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Como a caravana de migrantes centro-americanos cresceu e se tornou a maior dos últimos anos

Migrantes hondurenhos que participam de uma caravana em direção aos EUA descansam em um acampamento improvisado durante uma parada em Huixtla,  no México, em 23 de outubro  | PEDRO PARDO/AFP
Migrantes hondurenhos que participam de uma caravana em direção aos EUA descansam em um acampamento improvisado durante uma parada em Huixtla, no México, em 23 de outubro  (Foto: PEDRO PARDO/AFP)

Edith Cruz estava em casa no centro de Honduras, passeando pelo feed do Facebook em seu telefone, quando viu a postagem sobre a caravana em uma página de notícias da comunidade. 

Era 12 de outubro. Ela e sua prima tinham acabado de abrir um pequeno negócio para vender tortilhas quando foram confrontadas por uma gangue e ameaçadas de morte se não repassassem aos criminosos mais da metade de seus lucros. A postagem dizia: "Uma avalanche de hondurenhos está se preparando para sair em uma caravana para os Estados Unidos. Compartilhe isso!". Em três horas, as duas primas já tinham arrumado suas malas.

A questão de como a caravana migrante começou tem ligação com as eleições americanas de meio de mandato, que ocorrem em 6 de novembro. O presidente dos EUA, Donald Trump, e outros republicanos sugeriram que os democratas pagaram os migrantes para começar a jornada. À medida que o grupo continua a crescer – já é a maior caravana do tipo nos últimos anos –, sua formação está sendo examinada: como mais de 7.000 migrantes de toda a América Central se encontraram? 

A história da origem da caravana permanece um tanto nebulosa, mas a resposta de muitos imigrantes é que eles já queriam sair de seus países havia meses ou anos, e então – em um post no Facebook, um programa de televisão ou em um grupo de WhatsApp – eles viram uma imagem do crescimento grupo e decidiram.

"Imediatamente eu sabia que iria", diz Irma Rosales, 37 anos, de Santa Ana, El Salvador. Ela viu imagens da caravana na TV e comprou uma passagem de ônibus para se encontrar com o grupo na Guatemala, na semana passada. 

"Eu estava esperando por uma maneira de chegar ao Norte, e então ouvi sobre a caravana", afirma Ediberto Fuentes, 30 anos, que fugiu de Honduras para o Sul do México, mas ficou preso por meses, sem dinheiro para pagar por um coiote para levá-lo aos Estados Unidos. 

"Arrumei minha mala em 30 minutos", diz Jose Mejia, 16 anos, de Ocotepeque, Honduras, que ouviu falar sobre a caravana quando um amigo bateu à sua porta às 4 da manhã e simplesmente disse: "Estamos indo". 

Na terça-feira (23), eles pararam para descansar na pequena cidade de Huixtla, no Sul do México. Lavaram suas roupas em baldes de água, mandaram mensagens para suas famílias em cybercafés, aceitaram as doações que os residentes locais lhes ofereceram. Houve notícia de que centenas de migrantes de toda a América Central, atraídos pela cobertura da mídia, estavam a caminho. 

Participação da oposição em Honduras

O governo hondurenho afirma que ativistas comunitários, liderados por um ex-parlamentar chamado Bartolo Fuentes, estavam inicialmente por trás do grupo, pretendendo difamar os líderes do país. A maior parte dos migrantes é de Honduras. 

"Há evidências claras de onde isto começou. Bartolo era a pessoa que estava na mídia, ele era o rosto deste evento", afirma Alden Rivera Montes, embaixador de Honduras no México. "Eles estavam tentando mostrar Honduras como um país falido, o que é totalmente falso".

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, em entrevista ao Washington Post na terça-feira, disse que o presidente de Honduras garantiu a ele que a caravana foi financiada pelo governo da Venezuela. Não há evidências que apoiem essa afirmação. 

Fuentes disse ao Post que estava apenas ajudando a conectar pequenos grupos de migrantes que já estavam planejando viajar para o Norte. Em setembro, havia postagens em grupos hondurenhos no Facebook sobre os planos para a caravana. 

"Essas pessoas que normalmente migram escondidas, dia após dia, decidiram se unir e viajar juntas para se proteger", contou Fuentes, afirmando que estava em contato com quatro grupos de pessoas que queriam deixar o país e que estavam falando no WhatsApp e em outras redes sociais sobre a possibilidade de viajar juntos. 

Fuentes tem uma longa carreira como ativista político na esquerda hondurenha. É ex-líder estudantil que protestou contra os grupos que tentaram derrubar o governo da Frente Sandinista na vizinha Nicarágua. Foi eleito para a legislatura em 2013 e apresentava um programa de rádio sobre a migração chamado "Sem Fronteiras". Ele é um firme crítico do presidente hondurenho Juan Orlando Hernández. 

Uma semana antes do início da caravana, Fontes postou em sua página do Facebook sobre a caravana: "Não vamos porque queremos, a violência e a pobreza estão nos expulsando". Convocava as pessoas para se encontrarem às 8 da manhã de 12 de outubro no terminal de ônibus de San Pedro Sula (Honduras). 

"Vamos acompanhar essas pessoas", escreveu Fuentes no Facebook em 5 de outubro. "Vamos apoiá-los pelo menos na partida". 

Força da imprensa e das redes sociais

Os primeiros dias da caravana receberam uma forte cobertura da imprensa em Honduras, particularmente da HCH, uma emissora de televisão popular no país. Quando as pessoas começaram a se reunir no terminal, nos dias 11 e 12 de outubro, pipocaram transmissões ao vivo em várias páginas do Facebook. Antes de os americanos terem ouvido falar sobre ela, a caravana havia se tornado viral na América Central.

"Todo mundo quer saber quem é culpado, quem está por trás disso", diz Irineu Mujica, diretor da organização de voluntários que acompanha migrantes e refugiados Povos Sem Fronteiras. O grupo já defendeu caravanas anteriores, ajudando a organizar as rotas e outros aspectos logísticos. "Mas ninguém tem o poder de organizar tantas pessoas. Ninguém pode planejar um êxodo". 

Em meados de outubro, a intensa cobertura da imprensa e as postagens que viralizaram em redes sociais na América Central provocaram uma explosão no número de migrantes. Poucos dias depois da partida da caravana de San Pedro Sula, em 13 de outubro, quase ninguém saberia contar a história oficial da origem do grupo. Eles poderiam citar apenas o post do Facebook e as reportagens da televisão que influenciaram sua decisão de se juntar ao grupo. 

Muitos dos migrantes observaram a caravana crescer em tempo real, surpresos enquanto os números aumentavam. 

"Quando cheguei no terminal de ônibus (em San Pedro Sula), havia 30 pessoas. Poucas horas depois, havia centenas", afirma José Vijin, 32 anos. 

Opção mais ‘barata’

Caravanas de migrantes viajaram pela América Central por vários anos, seja em protesto pelos direitos humanos, ou como um esforço para garantir a passagem segura dos centro-americanos que atravessam a rota perigosa para o norte. Normalmente, para migrar da América Central aos Estados Unidos é preciso pagar uma série de contrabandistas ligados a cartéis – um valor que pode chegar a mais de US$ 10 mil (equivalente a mais de R$ 37 mil). A caravana oferecia uma maneira relativamente segura de migrar que era basicamente livre de custos.  

A última caravana, que deixou o Sul do México em março, recebeu tanta atenção da mídia, particularmente durante os últimos dias, que parece ter definido as bases para o êxodo que está acontecendo agora, segundo muitos migrantes. O grupo atual é exponencialmente maior que as caravanas anteriores. Hondurenhos, guatemaltecos e salvadorenhos que perderam a chance em março se apressaram em se juntar ao grupo. 

Quando Irma Rosales ouviu falar sobre a caravana em El Salvador, os migrantes já estavam se aproximando da fronteira com a Guatemala. Seu marido havia sido assassinado um ano antes e, depois que ela denunciou o crime à polícia, passou a receber ameaças da gangue MS-13. 

"Eu não tinha dinheiro para pagar um coiote, então a caravana era o único caminho", disse ela. 

Depois que ela viu as imagens do grupo na televisão, ela digitou "migrante caravana" no Google e viu que o grupo chegaria à fronteira Guatemala-México em dois dias. Em 19 de outubro ela pagou US$ 10 para três passagens de ônibus, viajou por 16 horas e chegou à fronteira 
a tempo de alcançar a caravana. 

Então ela comprou um cartão telefônico mexicano e mandou uma mensagem para sua prima em Chicago. 

"Estou indo", escreveu ela.

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