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A Alemanha ultrapassou a marca de 100 mil mortes por Covid-19 nesta quinta-feira (25), dia em que foram registrados novos recordes de casos no país. Em meio à transição de governo, o país europeu começa a debater a possibilidade de novos lockdowns e de vacinação obrigatória contra o coronavírus.
A quarta onda de contágios na Alemanha é diferente dos surtos anteriores ocorridos no país. A variante delta do coronavírus, mais contagiosa, é responsável pela quase totalidade dos casos. A incidência atual de contágios é muito maior do que a do inverno de 2020, quando a campanha de vacinação ainda não tinha começado. No entanto, os números da pandemia na Alemanha demonstram que os não vacinados estão sendo afetados pelo coronavírus em números mais altos do que os vacinados.
Nesta quinta-feira, o Instituto Robert Koch (RKI) informou que foram registradas 351 mortes por Covid-19 e mais de 75,9 mil casos da infecção nas 24 horas anteriores no país. A incidência de contágios também alcançou uma marca inédita na Alemanha, com 419,7 positivos para cada 100 mil habitantes nos últimos sete dias. O estado com a maior incidência atual na Alemanha, a Saxônia, chegou a 1.074,6 casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias.
O ministro alemão da Saúde, Jens Spahn, disse no começo da semana que o país enfrenta uma "emergência nacional" e voltou a incentivar a população a se vacinar, usando palavras drásticas:
"Possivelmente, ao fim deste inverno, praticamente todos na Alemanha - isso às vezes é dito de forma algo cínica - estarão vacinados, curados ou mortos. Mas de fato é assim", disse Spahn, em alusão ao sistema chamado 3G usado no país, que limita o acesso a locais públicos a pessoas "vacinadas, curadas ou testadas".
As vacinas estão disponíveis no território alemão, de forma gratuita, para todos os maiores de 12 anos. Cerca de 68% da população já está completamente vacinada, ou cerca de 56,7 milhões entre os 83 milhões de habitantes do país.
Os números oficiais indicam que as mortes e hospitalizações não têm acompanhado a alta de casos na mesma proporção durante a quarta onda na Alemanha, quando uma parcela significativa da população já está vacinada.
O gráfico acima, do site Our World in Data, uma publicação da Universidade de Oxford, mostra a evolução dos casos confirmados de Covid-19 acumulados desde janeiro de 2020 na Alemanha (na linha em azul) e o total acumulado de mortes pela doença no país (na linha em laranja).
Incidência entre vacinados e não vacinados
A separação dos dados da incidência de Covid-19 de acordo com o status de vacinação, que tem sido divulgada por estados alemães e pelas autoridades nacionais de saúde, demonstra como a vacinação está prevenindo casos graves e hospitalizações pela doença.
O estado da Baviera, por exemplo, publica semanalmente a incidência separadamente entre vacinados e não vacinados. Nesta quinta-feira, a incidência registrada nos últimos sete dias foi de 112,7 infecções por 100 mil vacinados, e de 1.726,3 entre os não vacinados no estado do sul da Alemanha.
A diferença na incidência entre vacinados e não vacinados na Baviera tem aumentado a cada semana. Hoje ela é 15 vezes maior entre os não vacinados, enquanto duas semanas atrás, esse fator era de 9,8. As taxas de hospitalização dos vacinados também são menores. Cerca de 90% dos pacientes de Covid internado em hospitais no estado não tinham sido vacinados, disse o governado Markus Söder na semana passada.
Nacionalmente, o cenário se repete. Os boletins do Instituto Robert Koch sobre a situação da Covid na Alemanha recentemente passaram a incluir a incidência dos casos sintomáticos de Covid-19 e dos hospitalizados pela doença separadamente entre os vacinados e não vacinados, de acordo com a faixa etária.
Na Alemanha, na semana de 8 a 14 de novembro, a incidência de casos sintomáticos de Covid-19 para cada 100 mil não vacinados / completamente vacinados, de acordo com a faixa etária, foi a seguinte, de acordo com dados do RKI divulgados nesta quinta-feira:
Durante a mesma semana no país, a taxa de hospitalizações por casos de Covid-19 para cada 100 mil não vacinados / completamente vacinados, de acordo com a faixa etária, foi a seguinte:
"Um dia triste", lamenta Merkel
A chanceler alemã Angela Merkel, que em breve deixará o cargo, lamentou a marca de 100 mil mortes da pandemia alcançada no país nesta quinta-feira.
"O dia em que devemos lamentar 100 mil vítimas do coronavírus é um dia triste", disse Merkel em entrevista coletiva.
Ela pediu que o próximo governo atue rapidamente para impor novas medidas de distanciamento, para frear o avanço dos contágios. "As pessoas que adoecem hoje são os pacientes de terapia intensiva dos próximos 10 a 14 dias. Portanto, é crucial garantir que nossos hospitais não fiquem sobrecarregados", defendeu.
A nova aliança de três partidos que deve assumir o governo no início de dezembro anunciou, durante a apresentação do seu acordo de coalizão na quarta-feira, que irá formar uma equipe de especialistas para avaliar a situação diariamente.
Em várias regiões da Alemanha, medidas foram impostas para permitir o acesso a estabelecimentos fechados apenas às pessoas vacinadas ou que se recuperaram da doença recentemente, e não mais a quem tenha um teste negativo.
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