Os palestinos começaram nesta terça-feira a retirar o entulho dos assentamentos judaicos abandonados e demoliram os restos de uma sinagoga incendiada, um dia depois do fim da ocupação militar israelense na Faixa de Gaza.
- O pesadelo acabou, a ocupação foi embora, e Gaza agora está sem colonos. Hoje começamos o trabalho de reconstrução - disse o primeiro-ministro palestino, Ahmed Qorei, em Neveh Dekalim, que era o maior assentamento da região.
Ele pediu a centenas de palestinos que continuam invadindo os assentamentos para comemorar a retirada para que parem de saquear prédios e equipamentos agrícolas deixados para trás pelos judeus, após 38 anos de presença na região.
- Vocês não vão lucrar com um pilar, um tubo de plástico ou peças de madeira que estejam levando. Protejam-nos, porque são seus - pediu o premier.
Já o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, adotou o discurso político, afirmando que a retirada militar de Israel da Faixa de Gaza não é o fim da ocupação iniciada em 1967 e que o Estado judeu deve também deixar a Cisjordânia e a parte leste de Jerusalém.
"A retirada de colonos e do Exército da Faixa de Gaza não significa de jeito algum que a ocupação chegou ao fim", afirmou Abbas em discurso transmitido por TV palestina. "Hoje, Gaza; amanhã, a Cisjordânia e (a parte árabe de) Jerusalém", emendou.
Em Neveh Dekalim, escavadeiras palestinas retiraram pedaços de concreto de casas demolidas pelos soldados israelenses. O entulho estava obstruindo algumas estradas no sul da Faixa de Gaza.
No centro da região, a polícia demoliu a carcaça de uma sinagoga no antigo assentamento de Netzarim. A sinagoga foi uma das várias incendiadas por jovens palestinos que as vêem como símbolos odiados da ocupação.
O Parlamento de Israel realizou uma sessão especial para que alguns legisladores pudessem expressar sua fúria pelo destino das sinagogas, cuja demolição foi considerada por eles contraproducente para o futuro do processo de paz.
Os palestinos ficaram irritados pela decisão do governo israelense de manter as sinagogas intactas. O primeiro-ministro Ariel Sharon tomou essa medida por pressão de rabinos, cujo apoio pode ser essencial para ele na disputa com a direita pelo controle de seu partido, o Likud, antes das eleições gerais previstas para 2006.
Qorei disse que os palestinos manterão temporariamente os nomes dos antigos assentamentos, "atéque cheguemos a um acordo para renomeá-los".
O ministro palestino Ghassan Khatib disse que agricultores começaram também a reutilizar as estufas abandonadas pelos israelenses.
- Temos de começar a trabalhar para ajudar as pessoas a ganharem a vida - afirmou.
Israel abandonou os 21 assentamentos da Faixa de Gaza e quatro dos 120 da Cisjordânia, em agosto. Foi a primeira vez que o país cedeu aos palestinos assentamentos em territórios ocupados durante a guerra de 1967.
Sharon aproveitou a boa repercussão internacional da medida para ampliar o reconhecimento diplomático de Israel. Ele embarcou para Nova York, onde fará na quinta-feira um raro discurso na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e conversará com líderes mundiais, entre eles o americano George W. Bush.
O premier israelense descarta a retomada do processo de independência dos palestinos, abandonado há cinco anos, até que a Autoridade Nacional Palestina desarme as facções extremistas, entrelas o Hamas e a Jihad Islâmica. Israel e os palestinos estabeleceram uma trégua em fevereiro.
Os palestinos comemoram a desocupação da Faixa de Gaza, mas temem que Sharon a use como pretexto para consolidar o domínio israelense na Cisjordânia, onde vivem 245 mil colonos e 2,4 milhoes de árabes.
Outro fator que irrita os palestinos é o fato de Israel, por razões de segurança, manter o controle sobre as fronteiras, o espaço aéreo e o mar territorial da Faixa de Gaza.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura