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Corrida presidencial

Como Biden venceu em pelo menos três estados que elegeram Trump em 2016

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, faz seu discurso de vitória em Wilmington, Delaware, 7 de novembro, após ser declarado vencedor da eleição presidencial americana (Foto: Jim WATSON / AFP)

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Os votos da eleição presidencial ainda estão sendo contados nos Estados Unidos, mas uma vitória de Joe Biden já é tida como certa pelas projeções da imprensa e pela campanha do democrata. Até a noite deste domingo (8), as projeções indicam que Biden conseguiu conquistar três estados que nas eleições de 2016 elegeram o republicano Donald Trump: Wisconsin, Michigan e Pensilvânia - vitórias que foram cruciais para que o ex-vice-presidente americano alcançasse a liderança da disputa.

Biden lidera ainda em dois estados que não encerraram a contagem e que tinham votado majoritariamente em Trump quatro anos atrás: Arizona e Geórgia.

No caso do Arizona, alguns veículos de comunicação, como o New York Times, a CNN e a AFP, decidiram esperar a apuração avançar antes de projetar uma vitória no estado. Outros, como a Associated Press e a Fox News, já colocaram Biden como vencedor no Arizona desde a manhã da quarta-feira, por considerar que os votos que ainda serão contabilizados não serão suficientes para mudar o cenário, já que são de grupos com maior tendência democrata.

O Arizona tem histórico de preferência republicana - o estado não elege um presidente democrata desde 1996 - mas algumas mudanças demográficas tornaram o estado mais favorável aos democratas: o aumento da população de origem latino-americana e a chegada de novos moradores que fogem dos custos de vida mais altos na vizinha Califórnia, avaliou a AP.

Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, estados do Cinturão da Ferrugem, compõem o chamado "muro azul" - estados que tradicionalmente votam no Partido Democrata, mas que ajudaram a eleger Trump na última eleição presidencial americana.

Nas eleições deste ano, Trump chegou a ter a liderança nesses estados no início da apuração, mas quando os votos enviados pelos correios de grandes centros urbanos, como Milwaukee, Detroit e Filadélfia, começaram a ser contados, Biden tomou a dianteira. A preferência pelos votos por correspondência foi desproporcionalmente maior entre os democratas, e como esses votos levam mais tempo para serem processados, os votos dos democratas começaram a aparecer em maior número no final da apuração, mudando o cenário em vários estados.

Estima-se que Biden tenha conseguido motivar uma maior participação dos grupos demográficos que tradicionalmente o apoiam nesses estados, mas pesquisas de boca-de-urna mostram que ele também conseguiu parte dos votos de grupos que apoiaram Trump na eleição anterior.

Wisconsin

Quatro anos atrás, Trump foi o primeiro republicano a vencer a disputa presidencial no Wisconsin desde 1984, derrotando Hillary Clinton por cerca de 23 mil votos. Neste ano, Biden tomou o estado de volta para os democratas.

O Wisconsin concluiu a apuração da votação na quarta-feira (4), dando vitória a Biden, que teve cerca de 20.500 votos de vantagem (0,6% do total) e garantiu os dez delegados do estado.

O estado permite pedidos de recontagem de votos quando a diferença entre primeiro e segundo colocados é menor do que 1% - e a campanha de Trump anunciou logo após a divulgação dos resultados que fará exatamente isso.

O Wisconsin enfrentou problemas em 2020 que foram comuns a vários outros estados americanos. Kenosha, quarta maior cidade do estado, foi cenário de tumultos e grandes protestos contra violência policial e racismo após a morte de Jacob Blake pela polícia. O estado também enfrenta agora um rápido aumento dos contágios do novo coronavírus.

Essas questões podem ter pesado na decisão dos eleitores do estado. Segundo pesquisas de boca-de-urna feitas pelo Washington Post no Wisconsin, os grupos que votaram em maior peso no candidato Joe Biden incluem negros (85% dos entrevistados desse grupo disseram ter votado no democrata) e pessoas que acreditam que os temas principais para essa eleição são a desigualdade racial (84%) e a pandemia de coronavírus (77%).

Michigan

Biden alcançou a vitória no Michigan com cerca de 147 mil votos a mais do que Trump (2,6 pontos percentuais) levando os 16 votos do estado no Colégio Eleitoral.

O Michigan escolheu presidentes democratas por quase 25 anos, até 2016, quando Trump venceu no estado com a sua menor margem, de pouco mais de 10 mil votos, ou 0,2%.

"Conseguimos contabilizar os 5,1 milhões de votos e Joe Biden terminou o dia com cerca de 13 vezes a margem obtida por Donald Trump quatro anos atrás", disse a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, à CNN.

Trump perdeu apoio de dois grupos que o ajudaram a vencer no Michigan em 2016, mas que decidiram apoiar Biden neste ano: pessoas mais velhas e brancos com diploma de graduação, segundo pesquisas da NBC.

Entre os eleitores do Michigan com mais de 65 anos, 54% optaram por Biden, enquanto 46% escolheram Trump, segundo pesquisa do Washington Post. Entre os brancos com diploma de graduação, Biden teve oito pontos de vantagem em relação a Trump.

Biden também parece ter conseguido motivar uma maior participação na votação da comunidade negra, grupo do qual tem forte apoio.

Analistas dizem que a derrota de Hillary Clinton em 2016 foi causada em grande parte porque ela não conseguiu mobilizar os eleitores negros, especialmente nos estados do Meio-Oeste. Em 2020, os democratas concentraram esforços de campanha em comunidades negras da região. Kamala Harris, candidata à vice, esteve no dia da eleição em Detroit, uma cidade em que mais de 80% da população é negra. O comparecimento desse grupo de eleitores na cidade parece ter sido maior do que o da eleição anterior, segundo a NBC; e isso pode ter dado a Biden resultados melhores do que os de Clinton em 2016.

Ainda segundo as pesquisas de boca-de-urna do Washington Post, os eleitores do Michigan que consideram a pandemia de coronavírus, desigualdade racial e políticas de saúde as questões principais dessa eleição, além de negros e latinos, tiveram preferência fortemente maior pelo candidato democrata.

Pensilvânia

O resultado parcial da votação na Pensilvânia definiu a vitória de Biden no sábado (8). Com 98% das cédulas contadas no estado considerado campo de batalha nessas eleições, Biden tem neste domingo uma vantagem de 43 mil votos sobre Trump, e leva assim os vinte delegados do estado.

As maiores margens de Biden na Pensilvânia foram nos centros urbanos mais populosos, incluindo a Filadélfia e seus subúrbios, e o Condado de Allegheny, onde fica Pittsburgh.

Quatro anos atrás, Trump teve uma vitória por margem estreita na Pensilvânia, tornando-se o primeiro republicano a vencer uma disputa presidencial no estado desde 1988. O estado é dividido entre os seus centros urbanos e suburbanos com fortes tendências democratas e suas cidades rurais leais aos republicanos.

Trump chegou a ter uma vantagem de 675 mil votos no início da apuração no estado e se declarou prematuramente o vencedor da disputa. Com o avanço da contagem dos votos pelo correio de Filadélfia e de Allegheny, que foram processados depois, a diferença entre os dois candidatos diminuía cada vez mais.

Biden nasceu em Scranton, Pensilvânia, e costumava dizer que era o "terceiro senador" do estado durante as décadas que atuou como senado pela vizinha Delaware.

No Condado da Filadélfia, Biden atraiu forte apoio em áreas em que a população é em sua maioria negra, e conseguiu motivar a participação desse eleitorado - tradicionais apoiadores dos democratas - em números suficientes para superar a vantagem que Trump tem entre os eleitores brancos de áreas rurais do estado, segundo o New York Times.

Ainda segundo o NYT, embora o condado da Filadélfia, que é uma fortaleza democrata, tenha votado majoritariamente em Biden, Trump ganhou 4 pontos percentuais no local em comparação a 2016. O desempenho melhor de Trump nessa região pode ter sido resultado de uma movimentação à direita da população branca e também de mudanças em seu favor em bairros com maior população hispânica.

Mesmo assim, Biden se saiu melhor ao motivar os eleitores do estado do que Hillary Clinton em 2016, fator determinante para que chegasse à presidência dos Estados Unidos.

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