Inglaterra, onde os crimes com armas de fogo quase sextuplicaram, passando de 22 registros para 127. A grande maioria dessas infrações, segundo a Agência Nacional Criminal (NCA), é praticada com armas ilegais, que chegam às mãos de gangues por meio de redes criminosas que as trazem da Europa continental escondidas em veículos.
Uma das possíveis explicações para o aumento da violência na Inglaterra e no País de Gales é a queda no número de policiais. No ano passado, o Reino Unido tinha 160 mil deles atuando nas forças de segurança, cerca de 12 mil a menos do que havia em 2010.
Durante a campanha para a liderança do Partido Conservador e para primeira-ministra, Truss disse que retomaria metas nacionais de combate ao crime, com responsabilização dos chefes de polícia das forças que não as cumprirem, aumentaria o efetivo britânico em 20 mil policiais e reduziria os números de assassinatos e crimes violentos em 20%.
Entretanto, ainda não está claro como a nova primeira-ministra planeja atingir esses resultados. “Embora essas demandas possam gerar manchetes atraentes, elas não têm sentido sem maiores explicações da liderança do Partido Conservador”, afirmou Richard Lewis, do Conselho Nacional de Chefes de Polícia, ao Guardian.