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Segurança

Como a omissão do Estado transformou Rosário na cidade mais violenta da Argentina

Atentado no supermercado da família da esposa de Messi motivou reforço no número de agentes federais em Rosário, após anos de violência provocada pelo narcotráfico (Foto: EFE/Franco Trovato Fuoco)

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Rosário se tornou conhecida mundialmente como a cidade natal de Messi, o craque que recentemente foi eleito novamente o melhor jogador de futebol do mundo. Entretanto, também vem ganhando fama internacional por ser a mais violenta cidade da Argentina – e um episódio envolvendo justamente Messi escancarou isso.

Na semana passada, o supermercado da família da esposa do craque, Antonela Rocuzzo, localizado em Rosário, foi alvo de tiros, em incidente que não deixou feridos. Os autores do ataque deixaram uma mensagem dirigida ao jogador do Paris Saint-Germain e ao prefeito da cidade, Pablo Javkin.

“Messi, estamos te esperando. Javkin também é um alvo, não vai proteger você”, escreveram os criminosos em um papelão que foi encontrado diante do estabelecimento.

O atentado ao supermercado foi apenas uma amostra da violência que assola Rosário: em 2022, a cidade teve mais de 280 homicídios, índice que ultrapassou a taxa de 20 assassinatos por 100 mil habitantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a violência é epidêmica numa região quando ocorrem mais de dez homicídios para cada 100 mil habitantes.

Para se ter uma ideia, a capital argentina, Buenos Aires, que tem mais de 3,1 milhões de moradores (Rosário tem cerca de 1,3 milhão), registrou no ano passado 88 homicídios, o que representou uma taxa de 2,86.

O Ministério da Segurança ainda não compilou os dados de todo o país em 2022, mas em 2021 a taxa de homicídios em toda a Argentina foi de 4,6 a cada 100 mil habitantes.

Eugenio Burzaco, ex-secretário de Segurança Nacional, afirmou em entrevista ao podcast do site Infobae que a violência ocorre em Rosário devido à ação de grandes narcotraficantes: a região é um ponto de convergência de quase todas as rotas relevantes que, a partir do norte argentino, trazem drogas dos principais países produtores de cocaína e maconha.

Outro fator é a Hidrovia Paraguai-Paraná, que, segundo Burzaco, “se transformou, de uma verdadeira via comercial para Paraguai, Bolívia, sul do Brasil, Argentina e Uruguai, em um viaduto para o tráfico de cocaína para a Europa”.

“A situação de tão acentuada deterioração que assola uma das principais cidades do país se deve ao avanço das máfias do tráfico que hoje controlam o território e a um misto de cooptação e deterioração das forças de segurança que entregaram, sob a passividade de seus administradores políticos, o monopólio do uso legítimo da força”, acrescentou o ex-secretário de Segurança Nacional.

Reforço tardio

Após admitir a crise de segurança em Rosário, o presidente Alberto Fernández autorizou o reforço das forças federais presentes em Rosário até chegar a 1,4 mil agentes e o envio do Comando de Engenheiros, cuja principal tarefa será acelerar as obras de urbanização em bairros periféricos.

Para os políticos locais e analistas, entretanto, a ajuda demorou demais para chegar. “Nos últimos dez anos, houve 2,5 mil assassinatos em Rosário, mas nada comoveu tanto o poder político quanto um tiroteio quase rotineiro na cidade, contra a fachada de um supermercado fechado, sem mortos ou feridos”, escreveu Héctor Gambini, colunista do Clarín.

No artigo com o irônico título “Obrigado, Messi: o governo descobriu Rosário”, Gambini destacou que, em um ano eleitoral, Fernández finalmente anunciou medidas para reforçar a segurança na cidade “após três anos deixando-a abandonada à própria sorte”.

Em entrevista à rádio Urbana Play, Javkin, o prefeito de Rosário, agradeceu pelo envio de mais agentes federais, mas reclamou da demora e cobrou melhoria da segurança também nas áreas de fronteira argentinas.

“Não acredito que as forças federais não estejam no nó logístico mais importante da Argentina e, portanto, o lugar onde mais opera o narcotráfico. Somos parte da Argentina, as forças são federais. Têm de estar nas fronteiras, têm de estar nos portos importantes e têm de estar nos nós logísticos de recepção terrestre [de mercadorias]”, justificou.

“Se há drogas em Rosário, é porque atravessam a fronteira. Se há armas em Rosário, é porque circulam armas ilegais que chegam aqui”, apontou Javkin. Resta saber se essa inédita atenção dedicada à terceira maior cidade argentina durará até as eleições de outubro e se permanecerá depois disso. (Com Agência EFE)

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