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Opinião

Como Alexei Navalny revolucionou a forma de fazer oposição na Rússia

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Alexei Navalny participa de uma manifestação em Moscou, em 29 de fevereiro de 2020 (Foto: Kirill KUDRYAVTSEV/AFP)

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Os vídeos angustiantes de Alexei Navalny, um blogueiro que capturou a frustração popular na Rússia, gritando de agonia antes de ser removido inconsciente de um avião para uma ambulância que o esperava, demonstram a crescente confiança do Kremlin na coerção para controlar a dissidência.

Este ataque não é o primeiro que Navalny sofre. Em 2017, ele teve sua visão comprometida depois que um agressor jogou antibiótico em seu rosto. Em 2019, enquanto estava preso por organizar protestos, ele suspeitou que havia sido envenenado. Navalny também foi condenado erroneamente três vezes por transgressão financeira. Embora tenha sido libertado para evitar que se tornasse um mártir nacional, seu irmão e co-réu no processo, Oleg, cumpriu três anos e meio de prisão.

Durante todo esse período, o Kremlin trabalhou para desacreditar Navalny sem torná-lo um mártir. Meu livro "Eleições, protestos e estabilidade do regime autoritário: Rússia 2008-2020", revela a natureza da ameaça de Navalny ao Kremlin – forte o suficiente para tornar credíveis as alegações de que ele foi envenenado.

Foco na corrupção

Quando entrou no cenário nacional em 2010, Navalny trouxe um novo tipo de oposição à política russa. Ele se mostra em sintonia com as preocupações populares e é capaz de encontrar um terreno comum entre ativistas nacionalistas e liberais. Ele pede a remoção do presidente Vladimir Putin por meio de eleições, enquanto articula uma nova visão para a Rússia.

Contudo a importância de Navalny não está atrelada à popularidade dele. As prisões e as campanhas de desinformação por parte do Kremlin levantaram suspeitas suficientes entre os eleitores, tanto que as pesquisas mostram que ele não ganharia uma eleição nacional, mesmo no caso improvável de uma batalha justa. Em vez disso, o desafio que Navalny representa ao regime de Putin repousa em suas ideias inovadoras e estratégias de organização que o tornaram uma força na política russa.

Ele começou como advogado, desafiando grandes empresas de energia russas ao comprar suas ações e, assim, ganhando o direito de participar das assembleias de acionistas. Ele usou seu acesso para desafiar a liderança corporativa e liberar documentos para demonstrar condutas ilegais. Estabeleceu a Fundação Anticorrupção – agora rotulada de "agente estrangeiro" pelo Kremlin – que coletou relatórios dos cidadãos sobre práticas corruptas. Seu projeto RosYama, que significa “buraco russo”, permite que os cidadãos relatem buracos nas estradas russas – um problema crônico e generalizado no país – e rastreiem a resposta do governo pela internet.

Navalny ampliou sua luta anticorrupção em 2011, quando rotulou o partido político de Putin, Rússia Unida, de “Partido de Trapaceiros e Ladrões”. Quando esses esforços contribuíram para o protesto em massa contra a fraude eleitoral, Navalny estava na vanguarda. Dirigindo-se a uma multidão sem precedentes em 2011, ele disse: “Vejo pessoas suficientes aqui para tomar o Kremlin e [a Casa do Governo] agora, mas somos pessoas pacíficas e não faremos isso ainda”.

Ele se juntou ao Conselho de Coordenação do movimento e forjou laços entre a diversa oposição com o objetivo de reformar o putinismo. Seu uso astuto das redes sociais deu a milhares de russos - aos mais velhos e especialmente aos jovens - novas percepções e maneiras de protestar contra seu governo.

Novo modelo de oposição

Navalny valeu-se dos recursos desses protestos – ativistas, temas, estratégias de arrecadação de fundos pela internet e novas coalizões – para construir uma estratégia de oposição que conectasse as eleições a uma variedade de formas de protesto. Ele reuniu uma equipe de jovens ativistas que desafiam o regime em todas as etapas do processo eleitoral, da formação partidária ao registro de candidatos e contagem de votos.

Os voluntários fazem campanha de porta em porta ou acompanham os candidatos para encontrar os eleitores em seus deslocamentos diários. Eles constroem estruturas temporárias, chamadas “cubos”, em ruas movimentadas, onde educam os eleitores sobre política. Os líderes da campanha exortam os ativistas a compartilhar mensagens que circulam pela internet com aqueles que não usam a rede.

Novas tecnologias

Ao demonstrar que as eleições russas são pouco mais do que performances da capacidade do Estado de fabricar votos, a equipe Navalny revela a falta de escolha e de confiança no sistema.

No verão de 2019, essa estratégia levou a protestos significativos depois que o regime barrou quase todos os candidatos da oposição nas eleições municipais de Moscou. Quando o governo reprimiu os manifestantes pró-democracia, a equipe de Navalny construiu um jeito em que os eleitores conseguissem identificar, de forma online, qualquer candidato que compartilhasse seus valores e exortou os eleitores a apoiarem esse candidato - mesmo se o candidato pertencesse a um partido que eles detestavam.

Trabalhos recentes dos cientistas políticos Mikhail Turchenko e Grigorii Golosov demonstram que a estratégia de "Votação Inteligente" de Navalny fez uma diferença real nas eleições locais de 2019 na Rússia, ajudando a derrotar quase um terço dos candidatos alinhados a Putin em Moscou.

A equipe de Navalny estava se preparando para fazer a mesma coisa na votação de setembro de 2020. Antes de passar mal no avião, Navalny estava fazendo campanha em nome de uma nova geração de candidatos locais.

Inovação em mídia social

O uso criativo de novas mídias por Navalny não se limita a reparos de buracos e aplicativos de votação. No início de 2006, ele iniciou um blog popular no Live Journal. Quando o Kremlin fechou seu blog em 2012, ele reinventou sua presença nas redes sociais.

A Fundação Anticorrupção produziu um curta-metragem, "Don't Call Him Dimon" (não o chame de Dimon, em tradução livre) que satirizou o ex-presidente e primeiro-ministro Dmitry Medvedev mostrando sua vasta coleção de tênis e pilotando um drone sobre seu lago com patos.Os patos e os tênis tornaram-se símbolos da oposição. A exposição revelou que a honestidade de Medvedev era apenas um mito. (Nota do editor: Dimon, na Rússia, é apelido para Dmitry).

As exposições continuaram no canal de Navalny no YouTube. Suas transmissões investigaram a intervenção russa nas eleições dos Estados Unidos, o fracasso do Kremlin em fornecer alívio à Covid-19 e as eleições russas fraudadas. Essas histórias desafiam a narrativa apresentada na mídia estatal russa, combatendo a campanha sistemática de desinformação do regime.

Inspirando uma nova geração

Os esforços de Navalny capturaram a imaginação de jovens russos e demonstraram os efeitos da mudança geracional. Após "Don Don't Call Him Dimon", dezenas de milhares de jovens foram às ruas, chocando um país que acreditava que a oposição a Putin havia acabado. Meses depois, eles se reuniram para se juntar à organização da campanha presidencial de Navalny.

Navalny conhecia os perigos de ser o rosto da oposição ao regime de Putin. Um dia antes de adoecer, ele brincou com jovens apoiadores que sua morte seria mais prejudicial ao Kremlin do que seu ativismo.

É claro que os russos - que recorreram ao Twitter para incentivá-lo a aguentar firme - não querem testar essa hipótese.

*Regina Smyth é professora de Ciência Política na Universidade de Indiana, escritora e membro do Wilson Center.

© 2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

The Conversation

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