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CRISE

Com pouco dinheiro, argentinos não abrem mão de bife

Trabalhador prepara o almoço para seus colegas no centro de Buenos Aires | Pablo Gonzalez / Bloomberg
Trabalhador prepara o almoço para seus colegas no centro de Buenos Aires (Foto: Pablo Gonzalez / Bloomberg)

A quatro quadras do palácio presidencial no centro de Buenos Aires, um trabalhador da construção civil organiza o almoço para sua equipe de 25 pessoas. 

Em vez de buscar sanduíches em uma loja próxima, ele prepara duas enormes fatias de carne e linguiças dentro da caçamba de uma escavadeira mecânica de um metro de altura que serve como uma churrasqueira improvisada. 

“É um luxo que não estamos prontos para abrir mão”, diz Carlos, um dos trabalhadores, que pagará 135 pesos (R$ 14) pela refeição servida sem salada ou mesmo prato. “Sem o nosso churrasco de fim de semana, não poderíamos sobreviver”. 

Os argentinos estão dispostos a fazer vários sacrifícios em meio à recessão mais longa em 17 anos – desde comprar pão velho até renunciar as marcas famosas de massas. Mas eles não estão dispostos a economizar em carne bovina. 

Na sexta maior nação pecuária do mundo, a carne grelhada está tão arraigada em hábitos culinários e sociais que o seu consumo está se mostrando resistente enquanto a população aperta os cintos. Os argentinos devoraram seus famosos cortes grelhados a uma taxa anualizada de 57,7 kg por pessoa nos primeiros 10 meses, um pouco acima dos dois últimos anos, segundo dados compilados pelo grupo industrial CICCRA. Uma queda em setembro teve vida curta com a média de consumo voltando em outubro. 

Os dados mostram que a Argentina ainda é muito mais carnívora do que nações muito mais ricas em uma base per capita. Isso pode não surpreender, considerando quão macia e saborosa é a carne bovina do país, de rebanho alimentado com capim. 

Mas está chegando, já que a economia deve encolher 2% este ano, a inflação está em cerca de 40%, o desemprego está chegando a 10% e o peso caindo quase 50%, a maior taxa entre as moedas emergentes. É pouca surpresa, então, que a confiança do consumidor seja a menor desde que o presidente Mauricio Macri assumiu o cargo no final de 2015. 

Outros alimentos essenciais estão sendo atingidos com força. 

O consumo de pães caiu 40% em setembro em comparação com agosto, de acordo com uma organização que representa 300 padarias, em parte por causa de um aumento nos custos, à medida que Macri reduz os subsídios de energia. Algumas padarias pararam de oferecer pão de graça no final do dia e, em vez disso, estão vendendo com um desconto de 50%. 

“Esta crise é a pior que já vi em meus 76 anos”, disse Daniel Insua, assessor e ex-presidente da Western Bakeries Association, por telefone. “Muitos de nossos membros estão voltando a usar fornos a lenha, já que é mais barato do que usar gás natural”. 

O consumo de gasolina premium também caiu quando as pessoas mudaram para combustível regular mais barato, enquanto os consumidores estão preferindo marcas mais baratas de produtos como macarrão, arroz e refrigerantes. Mas há poucos sinais de que eles estão procurando proteínas mais baratas. 

“Alguns, principalmente aposentados, estão comprando menos carne, mas continuam comprando”, disse Delfina Porcel, dona de um açougue e mercearia do bairro de Constitución, em Buenos Aires. “A maioria deles parou de comprar tomates ou alface mas não carne bovina”.

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