| Foto: EFE/ Andre Coelho
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Todos os maiores veículos da imprensa internacional dedicaram parte da sua cobertura às eleições brasileiras neste domingo (30). "O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, um ícone da esquerda latino-americana, derrotou o presidente Jair Bolsonaro no domingo para conquistar um terceiro mandato liderando o maior país da região, disse o Tribunal Superior Eleitoral, coroando um notável retorno político menos de três anos depois ele saiu de uma cela de prisão", escreveu o Washington Post.

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O jornal The New York Times resumiu a história de Lula e sua vitória com "da presidência à prisão e de volta", algo que antes parecia "impensável", e o segundo turno como um enfrentamento entre "as talvez duas maiores figuras políticas viventes do Brasil". O resultado encerra o tempo turbulento de Bolsonaro como o líder mais poderoso da região. A publicação creditou ao derrotado uma "exacerbação da pandemia" que deixou 700 mil mortos, e disse que ele se tornou uma das principais figuras internacionais da "extrema direita" por seus "ataques rudes à esquerda, à imprensa e às instituições democráticas". Também o comparou ao ex-presidente Donald Trump, antecipando a possibilidade de Bolsonaro não aceitar a vitória de Lula. "Os resultados no domingo deixaram claro que dezenas de milhões de brasileiros se cansaram de seu estilo polarizante e do tumulto frequente de seu governo", conclui o NYT. Ainda sobre Lula e sua vitória, "uma porção considerável dos 217 milhões de brasileiros ainda veem o Sr. da Silva como corrupto", pois, ainda que suas condenações tenham sido anuladas pelo Supremo, "ele nunca foi inocentado".

O jornal The Wall Street Journal diz que a vitória de Lula consolida a guinada da América Latina para a esquerda. Quando ele tomar posse em 1º de janeiro, "todo país importante da América Latina, da Argentina ao México, será administrado por um governo esquerdista". A publicação comenta que Bolsonaro precisou nadar contra a corrente para permanecer no cargo, mesmo tendo surpreendido os analistas por se sair melhor que o esperado no primeiro turno. "Por pequena margem, os eleitores preferiram Lula porque querem o retorno de um passado próspero que é creditável às commodities da China, que na época encheram o Brasil de dinheiro e permitiram que o país pagasse suas dívidas internacionais. O futuro pode ser menos próspero: economistas projetam um crescimento de 0,6% no próximo ano, especialmente com a grande parceira China enfrentando seus próprios problemas econômicos. Embora o desemprego tenha caído sob Bolsonaro nos últimos meses, ainda é maior que no último ano do último mandado de Lula".

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Na França, os dois principais jornais do país deram a eleição do petista como manchete: "Lula, a vida extraordinária do incansável campeão da esquerda brasileira", publicou o Le Figaro. "Eleição presidencial no Brasil: Lula eleito por pequena margem contra Bolsonaro no segundo turno", noticiou o Le Monde.

O jornal de viés conservador Le Figaro publicou que "a campanha entre esses dois homens que se opõem a tudo aconteceu em um clima brutal que os viu se insultarem copiosamente enquanto as redes sociais, única fonte de informação para a maioria dos 170 milhões de usuários brasileiros, carregavam torrentes de desinformação".

Para o britânico The Guardian, Lula triunfou sobre a "extrema direita" em uma virada "espantosa", o mais importante resultado em décadas para uma das maiores democracias do mundo, e para "o futuro da Amazônia e do planeta". A cobertura comenta que o humor mudou entre os apoiadores de Bolsonaro dos jingles e fogos para hinos e orações evangélicas. O jornal, que tem viés progressista, selecionou uma fala de um apoiador do presidente que acusou o resultado de fraude e pediu por intervenção militar, mas apontou que a maioria dos apoiadores foram para casa resignados.

O jornal britânico The Times comentou que Lula ganhou de Bolsonaro "por um fio de cabelo" após uma apuração "de fazer roer as unhas". Para o Times, todos os olhos agora estão em Bolsonaro e se ele aceitará o resultado. Segundo a publicação, ambos resistiram a debates sobre programas políticos, "escolhendo em vez disso atirar insultos" um contra o outro. Bolsonaro teria sugerido que as urnas eletrônicas poderiam ser hackeadas, "mas falhou em dar evidências disso". Lula capitalizou sobre seus mandatos de 2002 a 2010, que coincidiram com um boom de commodities e durante os quais milhões saíram da pobreza.

A revista Time chamou a vitória de Lula de "retorno político espantoso" graças a um apelo à nostalgia por suas gestões passadas, e o resultado mais apertado em três décadas, com também uma primeira derrota de um presidente em exercício para a reeleição desde os anos 1990. Para a Time, Bolsonaro teria capturado a atenção internacional nos últimos quatro anos com um desmantelamento das proteções para a Amazônia, uma firme oposição às vacinas para Covid-19 e ao distanciamento social, e uma série de comentários ofensivos "sobre as mulheres e as minorias". Com link para uma entrevista própria com o ex-juiz Sergio Moro de maio de 2020, a revista diz também que o governo foi caracterizado por uma série de escândalos com abusos de poder e rompimento de normas.

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Os jornais argentinos deram grande destaque às eleições brasileiras. "Como a economia se converteu no tema central da disputa entre Lula e Bolsonaro", analisou o La Nación. O periódico argentino também destacou a reação do presidente Alberto Fernández ao resultado brasileiro: "O presidente comemorou a vitória de Lula e disse que não terá mais que 'sofrer' a 'hostilidade' do Brasil", ressaltando os laços históricos do lulismo com o kirchnerismo. "Lula vence Bolsonaro por menos de dois pontos e voltará à presidência", publicou o Clarín: "No final de uma campanha agressiva, em um clima histórico de polarização e após uma contagem voto a voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalmente prevaleceu neste segundo turno contra o atual presidente Jair Bolsonaro e retornará ao palácio presidencial em 1.º de janeiro".

Para a CNN Internacional, a vitória é parte de uma onda política de esquerda na América Latina, com sucesso na Argentina, Colômbia e Chile. A campanha de Lula buscou tranquilizar os moderados com uma ampla aliança que incluiu "muitos políticos de centro e centro-direita, incluindo opositores históricos do PSDB". A garantia de moderação seria o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, um desses opositores históricos.

A Fox News. conglomerado conservador americano, publicou reportagem com o seguinte questionamento: "Lula vence a presidência enquanto a nação dá uma guinada à esquerda - Bolsonaro aceitará os resultados?". No texto, a rede destacou que aliados de Bolsonaro controlarão "os três maiores estados brasileiros": Romeu Zema em Minas Gerais, Claudio Castro no Rio de Janeiro e Tarcisio de Freitas em São Paulo. "Ainda que não tenha vencido, o movimento de Bolsonaro permanece forte, e os 156 milhões de eleitores brasileiros continuarão profundamente divididos cultural e politicamente". Respondendo à pergunta feita no título de sua reportagem, a Fox News lembrou que Bolsonaro afirmou publicamente que respeitaria o resultado das urnas.

A Fox News também afirmou que Lula enfrentará um mandato difícil, pois haverá considerável oposição no Congresso da grande bancada de deputados e senadores alinhados com Bolsonaro. A escolha de Alckmin como vice por Lula foi "uma jogada astuta" — comparativamente, a escolha de Haddad em 2018, Manuela D'Ávila, "era vista por muitos como extrema demais".

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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