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Cabos eleitorais da candidatura governista a presidente da Nigéria, dos muçulmanos Bola Tinubu e Kashim Shettima
Cabos eleitorais da candidatura governista a presidente da Nigéria, dos muçulmanos Bola Tinubu e Kashim Shettima| Foto: EFE/EPA/Akintunde Akinleye

País com um vasto registro de conflitos políticos, étnicos e religiosos, a Nigéria vai às urnas neste sábado (25) para escolher o sucessor do presidente muçulmano Muhammadu Buhari. Um grupo dedica especial atenção à eleição deste ano no país mais populoso da África: os cristãos.

A organização Portas Abertas colocou a Nigéria no sexto lugar no seu mais recente ranking de países onde há maior perseguição a cristãos. A violência ocorre principalmente no Norte do país, por parte do Boko Haram, do Estado Islâmico da Província da África Ocidental e de militantes fulanis.

Embora toda a população da região sofra com esses ataques extremistas, comunidades cristãs são mais visadas e apontam negligência por parte do governo no combate a essa violência.

Em 2020, o Parlamento Europeu apontou numa resolução que Buhari foi reeleito em 2019 “com a promessa de derrotar o extremismo violento empreendido pelo Boko Haram e outros grupos terroristas”, mas, ao invés disso, o governo nigeriano “criou o vácuo dentro do qual o extremismo islâmico consegue florescer”.

No ano passado, a Associação Cristã da Nigéria (CAN, na sigla em inglês) e o Fórum dos Anciãos Cristãos do Norte (Noscef) manifestaram preocupação com a possibilidade de os dois principais partidos da Nigéria, o Partido Democrático do Povo (PDP) e o Congresso de Todos os Progressistas (APC) – este, o partido de Buhari –, apresentarem para a eleição presidencial chapas em que os candidatos a presidente e vice fossem ambos muçulmanos.

“Não apoiaremos uma chapa cristão/cristão ou uma chapa muçulmano/muçulmano. Os políticos podem falar de política, mas já expusemos nosso ponto de vista há muito tempo. Qualquer partido que tentar uma chapa da mesma religião fracassará”, apontou a CAN em comunicado, citando a preocupação de que um governo com presidente e vice muçulmanos pode seguir fazendo vista grossa à violência contra os cristãos – ou de que a situação fique ainda pior.

“Mesmo quando temos um governo muçulmano/cristão, a Igreja ainda enfrenta um inferno. Só Deus sabe o número de cristãos que foram mortos nos últimos sete anos sem que ninguém fosse preso ou processado. Imagine como será se tivermos dois muçulmanos no poder?”, disparou.

Por fim, o PDP apresentou uma chapa com um candidato presidencial muçulmano, Atiku Abubakar, e um vice cristão, Ifeanyi Okowa. Porém, o APC optou por dois candidatos muçulmanos, Bola Tinubu (para presidente) e Kashim Shettima (para vice-presidente).

O líder nas pesquisas é Peter Obi, do Partido Trabalhista, um cristão que tem como companheiro de chapa o muçulmano Yusuf Datti Baba-Ahmed. Entretanto, analistas políticos fazem a ressalva de que o comparecimento às urnas é historicamente baixo nas eleições nigerianas, especialmente entre os jovens, segmento no qual Obi tem grande apoio, e de que as pesquisas eleitorais africanas não são confiáveis como as realizadas na Europa.

A questão dos cristãos é tão forte na eleição presidencial deste ano que os Líderes Cristãos do Norte do APC anunciaram no final do ano passado apoio a Obi, em detrimento da chapa do seu próprio partido.

“Certamente, a chapa com candidatos da mesma fé do APC visa envergonhar os cristãos e conferir a eles e à sua religião um status sócio-político de segunda classe dentro do seu próprio país. Em particular, é uma validação da discriminação e opressão impostas aos cristãos do norte da Nigéria, onde hoje lhes são negados empregos, promoções, contratos e admissão em cursos de prestígio e de maior potencial econômico em faculdades estatais simplesmente por causa da sua religião”, apontou a associação em comunicado, no qual acusou Bola Tinubu de “não ter nenhum respeito pelos cristãos e pelo cristianismo”.

Em artigo recente publicado no site The Conversation, Adeyemi Balogun, professor de história da religião na Universidade Estadual de Oxum, pregou a necessidade de diversidade religiosa entre os ocupantes de cargos públicos, de forma a combater a intolerância dentro do Estado e disseminar esse ponto de vista para toda a população nigeriana.

“Misturar religião com política não é um bom presságio para a tensão em curso em muitas regiões do país. Essas tensões podem prejudicar seriamente o já fragilizado Estado nigeriano”, alertou.

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