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Ditador nortecoreano, Kim Jong-un, em pronunciamento transmitido em telão
Ditador nortecoreano, Kim Jong-un, em pronunciamento transmitido em telão| Foto: EFE/EPA/KIMIMASA MAYAMA

"A Coreia do Norte desenvolveu armas nucleares e nunca desistirá delas", disse o ditador do país, Kim Jong-un, em setembro deste ano. A mudança foi “irreversível”, reforçou. Segundo o mandatário norte-coreano, as armas representam a “dignidade, o corpo e o poder absoluto do Estado” e Pyongyang continuará a desenvolvê-las “enquanto existirem armas nucleares na Terra”.

Em 2022, a Coreia do Norte lançou 75 mísseis, sendo um deles o intercontinental que caiu no mar do Japão e teria capacidade para atingir o território americano. A Coreia do Norte anunciou nesta sexta-feira (16) que testou um motor de combustível sólido de "alta propulsão" para um "novo tipo de arma estratégica" na presença de Kim, o que indica um progresso no desenvolvimento de um novo tipo de míssil balístico de alcance intercontinental (ICBM) mais eficiente.

Os riscos para os inimigos ideológicos da ditadura norte-coreana são claros, ainda mais quando se compreende que a ameaça não vem apenas do território comandado por Kim. “Qualquer coisa que a Coreia do Norte fizer envolverá, direta ou indiretamente, a China e a Rússia”, destacou Marcelo Suano, professor de relações internacionais e diretor do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais (CEIRI).

Diante dessa ameaça, a Coreia do Sul e o Japão, ao lado dos Estados Unidos, parecem estar respondendo juntos às ameaças norte-coreanas. Em 26 de outubro de 2022, os vice-ministros das Relações Exteriores do Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos reafirmaram sua cooperação em Tóquio.

“O Japão é o país que recebe mais bases militares dos Estados Unidos. São 120”, apontou Suano. “E a Coreia do Sul está em terceiro lugar, com 73, atrás da Alemanha."

Um alto investimento em militarização acontece no Japão, apesar de, depois da derrota na Segunda Guerra Mundial, o país ter declarado que nunca mais estaria sujeito a um conflito militar.

Apesar de oficialmente possuir apenas Forças de Autodefesa, o Japão é um dos países que mais investem em segurança. Segundo números do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, no ano passado o país gastou US$ 54,1 bilhões na área, o nono maior investimento do mundo.

Esse valor representou 1% do Produto Interno Bruto (PIB) japonês, mas o Partido Liberal Democrata quer que a proporção chegue a 2% até o final da década – patamar que é diretriz para os países da OTAN, a aliança militar do Ocidente, e que transformaria o Japão no terceiro país que mais gasta em defesa no mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China.

Nesta sexta-feira, o Japão anunciou que fará investimentos militares de US$ 320 bilhões nos próximos cinco anos, o maior plano militar do país desde a Segunda Guerra Mundial, o que incluirá a aquisição de mísseis capazes de atingir a China e a Coreia do Norte.

Já a Coreia do Sul está vinculada aos EUA por um tratado de defesa mútua assinado em 1953. As relações passaram, no entanto, por turbulências ligadas a certas pressões americanas sobre a política interna sul-coreana, que levaram à declaração de não iniciativa nuclear em 1991.

O presidente sul-coreano Yoon Seok-youl apoiou vários exercícios militares conjuntos com os americanos. Recentemente, o “Watchful Storm” se tornou o maior exercício aéreo da história do país.

E, se a herança colonial japonesa complica as relações do país com Seul, os dois países têm, mesmo assim, interesses comuns de defesa diante da ameaça norte-coreana.

Permitir o desenvolvimento nuclear norte-coreano 

Os três países fortalecem seu arsenal enquanto incitam a Coreia do Norte a frear seu desenvolvimento no setor, uma prioridade histórica dos americanos.

Em outubro, o Pentágono divulgou sua estratégia nuclear, enfatizando que “não há cenário em que o regime de Kim possa usar armas nucleares e sobreviver”.

"Mais testes [norte-coreanos], é claro, significam que eles estão ajustando a preparação e a construção de seu arsenal. Portanto, estamos acompanhando isso de perto", disse o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica [AEIA], comentando sobre a necessidade de desnuclearização norte-coreana.

Alguns especialistas dizem, no entanto, que a recusa a reconhecer o poder nuclear norte-coreano não contribuiu para a segurança dos países.

“Vamos aceitar: a Coreia do Norte é um estado de armas nucleares, e a Coreia do Norte tem todos os sistemas necessários, incluindo ICBMs (mísseis balísticos intercontinentais) bastante eficientes”, disse Andrei Lankov, professor da Universidade Kookmin em Seul e uma autoridade acadêmica proeminente na Coreia do Norte, à CNN.

Uma saída, segundo Jeffrey Lewis, professor adjunto do James Martin Center for Nonproliferation Studies no Middlebury Institute of International Studies em Monterey, também em entrevista à mídia americana, seria tratar o programa nuclear da Coreia do Norte de forma semelhante ao de Israel e da Índia: com aceitação.

Israel, por exemplo, teria dado início a seu programa nuclear ainda na década de 1960, recusando-se a fazer parte do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, enquanto a Índia abandonou a política de neutralidade com um teste nuclear em 1998. Lewis destacou que, nos dois casos, os EUA sabiam que esses países tinham bombas, “mas o acordo era, se você não falar sobre isso, se você não fizer disso um problema, se você não causar problemas políticos , então não vamos responder. Acho que é o mesmo lugar aonde queremos chegar com a Coreia do Norte”.

“Acho que o passo crucial que [o presidente dos EUA, Joe] Biden precisa dar é deixar claro para si mesmo e para o governo dos EUA que não conseguiremos que a Coreia do Norte se desarme e que isso é fundamentalmente aceitar a Coreia do Norte como uma potência nuclear”, opina o especialista.

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