A crise humanitária causada pelos conflitos no Iraque entre governo e jihadistas já deixou 1 milhão de desalojados, disse a ONU em relatório nesta sexta-feira (20).
De acordo com a coordenadora humanitária da organização no país, Jacqueline Badcock, cerca de 500 mil pessoas saíram de suas casas após os combatentes do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) tomarem o controle da cidade de Mossul, a segunda maior do país, no último dia 10.
Desde a operação, os radicais sunitas lançaram ataques a outros locais-chave, como a refinaria de Baiji --a maior do Iraque-- e ameaçam assédio a locais sagrados xiitas, ramo do islamismo seguido pela maioria dos iraquianos.
Nesta sexta, foram registrados mais confrontos nos arredores da refinaria de Baiji, cercada por rebeldes desde o início da semana. O EIIL afirma ainda ter tomado a maior parte do aeroporto de Tal Afar.
Pelo menos 47 corpos foram encontrados nesta sexta-feira em uma prisão de Tal Afar, que, segundo moradores, pertenciam a presos executados pelas forças de segurança há quatro dias.
Segundo residentes e um detido foragido, os corpos pertenciam aos presos que se encontravam nessa prisão para terroristas e que foram executados pela polícia perante a intensificação dos combates contra a insurgência sunita, afirma a agência Efe.
Já em Mossul, testemunhas disseram que jihadistas destruíram as estátuas de Othman al-Mousuli, um músico e compositor iraquiano do século 19, e de Abu Tammam, um poeta árabe medieval.
O túmulo de Ibn al-Athir, um filósofo árabe que viajava com o Exército do sultão guerreiro Saladino no século 12, foi profanado depois que o EIIL tomou a cidade. Testemunhas disseram que a cúpula do santuário ficou destroçada e um parque ao redor foi também destruído.
Apelo
Ainda nesta sexta, a máxima autoridade xiita do Iraque, o aiatolá Ali al-Sistani, exigiu que o novo parlamento do país se reúna e forme um governo com aprovação de todos, segundo um representante do religioso, Ahmed al Safi.
"É necessário iniciar um diálogo entre os blocos ganhadores [das eleições de abril] para que se forme um governo que obtenha a aceitação nacional", disse Safi durante o sermão da reza das sextas-feiras na cidade santa xiita de Karbala, ao sul de Bagdá.
A Corte Suprema ratificou há quatro dias os resultados das eleições parlamentares realizadas em 30 de abril, que deram a vitória por maioria simples à coalizão xiita Estado de Direito, dirigida pelo primeiro-ministro, Nuri al-Maliki.
Safi, em nome de Sistani, advertiu que "demorar" para formar o novo governo --o atual é interino-- complicará a situação no Iraque.
"A situação atual faz com que seja um imperativo para os iraquianos a solidariedade, a coesão e a cooperação para aliviar o sofrimento das pessoas deslocadas", afirmou.
Estados Unidos, Reino Unido e França, entre outros países, pediram nesta semana a Maliki que formasse um governo "inclusivo", em um momento no qual o país enfrenta o avanço da insurgência sunita liderada pelo jihadista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Sistani fez um apelo aos estabelecimentos de venda de alimentos e pediu para que não subam os preços para ajudar no enfrentamento da crise.