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Ciência

Com participação brasileira, cientistas decifram "terremotos" estelares

Imagem mostra recorte do interior de estrela, com representação de estelemotos | Reprodução/CNES
Imagem mostra recorte do interior de estrela, com representação de estelemotos (Foto: Reprodução/CNES)

Já se sabe que o Sol é igual, em essência, às incontáveis estrelas que enxergamos no céu noturno. Mas exatamente quão igual? Um grande passo para encontrar essa resposta foi dado com um estudo divulgado nesta quinta-feira (23) e conduzido com participação de cientistas brasileiros.

Os resultados envolvem três estrelas, ligeiramente maiores do que o nosso Sol. O que os cientistas fizeram foi basicamente analisar o perfil dos "estelemotos" que ocorrem nesses astros. A expressão é de Eduardo Janot Pacheco, astrônomo da USP (Universidade de São Paulo) e co-autor da pesquisa, publicada na edição desta semana do periódico científico "Science".

Um estelemoto é o equivalente estelar de um terremoto. São vibrações que viajam pelo interior da estrela, quicando entre a superfície e suas profundezas, e alteram os modos pelos quais o astro pode pulsar. E, assim como os terremotos podem denunciar a composição das camadas internas da Terra, eles também podem revelar o que se passa no interior das estrelas.

Esse campo de estudo, para o Sol, é chamado de heliosismologia, e tem obtido grandes resultados nos últimos 30 anos. Os cientistas têm observado mais de 1 milhão de modos diferentes pelos quais nossa estrela-mãe pulsa, o que por sua vez ofereceu um quadro detalhado da estrutura solar.

Mas é muito mais fácil estudar o Sol, que está pertinho, do que suas contrapartes mais distantes. Somente agora -- e com a ajuda de um telescópio espacial -- começaram a surgir resultados com os quais os cientistas pudessem confrontar os dados obtidos com o estudo solar.

O equipamento responsável pela façanha é o satélite francês Corot. Ele tem duas funções principais: detectar planetas fora do Sistema Solar e estudar estelemotos. Os dados colhidos em órbita são enviados a estações de terra, entre elas a do Centro de Lançamento de Barreira do Inferno, em Natal (RN). Por conta desse serviço, o Brasil pôde entrar no projeto e participar da análise dos dados científicos.

Três foram as estrelas observadas: HD 49933, HD 181420 e HD 181906. Todas eram maiores que o Sol, mas não muito maiores -- tinham entre 117% e 140% da massa solar. E os resultados foram muito interessantes. De certo modo, acompanharam as previsões: estrelas maiores que o Sol oscilam internamente mais do que seu primo menor. Por outro lado, tiveram uma surpresa: os valores detectados eram 25% abaixos do que as teorias sugeriam.

A conclusão é evidente: dados como esses ajudarão a criar modelos mais realistas de outras estrelas, de modo a compreendê-las tão bem quanto compreendemos nosso próprio Sol. Com isso, a distância entre o que se sabe de heliosismologia e de asterosismologia (o estudo de estelemotos em outras estrelas, que não o Sol) vai encurtando, ao mesmo tempo em que nossa compreensão das estrelas e os fenômenos que as envolvem crescem em precisão e riqueza de detalhes.

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