Um novo mundo surgiu após a derrocada do bloco soviético entre 1989 e 1991, diferente, selvagem e em transição. Nele, a "economia bandida" passou a ocupar os espaços vazios deixados pelos governos, pelo declínio dos sindicatos e das estruturas das sociedades civis e pela entrada maciça da mão de obra informal nos mercados de trabalho, tanto do antigo bloco comunista quanto da China e do Ocidente. É do caos que emergiu após 1991 que trata o livro Economia Bandida (Rogue Economics) da jornalista italiana Loretta Napoleoni. Um caos que passa pela atuação das máfias, a proliferação do tráfico de drogas, degradação ambiental acelerada, escravidão de milhões de seres humanos e fraudes no mercado financeiro.
O intuito do livro não é criticar a globalização, desmascarar uma publicidade agressiva que vende a eterna juventude e o bem-estar, muito menos propor a volta a um mundo que morreu no começo dos anos 1990. É simplesmente contar aos consumidores como funcionam as engrenagens que movimentam negócios legais e ilegais, da indústria ilegal da pesca à prostituição e à pornografia, passando pela indústria alimentícia que vende como saudáveis produtos que provocam a obesidade, doença que já mata mais que o tabagismo nos EUA e em alguns países.
Mercadorias e serviços que, conta Loretta Napoleoni, são muitas vezes produzidas a milhares de quilômetros de distância de onde são consumidas, por pessoas que vivem num regime de escravidão ou semiescravidão.
"Hoje, o preço médio de um escravo é 10 vezes menor do que no Império Romano, época histórica em que a democracia viveu, quem sabe, o seu ponto mais baixo. Para os romanos, escravos eram mercadoria escassa e preciosa pela qual se cobravam altos preços; hoje, escravos são mercadoria abundante e descartável, um custo como outro qualquer "nos negócios internacionais".
"Disseminou-se a democracia, e com ela a escravidão. No fim da década (de 1990), um número de pessoas estimado em 27 milhões havia sido escravizado em vários países, inclusive da Europa Ocidental."
"A queda do Muro de Berlim gerou o caos político. Os vencedores foram os fora da lei e os cafetões da globalização, os oligarcas russos, a Ndrangheta (máfia calabresa) e a nomenklatura búlgara pessoas que se adaptaram, elas próprias e suas redes, às novas, imprevistas e excepcionais circunstâncias", escreve a autora.
Da pesca ilegal do atum no Mediterrâneo, ao tráfico de escravas eslavas dos países do extinto bloco soviético, à formação das gangues nas empobrecidas cidades da América Central, o cenário que a autora apresenta é de um mundo em transição rápida, sensação que o advento e a expansão da Internet rede também usada para várias atividades fora da lei apenas fizeram crescer.
A autora também aborda o pesado endividamento das famílias de classe média no Ocidente, principalmente nos Estados Unidos, feito sobre a ilusão do crédito fácil e do sonho americano.
Mas o livro de Loretta Napoleoni não segue um tom pessimista. A autora indica que a civilização pode ser salva por um novo contrato social, em que haja uma separação bem mais nítida entre cidadão e Estado.
"O socialismo e o comunismo, como ideologias políticas, nasceram das primeiras lutas dos sindicatos de trabalhadores. As lutas pela igualdade travadas pelos partidos de esquerda incluíam a renegociação do contrato social. Um cenário semelhante provavelmente surgirá quando a poeira gerada pela economia bandida finalmente se assentar", acredita a autora.
Serviço: Economia Bandida (Difel, 350 páginas, R$ 42) chega às livrarias brasileiras no começo de abril.
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