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Vista aérea da usina nuclear da cidade de Ohi, no centro do Japão, que vai voltar a funcionar para conter a crise econômica no país | Divulgação
Vista aérea da usina nuclear da cidade de Ohi, no centro do Japão, que vai voltar a funcionar para conter a crise econômica no país| Foto: Divulgação

Relato

"Após Fukushima, eles cortaram todo tipo de gastos", diz paranaense

Depois de iniciar o desligamento das usinas nucleares, o governo japonês incentivou o corte nos gastos de energia com a população. Empresas passaram a fazer turnos menores e diversas cidades sofreram apagões nas primeiras semanas após o terremoto que provocou o vazamento na usina de Fukushima, no norte do país.

O paranaense Sadao Shigueoka presenciou toda a crise diretamente do Japão. Natural de Londrina, o aposentado chegou ao território nipônico cerca de um mês antes do desastre de março do ano passado e retornou no início deste ano. "Passei um bom tempo lá, o primeiro mês foi muito bom. O país mostrou um pouco da prosperidade que recuperou depois da crise de 2008 [no setor imobiliário]", diz.

Energia

Para o londrinense, a maior percepção com relação ao fechamento das usinas foi o corte de horas extras e os turnos menores. "Durante o primeiro mês, cheguei a fazer 16 horas de trabalho. Depois de Fukushima, recebi dias de folga. Eles cortaram todo o tipo de gasto", afirma.

Shigueoka tem um irmão que mora no país há 22 anos. Depois que se aposentou, ele decidiu passar alguns meses na cidade de Nagoia, no centro. Trabalhou em montadoras e até recebeu propostas para ir a Fukushima, após o vazamento, trabalhar por duas horas e ganhar o equivalente a R$ 10 mil por mês – o que acabou não acontecendo.

"Depois do terremoto, os brasileiros ficaram bastante receosos [com o vazamento nuclear]. Não havia muito receio entre os japoneses, eles demonstravam menos preocupação", conta.

A economia de energia foi se normalizando ao longo do ano passado. "Foi mais grave nos primeiros meses. Tinha bastante economia de água e comida também. Por sorte, quando retornei, as coisas estavam um pouco mais normais", diz.

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"Se todos os reatores que antes forneciam parte da eletricidade do Japão ficarem parados, ou desativados, a sociedade japonesa pode não sobreviver", declarou o primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, há pouco mais de duas semanas. A fala denuncia um impasse que o país enfrenta nos últimos meses: religar ou não suas usinas nucleares.

A questão surge pouco menos de dois meses depois do desligamento do último reator em funcionamento, na cidade de Tokai. Desde março do ano passado, quando um tsunami seguido por terremoto provocou um vazamento radioativo na usina de Fukushima, a energia nuclear se tornou um dos grandes vilões dos japoneses, que decidiram banir os reatores do país.

O corte no uso de energias nucleares, no entanto, provocou um problema de abastecimento de energia. Por isso, o governo optou por religar dois reatores, localizados na cidade de Ohi. "No curto prazo, os japoneses não terão opção a não ser voltar a utilizar essas usinas. Eles não têm energia suficiente de outras fontes", diz o cientista social das Faculdades Rio Branco Alexandre Uehara.

Segundo dados da­­ Ad­­mi­­nistração de Infor­­ma­­ção de Energia dos Estados Unidos (EIA), depois do incidente em Fukushima, a energia dos japoneses provém principalmente do petróleo bruto, do gás natural e do óleo combustível. Como o país não possui recursos fósseis em abundância, esse tipo de abastecimento depende de importações.

O alto custo para o estado trazer fontes de energia de outros países e os compromissos políticos na redução de CO2 – emitido pela queima de combustíveis fósseis – serviu como pressão para a decisão do premiê japonês.

Para Uehara, a rejeição da população às usinas nucleares, que cresceu desde o vazamento em março do ano passado, é um problema menor diante da crise econômica. "Mesmo que a opinião pública não aceite a energia nuclear, será mais complicado quando o governo não conseguir mais dar conta do desenvolvimento do país. Isso pode afetar muito mais pessoas."

Desenvolvimento

Para o economista Ed­­son Stein, das Faculdades Integradas do Brasil (Uni­­Brasil), a energia é um elemento determinante no desenvolvimento de um país. "Sem isso, o governo fica parado no tempo. As importações [de fontes energéticas] deixam o país dependente do mercado, que pode oscilar o preço e provocar inflação", diz.

Segundo Stein, o preço alto do petróleo, por exemplo, leva ao aumento no custo de produção do país – o que afeta todos os preços da economia. Por isso, o economista defende que os japoneses voltem a utilizar a energia nuclear ou os preços das mercadorias vão aumentar.

"O problema do Japão é a localização geográfica, que faz o país sofrer com terremotos. Mas é importante lembrar que as usinas nucleares são seguras e o governo não pode suportar o aumento desses custos [de produção]", observa Stein.

Sustentabilidade

O religamento das usinas nucleares como forma de manter a estabilidade econômica do Japão reacende discussões sobre energias sustentáveis. Atualmente, apenas 1% da energia japonesa provém de fontes renováveis, eólicas e solares.

O sociólogo do Centro Universitário Curitiba (Uni­­Curitiba) José Edmilson de Souza Lima revela que, até Fukushima, o governo japonês levantava a bandeira de que a energia nuclear era limpa e sustentável. "Existem muitas pesquisas que mostram as vantagens diante de outras fontes. O problema é que não tem como eliminar os riscos de usinas nucleares", afirma.

Lima não acredita que os japoneses vão retomar completamente o uso de energia nuclear. Para ele, o país deve apostar na diversificação de novas energias, utilizando fontes renováveis – que são mais caras – para abastecer a população.

"O risco político de religar as usinas é muito grande. Temos que parar de pensar em critérios econômicos e pesar outras variáveis, como as sociais e ambientais", diz. Para resolver logo esse impasse energético, no entanto, a fonte nuclear ainda é a melhor opção dos japoneses.

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