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Uma hora antes de se transformar em Chávez, o comediante Gustavo Ríos maquia a pele, que ganha um tom mais moreno, e acrescenta uma verruga de plástico na parte direita da testa. A caracterização se completa com grandes orelhas de látex e um peruca negra. A voz é outro capítulo à parte. Ríos força ainda mais o sotaque e copia um tom triunfal. As mãos se movem o tempo inteiro.

A imitação começou como uma brincadeira em uma rádio em Maracaibo, cidade onde nasceu sua família. No programa "Com las pilas puestas", fingia falar com os presidentes de Cuba, Rússia e Irã, assim como com Osama bin Laden. Em um dos episódios, chegou a planejar o sequestro do presidente americano, Barack Obama, para torturá-lo com música mexicana.

Mas, por imitar o presidente venezuelano, Ríos pagou um preço alto: foi ameaçado e roubado. Seu carro também foi incendiado. Agora, vivendo em Miami, o comediante ganhou um programa em uma emissora americana, que é transmitida em espanhol.

De vermelho, cor característica do líder venezuelano, o comediante conta piadas sobre sua estadia em um hospital. Em um programa recente, apareceu em um quarto, mas dançou ao som de "Celebration", clássico dos anos 80. O que Ríos nunca faz é mencionar a palavra câncer, doença de que seu pai também padece.

"É uma doença muito dura", conta com voz solene, em entrevista ao "Huffington Post". - Com uma enfermidade assim, ninguém pode fazer piada.

Depois das ameaças, o comediante decidiu pedir asilo com sua esposa e seu filho de três anos e foi viver em Miami, na maior comunidade venezuelana fora do país, onde grande parte é de antichavistas. Até conseguir seu programa, na MegaTV, teve que lavar pratos, entregar pizza e pintar móveis. Enquanto isso, gravava suas imitações - são mais de 80 personagens famosos. Um ator cubano que havia trabalhado na Venezuelana acabou recebendo um dos vídeos e resolveu entrevistá-lo.

Agora, com 40 anos e famoso na cidade, Ríos segue com seu programa. O de quinta-feira passada fez alusão à polêmica foto publicada erroneamente no jornal espanhol "El País". Ao lado de uma enfermeira cubana, Chávez aparece um tanto quanto sedutor. "Os paparazzi fizeram fotos nossas", disse. "Falando nisso, viu a foto do El País?", pergunta a enfermeira."Em que país?", pergunta Chávez.

O comediante conta que que voltar a fazer seus números na Venezuela, assim como os comediantes americanos fazem piadas sobre Obama e Bush. Os chavistas, por enquanto, não acham muita graça dos números. "Quero que eles riam conosco. É preciso saber rir de si mesmo".

Ríos também quer voltar ao país para visitar seu pai, que segue tendo sessões de quimioterapia. Mas sabe que suas imitações podem voltar a lhe causar problemas.

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