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O Rio Mississippi em um dia de temperaturas congelantes no dia 31 de janeiro em Minneapolis, no estado americano de Minnesota |  KEREM YUCEL / AFP
O Rio Mississippi em um dia de temperaturas congelantes no dia 31 de janeiro em Minneapolis, no estado americano de Minnesota| Foto:  KEREM YUCEL / AFP

O fato é que eu não sei exatamente o quão frio ficou na minha casa hoje.

O termômetro de mercúrio na nossa varanda só marca até -30 °F (-34 °C). O termômetro digital na estação meteorológica do nosso quintal tem o limite de -40 °F (-40 °C). Por cerca de duas horas na quarta-feira (30), este termômetro registrou -40,0 °F, mesmo quando a temperatura real do ar caiu para baixo desse nível até profundidades desconhecidas.

O que eu sei, no entanto, é que, além de um certo ponto, a única coisa que você sente do lado de fora é dor.

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Minha família mudou-se de Baltimore para a área rural de Minnesota em 2016, e nosso primeiro inverno no final daquele ano trouxe minha primeira exposição a temperaturas abaixo de zero (-17 °C). Naquela época, acreditei que todas as temperaturas abaixo de 0 °F são essencialmente as mesmas em termos de como são experimentadas. Dez abaixo de zero (-23 °C) é um frio cruel. Vinte abaixo de zero (-29 °C) também é um frio cruel. Portanto, pela propriedade transitiva, dez abaixo de zero e vinte abaixo de zero são iguais.

Eu agora sei que isso é falso.

Existem, de fato, infinitas variações de frio, dor e sofrimento que uma pessoa pode experimentar na longa e escura escala de 0 a -40 °F e além. Até cerca de vinte graus negativos (-29 °C), as coisas não são tão ruins, honestamente. Você precisa dar uma corridinha no caminho até o seu carro, e você tem alguns segundos para encontrar suas chaves no bolso antes que o frio comece a penetrar em sua pele. Você tem tipo um período de tolerância térmica entre o momento em que sua pele é exposta ao ar e quando o frio começa a pegar.

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Quando está acima de -20 °F (-29° C), não é incomum ver os habitantes de Minnesota por aí sem chapéu ou luvas, ou mesmo usando shorts. Eu costumava pensar que eles eram insanos, mas tendo vivido aqui por vários invernos, agora entendo que, se você precisar apenas ir rapidinho até a caixa de correio ou entrar em uma loja, é um exagero passar pelo incômodo de vestir todas as camadas de roupas. Regra de ouro: se a quantidade de tempo que você espera passar ao ar livre for menor do que a quantidade de tempo que levará para colocar seu casaco, chapéu, luvas e cachecol, você pode apenas sair de casa com o que quer que esteja vestindo.

Abaixo de -20 °F (-29 °C), no entanto, este cálculo muda. Nesse caso, o período de tolerância térmica diminui rapidamente e desaparece completamente. Por volta de -30 °F (-34 °C), o frio já não parece mais frio - é apenas dor pura e completa, uma sensação aguda e ardente. Depois de alguns momentos, a ardência dá lugar a uma dor profunda e entorpecente que parece irradiar de seus ossos. Eu nunca fui corajoso e/ou burro o suficiente para testar o que vem depois dessa dor, mas eu suponho que seja algo profundamente desagradável e possivelmente irreversível.

O vento acrescenta uma nova dimensão à experiência do frio. Começando em torno de -20, o vento para de ser percebido como uma sensação tátil e é experimentado basicamente como um tipo de dor mais urgente. A -30 ele é como um ferro quente na sua pele exposta. A -40 ele é um grito ardente.

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No momento, há uma diferença de temperatura de 100 graus Fahrenheit (cerca de 38 °C) entre o ar dentro de nossa casa e o ar externo, o que faz com que algumas coisas estranhas aconteçam. No meio da noite, ouvimos estrondos e estalos que emanam das paredes da casa enquanto os materiais de construção se contraem e se acomodam. Temos uma camada espessa de gelo crescendo no interior de nossas janelas duplas. Às vezes nossas portas se congelam e travam, e quando as abrimos, uma rajada de ar gelado entra e suga toda a umidade para fora da casa, que se transforma em uma névoa ondulante. 

A maioria das casas por aqui é muito bem isolada, então não nos preocupamos muito com tubos internos congelados. No ano passado, no entanto, parte do encanamento de água principal da nossa rua congelou. Durante vários meses, um de nossos vizinhos teve que pegar água da casa de outra pessoa com uma mangueira. A cidade instruiu os outros moradores do quarteirão a manter uma torneira aberta o tempo todo (eles nos creditaram a diferença nas contas de água). 

Depois de quarta-feira a temperatura deverá subir novamente - até quinta-feira estaremos de volta na faixa de um dígito abaixo de zero, o que será um alívio bem-vindo depois de vários dias abaixo de 20 graus negativos. Eu posso até colocar meus shorts para comemorar.

*Christopher Ingraham escreve sobre dados. Ele trabalhou anteriormente na Brookings Institution e no Pew Research Center.

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