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Com saída das tropas americanas, Rússia aumenta influência na guerra da Síria

Foto tirada em 26 de novembro de 2018 mostra um prédio danificado no bairro sírio de al-Rashidin, controlado pelos rebeldes, na zona rural de Aleppo, perto da província de Idlib, na Síria | AAREF WATAD/AFP
Foto tirada em 26 de novembro de 2018 mostra um prédio danificado no bairro sírio de al-Rashidin, controlado pelos rebeldes, na zona rural de Aleppo, perto da província de Idlib, na Síria (Foto: AAREF WATAD/AFP)

Tanto a Turquia quanto os curdos sírios estão depositando suas esperanças na Rússia para resolver os problemas criados pela decisão abrupta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar as tropas norte-americanas da Síria, anunciada no mês passado, que ameaçou iniciar uma nova guerra entre os rivais curdos e turcos.

Autoridades turcas disseram na quarta-feira (9) que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, planeja visitar Moscou neste mês para conversar sobre a Síria e outras questões com o presidente russo, Vladimir Putin. 

Os curdos já entraram em contato com a Rússia para conseguir um acordo com o governo sírio para preencher o vácuo que será deixado pela retirada das tropas norte-americanas, na esperança de evitar um ataque turco, segundo altos funcionários curdos. 

Estes acontecimentos recentes estão destinados a reforçar a posição da Rússia como o principal player na Síria. Como se para ressaltar a importância de Moscou, as tropas russas fizeram patrulhas nos últimos dois dias nos arredores de Manbij, uma das cidades mais disputadas que atualmente está sob o controle dos EUA. 

Na terça-feira, quando o conselheiro de segurança nacional dos EUA, John Bolton, estava deixando Ancara depois que Erdogan se recusou a encontrá-lo, sites russos e curdos postaram vídeos de veículos militares russos roncando no interior da Síria atrás de grandes bandeiras russas. Os vídeos espelhavam imagens similares de patrulhas militares dos EUA de cerca de dois anos atrás.  

As patrulhas russas ocorreram em uma área ao redor da cidade de Arima, que já é controlada pelo regime sírio, e não representam nenhum desafio para as tropas americanas, que estão a vários quilômetros de distância. Mas Aaron Stein, diretor de programas do Oriente Médio no Instituto de Pesquisa de Política Externa da Filadélfia, disse que as patrulhas serviram como um lembrete de que "a Rússia é dona de tudo isso agora".  

Até agora, a Rússia não se comprometeu a ajudar nem a Turquia nem os curdos. Depois que o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, disse a repórteres que Erdogan estava agendando uma visita a Moscou neste mês, o Kremlin disse que os planos de visitar Erdogan em Moscou estão em andamento, mas advertiu que nenhuma data ainda foi marcada. 

Os russos também não se comprometeram com os curdos para apoiar sua busca por um acordo que traria as tropas do governo sírio de volta à área para deter uma invasão turca, disse Saleh Muslim, um alto funcionário do principal partido curdo, a União Democrática. 

Os curdos submeteram uma proposta a Moscou que permitiria ao governo sírio restaurar sua soberania geral sobre a vasta área da Síria tomada pelos curdos desde 2012, primeiro durante a revolta contra o governo sírio de Bashar al-Assad e depois na guerra contra o Estado Islâmico. Em troca, os curdos querem que o governo sírio conceda a eles um grau de autonomia que lhes permita continuar sua experiência de autogovernança, segundo informou Muslim. 

"Nós apresentamos nossa proposta para os russos. Estamos apenas aguardando uma decisão", disse ele. 

Em meio a mensagens conflitantes de membros da administração Trump sobre como a retirada das tropas ocorrerá, parece cada vez mais claro que a Rússia, como o poder de ser a única potência que conversa com todos os jogadores, está em melhor posição para mediar uma solução, segundo Stein. 

"Os EUA estão saindo e os outros países estão se aproximando para preencher o vácuo e todos eles estão conversando. Eles apenas não estão conversando com os EUA", disse ele. 

Falando a repórteres após uma visita à cidade curda iraquiana de Irbil na quarta-feira, o secretário de Estado Mike Pompeo ressaltou que as tropas dos EUA vão se retirar depois que o último território do Estado Islâmico for derrotado. 

Os comentários de Pompeo parecem contradizer as declarações de Bolton no início desta semana. Bolton disse que os EUA não retirariam tropas da Síria sem primeiro receberem garantias da Turquia de que evitaria atacar os curdos – o que provocou uma forte repreensão de Erdogan – e garantias de que o Irã não preencheria o vácuo.

Pompeo pareceu reconhecer que a Turquia está preocupada com a possibilidade de os curdos usarem o território que controlam para lançar ataques contra a Turquia depois que as forças americanas se forem. "Nós reconhecemos que há uma ameaça à Turquia por parte de terroristas e os apoiaremos", disse ele. 

Trump aparentemente prometeu a Erdogan em um telefonema no mês passado que os EUA entregariam a guerra contra o terrorismo na região para a Turquia, de acordo com relatos de autoridades dos EUA. Mas a Turquia considera a principal milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo, como um grupo terrorista que se equipara ao Estado Islâmico, por causa da filiação de militantes curdos que lutam por autonomia dentro da Turquia. 

"Eles são todos iguais para nós", disse Cavusoglu a repórteres na quarta-feira, referindo-se ao Estado Islâmico e aos grupos curdos que lutam na Síria e na Turquia.

A Turquia também está fazendo contatos com o Irã para discutir as consequências da retirada dos EUA da Síria, acrescentou Cavusoglu. "Quer você goste ou não, o Irã é um ator na Síria", disse ele. "Assim, precisamos trabalhar de maneira construtiva com os atores presentes".

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