Entrevista
Gerardo Strada Sáenz, professor de Relações Internacionais e Ciências Políticas na Universidade Nacional de Lanus
Com a morte de Kirchner o partido Justicialista (governista, fundado por Perón) fica mais fraco?
Não, mas existe uma interrogação importante porque Kirchner, além de fundar o "kirchnerismo", também foi um líder que manejou toda a estrutura do que nós chamamos de "armação política", o que gera expectativa sobre quem vai encarar agora a construção política.
Cristina delegou essa responsabilidade ao ex-presidente, e agora pode haver disputas reais de poder entre os seguidores de Kirchner sobre quem vai dar essa nova direção e conduzir o partido.
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O velório do ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner, que morreu na quarta-feira (27) aos 60 anos de idade após uma parada cardíaca, começou pouco depois das 10h locais desta quinta (11h pelo horário brasileiro de verão), na Casa Rosada, sede do governo argentino.
Uma multidão aguardava do lado de fora do prédio para visitar o corpo do marido da presidente Cristina Fernández de Kirchner.
Durante a madrugada, argentinos fizeram vigília na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, em homenagem a Kirchner.
Foram instalados vários banheiros químicos ao redor da Praça de Maio para receber o público. Além disso, foi reforçada a segurança para evitar qualquer problema. O jornal afirma que os restos de Néstor Kirchner chegaram nesta madrugada a Buenos Aires, vindos de El Calafate, na província de Santa Cruz, sul do país.
O relatório médico firmado pelo médico presidencial, Luis Buonomo, confirma que a causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória. O Clarín revela que o ex-presidente era diabético, além de já ter apresentado problemas de coração. Os médicos tentaram reanimá-lo, porém sem sucesso.
Kirchner governou o país entre 2003 e 2007. Atualmente, além de marido da presidente, Cristina Kirchner, era considerado uma voz forte na atual administração, além de ser deputado no país e secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).
Os jornais argentinos destacam a trégua entre adversários políticos, diante da morte do ex-líder. O La Nación, por exemplo afirma que "a oposição deixou as diferenças de lado e privilegiou o respeito". O diário destaca ainda que a presidente ficou em estado de choque ao saber que estava viúva, sendo acompanhada apenas por familiares e pelos funcionários mais íntimos nas horas seguintes à morte.
Homenagens
Noite adentro, simpatizantes se concentravam na praça de Maio, em frente à Casa Rosada, agitando a bandeira nacional e cartazes com mensagens. Personalidades políticas de toda a América Latina são aguardadas nesta quinta-feira no palácio para o velório.
"Precisamos demonstrar solidariedade nos próximos dias para que a oposição não tire vantagem deste momento", disse Roberto Picozze, 25 anos, que foi para a praça de Maio após passar o dia inteiro em casa, à espera do Censo -- que na Argentina foi inteiramente realizado na quarta-feira.
O recenseamento nacional fez com que quarta-feira fosse feriado na Argentina, e por isso os mercados financeiros estavam fechados quando veio a notícia da morte de Kirchner. Mas, nos mercados internacionais, a cotação de títulos e ações do país subiu, refletindo a expectativa de que Cristina adote uma postura mais moderada no relacionamento com investidores, empresários e ruralistas.
A Argentina, importante exportadora de produtos agrícolas, se beneficiou da alta na cotação das matérias-primas desde seu colapso econômico de nove anos atrás. Mas críticos recriminavam as políticas intervencionistas de Kirchner, e diziam que ele não conseguiu pôr o país no rumo do crescimento sustentável nem dominou a inflação.
Adversários do casal presidencial também criticavam seus ataques virulentos contra a mídia, as grandes empresas e os adversários políticos. O presidente, de centro-esquerda, nacionalizou várias empresas e ampliou o papel do Estado na economia. Quando fazendeiros se rebelaram contra um aumento no imposto sobre a exportação de soja, em 2008, Kirchner os acusou de tramar um golpe.
Os mercados financeiros nunca o perdoaram pela dura renegociação, em 2005, de cerca de 100 bilhões de dólares da dívida argentina, após uma moratória. Os donos dos títulos acabaram tendo de aceitar um forte deságio nos seus papéis. Kirchner também criticava duramente o Fundo Monetário Internacional.
Membro do Partido Justicialista (peronista), Kirchner construiu fortes alianças como presidente, o que lhe valeu um sólido apoio. Guiou o peronismo para a esquerda, desmontando o legado do também peronista - mas de direita - Carlos Menem, e cortejou líderes socialistas como o venezuelano Hugo Chávez.
A presença de Chávez é esperada no funeral, assim como dos presidentes do Chile, Sebastián Piñera, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
Em frente à Casa Rosada, a bandeira argentina já tremula a meio-mastro, e simpatizantes deixaram rosas e bilhetes nas grades, alguns com os dizeres "Gracias, Néstor". Uma pixação na parede de um banco pedia: "Força, Cristina".
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