Em vídeo, o guerrilheiro das Farc Iván Márquez aparece com armamento pesado. Grupos armados têm aumentado a presença na Venezuela| Foto: Reprodução
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O conflito armado entre guerrilhas originárias da Colômbia e forças do poder na Venezuela transformou o estado venezuelano de Apure, na fronteira entre os dois países, em um "cenário de guerra", denuncia a ONG Fundaredes, que monitora violações aos direitos humanos na região fronteiriça.

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Um relatório da ONG publicado nesta semana conclui que "compromissos políticos das mais altas esferas do poder" na Venezuela, para converter as guerrilhas dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), do Exército de Libertação Nacional (ELN, guerrilha colombiana de inspiração comunista) e outros grupos irregulares no "braço armado da revolução bolivariana e na principal força de choque ante uma hipotética intervenção da coalizão internacional", converteram os territórios fronteiriços em "cenários de uma guerra de poder e dinheiro".

A instabilidade causada pelo conflito representa uma ameaça aos países da região, avalia o almirante Craig Faller, do Comando Sul dos Estados Unidos, que disse estar monitorando a situação na Venezuela. "O que está acontecendo dentro da Venezuela é essencialmente um Estado sem lei, com o ELN e as Farc ganhando território e trabalhando diretamente com o regime de Nicolás Maduro para o seu próprio ganho e o sofrimento do seu povo", disse Faller nesta semana em entrevista ao Voice of America, dos EUA.

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A região de fronteira é o cenário de disputas pelo controle de territórios ou do narcotráfico, denunciam ONGs e os moradores locais, muitos dos quais tiveram que deixar suas casas para lugares mais seguros. Segundo a Fundaredes, os enfrentamentos começaram em 21 de março, com a operação "Escudo Bolivariano", da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) com ações contra alguns dos grupos armados de origem colombiana em Apure, especificamente uma facção chamada Frente Décimo das Farc, comandada por Gentil Duarte.

Ao mesmo tempo, essas ações estariam protegendo o grupo dissidente das Farc Segunda Marquetalia, segundo a ONG.

O Segunda Marquetalia é liderado por Iván Márquez e Jesús Santrich, que participaram das negociações de paz entre as Farc e o governo colombiano, mas passaram a liderar facções dissidentes que voltaram a se armar em 2019 e se refugiaram na Venezuela. Santrich, que era uma das pessoas mais procuradas da Colômbia, foi morto em um confronto na Venezuela em 18 de maio. Outros 14 rebeldes foram mortos na operação, que o grupo alega ter sido ordenada pelo presidente colombiano Iván Duque.

A Colômbia acusa o regime de Nicolás Maduro de acobertar esses grupos guerrilheiros e de apoiar Iván Márquez e Santrich. Em um vídeo divulgado pela Segunda Marquetalia em março, Márquez aparece ao lado de outros guerrilheiros exibindo armamento igual ao que a Venezuela comprou recentemente da Rússia, disse o diretor da organização Cries, Andrei Serbin Pont, ao PanAm Post. Para ele, a imagem com fuzis AK-103 e outros reflete os vínculos do grupo com o chavismo.

O relatório da Fundaredes afirma que a guerrilha tem tomado grandes extensões de território na Venezuela. Com a construção de pistas clandestinas e a associação com carteis de tráfico internacional, os criminosos têm feito de Apure um território estratégico que serve de ponte aérea para transporte de drogas, segundo testemunhos e investigações da ONG. Os irregulares também têm o controle de passagens terrestres entre Colômbia e Venezuela.

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O conflito armado deixa graves consequências para a população civil de Apure, que tem sido vítima de “ações militares violentas de alta intensidade”, além de violações como “execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados, batidas ilegais, ameaças, assédio e destruição de moradias perpetradas pela FANB e pelas Forças de Ação Especial (FAES)”.

Além disso, os militares venezuelanos são enviados ao conflito com equipamentos insuficientes para fazer frente aos irregulares, que possuem armamentos pesados, e muitos acabam mortos ou mutilados, relata a organização.

Em 10 de maio, o Frente Décimo das Farc informou que mantém um grupo de oito militares como "prisioneiros de guerra" desde 23 de abril, quando reforços da FANB chegaram à região. As detenções foram confirmadas pelo ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino. Porém, mais de um mês após o sequestro, nenhuma autoridade do regime voltou a falar sobre os reféns.

Há duas semanas, o diretor da Fundaredes, Javier Tarazona, alertou a comunidade internacional que o conflito que começou em Apure se estendeu para os estados venezuelanos de Amazonas e Zulia, entre outros. Os dissidentes das Farc e o ELN pretendem ainda tomar o território do Esequibo, uma área rica em recursos minerais disputada por Venezuela e Guiana em um caso que tramita no Tribunal Internacional de Justiça.

“Isso significa não só o aumento do conflito, e o aumento do número de vítimas como consequência, mas também [serve] como uma justificativa de que um território que está sendo reivindicado por nossa República acabaria sendo tomado neste momento pelos grupos terroristas ELN e Farc”, acrescentou Tarazona.

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Segundo a Fundaredes, os conflitos deixaram até o momento 20 militares mortos e três desaparecidos, em vários ataques, além dos oito militares venezuelanos sequestrados pelo Frente Décimo. Mais de 6 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas na Venezuela em direção a Arauca e Arauquita, na Colômbia.