Em um raro avanço no diálogo por uma saída à crise política em Honduras, os representantes do presidente deposto Manuel Zelaya e do governo interino voltaram a se reunir ontem para debater como ressuscitar o Acordo de San José, assinado sob a tutela de Washington na semana passada, e que foi decretado "morto" por Zelaya na sexta-feira.
"É possível que encontremos o caminho, há um pré-acordo, mas não quero dar mais detalhes", disse Jorge Reina, negociador de Zelaya, antes.
A retomada das negociações foi possível após o anúncio feito pelo presidente interino, Roberto Micheletti, do adiamento para a próxima semana da instalação do governo de união nacional composto por ele de maneira unilateral na noite da quinta-feira.
Na semana passada, após meses de negociações com o apoio da comunidade internacional e diante da pressão da missão diplomática dos Estados Unidos, as comissões assinaram a versão do Acordo de San José, texto elaborado pelo presidente da Costa Rica e mediador da crise, Oscar Arias, que inclui a formação de um governo de unidade nacional. O documento estabelece ainda que cabe ao Congresso decidir se Zelaya deveria retomar a Presidência.
Na sexta-feira, contudo, Zelaya afirmou que o acordo fracassou depois que o presidente interino Roberto Micheletti anunciou um governo de coalizão apenas com seus próprios ministros.
Para a equipe interina, a proposta de governo de unidade não inclui nenhum partidário de Zelaya porque ele não enviou sugestões de nomes no prazo estabelecido.
A ruptura fez com que a Organização de Estados Americanos (OEA), que tem em Honduras uma missão que vigia o cumprimento do acordo, pedisse às partes que continuassem trabalhando em uma solução, enquanto Washington disse estar decepcionado.
Washington emitiu um alerta de viagem a Honduras que avisa a seus cidadãos sobre a incerteza política e de segurança, e pede que evitem viagens que não sejam necessárias ao país.
Em meio a tantas incertezas, a Venezuela e outros aliados de Zelaya, como Brasil, Equador, Bolívia e Nicarágua, começaram a pressionar a OEA para que não sejam reconhecidas as eleições caso o presidente deposto não seja restituído antes. No entanto, os Estados Unidos afirmaram que reconhecerão o resultado das eleições em Honduras, mesmo sem a restituição.