Após a imposição de sanções pelo governo americano que proíbem a venda de petróleo da Venezuela para os Estados Unidos, a empresa estatal de petróleo venezuelano, PDVSA, passou a vender o produto para pequenos compradores, incluindo uma microempresa da Turquia que não possui refinarias, mas tem ligações com o regime do ditador Nicolás Maduro, segundo reportagem da Reuters, que cita documentos internos e fontes da PDVSA.
As rígidas sanções foram impostas pelos EUA em janeiro, como forma de forçar a saída de Maduro do poder. Até então, os maiores compradores de petróleo venezuelano eram os Estados Unidos, seguidos por Índia e China, os dois países que mais compram o produto atualmente.
Três fontes com conhecimento da questão disseram à agência de notícias Reuters que, em uma reunião de 14 de março, diretores da PDVSA decidiram suspender algumas exigências para novos clientes ou fornecedores, incluindo a de ter pelo menos dois anos de experiência na indústria do petróleo.
Após as mudanças, uma companhia turca chamada Grupo Inveex Insaat começou a comprar petróleo venezuelano em abril, de acordo com documentos relacionados aos planos da PDVSA e relatórios internos sobre exportações e importações para o primeiro semestre deste ano.
A empresa foi fundada há menos de um ano, com um capital de US$ 1.775 (cerca de R$ 6.500) e sua atividade principal é listada como "construção residencial", apurou a Reuters. A companhia comprou quatro cargas de petróleo cru da Venezuela em abril, o equivalente a quase 8% das exportações de petróleo do país.
O proprietário da Iveex Insaat é Miguel Silva, um empresário venezuelano que é diretor da Câmara de Exportação da Venezuela, com sede em Caracas, e já atuou em um ministério do regime de Maduro.
As fontes da PDVSA, que não foram identificadas pela reportagem, disseram que a empresa turca concordou em entregar produtos refinados para a Venezuela em troca de receber o petróleo cru. As refinarias venezuelanas têm sofrido com falta de manutenção, que causa severa escassez de combustível no país.
As negociações com a empresa turca ilustram os crescentes vínculos comerciais entre Venezuela e Turquia, país que apoia Maduro, ao lado de Rússia, China e Cuba. A Turquia é um dos principais compradores de ouro venezuelano.
Navios disfarçados levam petróleo para Cuba
As sanções do governo americano também impedem o envio de petróleo da Venezuela para Cuba, países aliados desde a chegada de Hugo Chávez ao poder. Para contornar o impedimento e entregar o petróleo a Cuba, navios petroleiros têm mudado seus nomes e até desligado os seus transponders para evitar que sejam detectados em suas rotas em alto mar, afirmou a Bloomberg em matéria publicada em 8 de julho.
O navio Ocean Elegance, que entregou petróleo venezuelano para Cuba nos últimos três anos, mudou de nome para Océano após sanção aplicada em maio. A embarcação S-Trotter, que também está na lista de sanções, passou a ser chamado de Tropic Sea. O Nedas, sancionado em abril, fez uma entrega de forma incógnita a Cuba depois de ter apagado o seu sistema de rastreio por satélite e mudou o seu nome para Esperanza. Esse tanque levou 2 milhões de barris de petróleo cru para Cuba neste ano.
Cuba importa petróleo venezuelano para suas refinarias e óleo combustível para ser usado em usinas de energia para gerar eletricidade.
O economista venezuelano José Toro Hardy afirmou que, mesmo em meio à crise na estatal PDVSA, Maduro estaria enviando 60 mil barris de petróleo diariamente a Cuba, segundo a imprensa venezuelana. "Este governo, para poder se manter, requer apoio em matéria de inteligência que provavelmente vem por meio de Cuba, e por isso fazem o sacrifício", disse o economista em uma entrevista.
Os Estados Unidos continuam a alvejar os envios entre os dois países e pretendem fechar as brechas nas sanções, um funcionário de alto escalão do governo disse à Bloomberg. O objetivo é cortar cirurgicamente e metodicamente os fundos para o regime de Nicolás Maduro.
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