O presidente Donald Trump reabriu as portas, na sexta-feira, para a reunião de cúpula com o ditador norte-americano Kim Jong-un. O gesto aconteceu um dia após abortar o encontro, argumentando que havia hostilidade aberta e ameaças nucleares por parte de Pyongyang. Ele disse que é possível que o encontro aconteça dia 12 em Cingapura, como estava originalmente previsto, embora isto pareça improvável.
O otimismo lançou uma nova reviravolta em uma corrida caótica em direção ao que é a ação de política internacional mais importante da presidência de Trump. Apenas 24 horas antes, a Casa Branca tinha tornado público uma carta de Trump a Kim, na qual o presidente americano anunciava o cancelamento da reunião diante da “grande hostilidade” proveniente da Coreia do Norte. O americano disse que o país asiático tinha perdido uma grande oportunidade para construir uma paz duradoura.
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Um funcionário de alto escalão disse, na quinta, que, neste mês, a Coreia do Norte convocara funcionários norte-americanos para uma reunião de planejamento neste mês e se recusara a finalizar questões logísticas relacionadas à reunião. Já não havia tempo suficiente para que a cúpula acontecesse em 12 de junho, mesmo se a Coreia do Norte mudasse subitamente de rumo.
Este cálculo aparentemente mudou na sexta-feira, com os comentários otimistas de Trump e o anúncio de que uma equipe de logística ainda poderia viajar para Cingapura neste domingo, como fora planejado originalmente. “Há poucas horas para tomar uma decisão”, disse, no mesmo dia, a secretária de imprensa da Casa Branca. Sarah Huckabee Sanders. “Se for para acontecer no dia 12, temos de ter pressa.”
Acordo de desnuclearização
Funcionários do governo Trump disseram que a cúpula poderia ser salva se a Coreia do Norte oferecer um acordo que preveja um rápido processo de desnuclearização, uma garantia que eles se abstiveram de fazer nos últimos dias.
“Não recebemos os sinais corretos previamente. Assim, com sorte, isto mudará à medida em que avancemos nas negociações”, disse Robert Palladino, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. “É importante que a Coreia do Norte se comprometa com rápida desnuclearização da Península Coreana. Quando estiver preparada para agir de boa vontade, estaremos prontos.”
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Harry Kazianis, um especialista em assuntos asiáticos do Center for the National Interest, disse que funcionários do governo americano se sentiam frustrados nos últimos dias por declarações vagas sobre a desnuclearização que ofereciam poucas garantias. “Eles questionavam os norte-americanos: vocês estão falando seriamente sobre a desnuclearização ou não?”, disse ele.
A súbita decisão de Trump era, parcialmente, uma resposta à preocupação de que a Coreia do Norte poderia abandonar, por primeiro, o encontro, disseram funcionários do governo americano. Isto cumpria o compromisso do presidente americano em afastar-se das conversas caso ele considerasse que eram improdutivas.
Nota conciliatória
Mas, horas depois, a Coreia do Norte respondeu com uma surpreendente nota conciliatória, que incluía um apelo a Trump. “Apreciamos muito ao presidente americano por ter tomado uma decisão audaz, que nenhum outro tomou, e nos esforçamos para um evento tão crucial”, disse Kim Kye Gwan, vice-ministro de Relações Exteriores, em um comunicado divulgado pele mídia estatal.
A resposta moderada de Kim, um negociador nuclear de longa data, foi notável por causa de suas pesadas críticas a John Bolton, assessor de segurança nacional de Trump, e que foi um dos primeiros sinais de problemas no planejamento da reunião de cúpula.
Mas não ficou claro se a Coreia do Norte foi atingida pela decisão de Trump e estava tentando fazer com que o encontro do dia 12 fosse mantido, ou simplesmente tratou de recuperar o equilíbrio diplomático, permanecendo aberta às negociações.
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Analistas estão divididos se a Coreia do Norte fez um cálculo estratégico se as negociações eram o melhor caminho para sair das pesadas sanções econômicas e preservar a dinastia Kim. Poucos acreditam que Kim está disposto a renunciar, por completo, ao seu arsenal de armas nucleares em qualquer acordo com os Estados Unidos ou outras potencias mundiais.
Em um tuite publicado na manhã de sexta, o presidente qualificou o anúncio norte-coreano como produtivo. E também aproveitou para criticar a oposição democrata de se manter contrário aos esforços realizados por sua gestão. O líder da minoria na Câmara dos Deputados, Steny Hoyer, qualificou a carta de Trump a Kim como outra demonstração de que o presidente Trump trata negociações críticas como se fosse mais uma transação imobiliária.
Pouca surpresa
A porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, disse que funcionários da administração Trump não estão surpresos com o curso dos eventos e permanecem esperançosos de que o encontro entre os dois líderes aconteça em algum momento. “Nunca esperávamos que fosse ser fácil. Isto não nos surpreende.”
Pompeo conversou na quinta-feira com o ministro sul-coreano das Relações Exteriores e, segundo Nauert, eles se comprometeram a coordenar esforços para criar condições para o diálogo com a Coreia do Norte e concordaram que isto precisa continuar até que a Coreia do Norte adira à desnuclearização.
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Apesar de Trump não ter mencionado a Coreia do Norte em um discurso feito na sexta-feira aos formandos da Academia Naval, ele destacou sobre a importância de ter um força militar forte para assegurar a paz. “Nós estamos sendo respeitados novamente.”